Imagem: TingTing Huang
Começou comigo.
É sobre mim.
Que termine assim:
sobre mim.
Eu tenho medo.
Medo de que essa minha coragem toda, nova e reciclada, da Bels dos meus 9 anos, que urinava em mochilas, da de 16 que fumava em cigarros e tossia (nunca aprendi a tragar).
Coragem advinda de muito sangue e pouco choro,
muito muito sangue derramado,
muitas pílulas.
Da vontade de nunca mais ser contida com tiras e agulhas.
Eu tenho medo.
Essa coragem de não pentear o cabelo me dá medo. De me vestir como quero. De brigar.
A coragem de não brigar mais (pois, acredite, é preciso coragem pra não tomar partido). Coragem de não arrancar a dor do peito, de deixar sofrer.
Coragem de querer.
De querer mais.
E eu quero mais, caro leitor.
Eu tenho medo de querer.
Tanto medo, tanto tanto medo, você não tem?
Tanto, que tem até medo de admitir em voz alta que quer.
E eu quero.
Eu quero provar que posso.
Eu quero despentear meu cabelo.
E quero ficar em casa.
Quero ter dias ruins, e dias bons, eu sou humana. Eu quero ser humana.
Eu quero música, quero me apaixonar e quero ser correspondida. Eu quero sentir vontade de estar junto.
Eu quero correr riscos. e não quero mais lutar por ninguém. Eu não quero mais ser um soldado.
Eu quero dormir na minha própria cama, quero comer da minha comida, e quero entender como as coisas acontecem.
Eu quero escrever,
E quero me curar de você e da droga que sua presença injeta nas minhas veias.
Eu quero ser corajosa, coração de leão e não de coelho, quero fazer melhor do que isso, todos os dias. Mas não quero ser melhor do que ninguém, quero ser boa pra mim.
Eu não quero salvar vidas, eu quero conhecer coisas.
Eu quero encontrar a religião que as células seguem e conhecer o Deus que vive nas bases nitrogenadas.
Eu quero saber o que há de errado comigo, pra que eu nunca conserte.
Eu quero beijar sua boca na chuva, pra que eu entenda todas as sensações ao mesmo tempo, eu quero encontrar Otto, e me dói um pouco admitir isso porque eu nem sei o que faria. Eu só quero encontrá-lo e mantê-lo sob minhas asas escuras de carne.
Eu quero coragem, eu quero criar coisas, e fazer com que as pessoas sorriam.
Eu quero bolo de chocolate.
E quero não me intimidar.
Eu quero crescer.
E sentir dor, essa dor diária, que me lembra que estou aqui por conta própria, sem remédio, sem rumo, que estou viva.
Eu quero ouvir de novo as vozes dentro de mim.
Eu quero correr.
Eu quero correr pra bem longe.
Em algum lugar onde eu possa correr, sem rumo.
Eu quero correr.
Eu quero dançar.
Eu quero fazer o que meu corpo me implora há meses, eu quero correr.
Disso tudo, eu quero pegar minhas coisas e fugir.
Eu preciso fazer isso, pra querer voltar.
Eu quero tanta coisa.
E tenho medo, um medo imenso, de querer.
Mas não dá pra esperar mais.
Por Otto, por você, por mim, pelas vozes, pelo destino, sua boca, paixão.
Eu preciso correr
Estou atrasada,
sempre atrasada.
E não posso mais esperar.
Eu quero não esperar mais.
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