Imagem: TingTing Huang
Você abre os olhos, debaixo de tanta água, tudo azul-esverdeado, água movendo seus membros e seus cabelos,
e me vê.
Sorrimos, uma pra outra, velhas conhecidas.
Você agita os braços, na direção da luz, nada, batendo os pés bonitos.
Eu estendo a mão, é um instinto, não é pessoal, agarro teu pé e puxo pra baixo. Te puxo de volta pra mim, e dançamos nosso balé milenar.
Agora eu, nado, nado, eu me sinto tão perto da superfície, eu quase posso sentir a luz do sol queimar meu rosto, mas aí sinto a pressão da tua mão me agarrando pelo tornozelo, e você me puxa pra baixo.
Dançamos, enquanto a correnteza empurra e puxa, seus cabelos se movimentam de um jeito tão lindo que eu quero chorar.
Talvez eu esteja chorando, como posso saber, depois de tanto tempo?
Puxo sua mão, puxo seu corpo, e giramos, no meio do nada, onde ninguém pode nos encontrar, ninguém sabe que estamos aqui.
Você me empurra a cabeça, me usa pra tomar impulso e subir, bem alto, se afastar de mim, mas eu não deixo, você precisa ficar, precisa ficar, e eu te agarro pelas pernas enquanto você se debate tentando subir, me chuta o nariz bem forte, mas não dói, eu não sinto dor.
Você para de lutar e afunda, afunda, afunda diante dos meus olhos, com as mãos estendidas, pedindo apoio, os cabelos subindo em desespero, as unhas das mãos tão escuras, mas eu só observo você afundar
E começo a nadar
Com toda a força que ainda tenho, pernas e braços trabalhando juntos, sem parar um segundo, e eu subo, pela primeira vez em muito tempo, eu subo, chego perto da luz, tão perto que meus dedos tocam a superfície, que eu começo a me lembrar como era respirar, respirar fundo,
Quase lá
Aí, como em um filme de terror, sinto teus dedos me puxarem pela ponta dos pés, devagarinho, sem fazer força, porque nem precisa, porque você já sabe:
Não vou lutar,
só afundar.
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