Imagem: TingTing Huang
Acordei, ansiosa.
Vontade de escrever.
Faz tempo que não acontece. Acordar assim, com essa vontade, essa sede de letras. Pegar um livro, levar pra ler, mesmo sabendo que não dá, um calor no corpo, uma taquicardia estranha.
Sou eu.
Eu tô aqui, eu acordei de algum lugar absurdo onde eu estive nos últimos anos, nos últimos 5 anos.
Minhas solas dos pés tocam o chão devagar, acordando tudo na cerâmica gelada.
Eu sonhei com Holden. Estranho, ele tocava minhas costas enquanto eu dormia e era bom, como um daqueles sonhos antigos com sensações, era bom e simples.
Sonhei com minha avó, ela vestia dourado e toda a luz do mundo parecia se concentrar nela.
Quero acreditar que isso é um bom sinal. Que quer dizer que ela está bem. De volta a casa, deusa africana, mãe de Anansi, avó de uma mulher de metal e ossos, meio Hulder, meio aranha.
A vontade foi passando no decorrer do dia, tem tanta coisa pra ver, pra fazer, pra estudar, e tudo vai sufocando aos pouquinhos a vontade de pegar a caneta, emudecendo os sussurros e as risadas dos meus amores, Otto, meu Otto, e eu sinto que desperdicei tanto tempo, tanta vida, tantas vidas.
Mas tá na hora de arrumar o guarda roupa. Botar a roupa pra lavar. Arrumar a mochila, pensar no dia de amanhã. E depois. E depois.
Tem tanta coisa pra fazer, mensagens, desculpas, leituras, mas não tem paixão, não tem eu, não tem aquela vontade imensa de varar a madrugada escrevendo sem parar, sem descansar, só uma palavra seguindo a outra.
E eu repito pra mim mesma, não se deixe ir. Não se esqueça de quem você é. Não deixe que eles te façam esquecer.
Mas eu já me sinto diferente. Já não sujo as mãos de tinta, nem uso carvão pra desenhar.
Quero filhos, não amores platônicos. Quero doar minhas roupas e arrumar um emprego. Quero dormir. Quero ignorar.
Minha cabeça tá cheia demais, tão cheia que não consigo ouvir os uivos, as cordas açoitando o ar, ou o silêncio por trás das palavras de quem se ama.
E eu quero ouvir. Eu quero ouvir,
mas não sei mais como se faz.
Não sei mais como desligar os sons da vida.
E eu quero desligar,
eu quero sair e pisar na grama,
eu quero a solidão de estar com um milhão de pessoas.
Mas hoje não dá.
Amanhã tem aula.
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