Imagem: TingTing Huang
Acordo suada, no meio da noite.
Não consigo mais dormir, ele me olha, entende, acaricia meu rosto.
Mas ele não pode fazer nada.
Ninguém pode fazer nada.
O telefone toca no meio da noite e meus pelos se eriçam na nuca.
Tremo.
Ele me abraça forte, empurra o celular, e me diz que não preciso ter medo.
Vai embora, eu fico só.
Tenho medo de sair de casa.
Ele me traz comida, bebida e amor, me diz que lá fora tá lindo, que tem gente que ele quer que eu conheça,
mas eu tô presa,
eu não posso sair
eu tenho medo
e eu tenho mais o que fazer.
Ele me beija,
me abraça,
me despe,
e eu não consigo me desligar do fato de que eu preciso terminar o que comecei.
Eu não posso comer,
não posso dormir,
ou ser
enquanto não terminar.
E eu só quero viver.
Choro, desesperada.
Eu só quero um tempo.
Pra ler, pra dormir, pra beijar meu namorado na boca e passar o dia na casa dele,
eu quero poder parar e respirar.
Tomar um sorvete, jantar com amigos.
Eu quero poder passar uma noite em paz.
Eu quero não me sentir fraca e inútil, eu quero andar de bicicleta no domingo de manhã
e comer algodão doce.
Quero parar.
E ficar parada.
Respirar.
Quero não me afogar em comida sempre que estiver assustada.
Quero meu corpo de volta,
quero minha sanidade,
quero meu tempo,
e minha bravura.
Ele me diz que acaba logo,
daqui a pouco estamos livres.
E eu quero acreditar, mas já faz tanto tempo, que eu nem sei mais como é a vida sem o medo de não conseguir.
Sem a certeza de que estou fracassando.
Eu quero acreditar, amor
Mas eu fecho os olhos pra descansar
o celular toca
e eu sei,
simplesmente sei,
que não vou conseguir dormir.
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