Imagem: TingTing Huang
Tive esse sonho: nos beijávamos.
Estranho.
Acordei com um gosto ruim na boca.
Dia longo, cinza.
Dirigi sem prestar atenção à estrada.
E ri.
Trabalhei.
Ouvindo seus problemas, resolvendo, fazendo aquilo que eu faço de melhor.
E eu sou boa.
Uma mulher me abraça,
então duas,
três,
uma mãe me diz que quer voltar pra me ver "quero me consultar com você, pode ser daqui a 6 meses".
6 meses.
Ela vai esperar 6 meses por mim.
E eu nem sou nada.
Uau.
Eu deveria estar orgulhosa,
exultante.
Mas eu não sinto nada.
Eu sou boa.
Desenho no papel. Corações e flores, uma dieta especial para bebês.
Asseguro uma avó assustada de que tá tudo bem.
Ela me aperta a mão e sacode, sacode, obrigada obrigada.
Mas eu não fiz nada.
Sorrio.
E não é mentira, eu não minto.
Ou minto?
Eu sou uma ou duas?
A pessoa que passa a manhã rindo, fazendo piadas, preocupando-se em resolver problemas, corre daqui e de lá, solicita mamografia, "mas não é nenhum incômodo, eu tô aqui pra ajudar a senhora", "estou aqui pra fazer o que for preciso, pode voltar quando quiser".
Eu sou boa.
Foda-se o escroto que me disse que me faltava empatia,
eu sou boa.
Mas isso me sufoca.
Cada acerto, cada receita, cada manhã.
O ruído da minha respiração.
RCR2T BNF sem sopros.
Tudo me sufoca, chego em casa e tiro tudo, todas as peças de roupa, abro as janelas do quarto, a porta.
Mas não consigo respirar.
E, ainda assim, amanhã cedo o celular desperta, 05:40 e 06:00, eu me levanto, escolho uma roupa impecável, prendo os cabelos, lápis e rímel, protetor solar no lugar, calço meus tênis e vou.
Sorrir,
resolver problemas,
me distrair do que quer que seja essa sensação de vazio intensa, sufocante
que é estar viva.
Tudo some,
até eu sumo
dentro das aspas da queixa principal.
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