Imagem por bogenfreund
- Quer dar uma volta?, pergunto. Estamos no meu território hoje, Graves. Suas cartas não funcionam aqui.
Enfio as mãos nos bolsos do jeans, mesmo sabendo que ele não vai tocá-las. Acho que, talvez, tenha mais a temer dos meus próprios instintos infantis.
Fico pensando, enquanto caminhamos, que Gideon sabe mesmo fazer uma aparição. Não é um dia comum, é um dia cinza e quente, e todas as pessoas aguardam a chuva com seus lábios secos e seus corações murchos.
Ou, talvez, a cidade esperasse por ele também. Talvez a cidade, como eu, tenha querido de volta esse lar andante e tenha armado esse sombrio cenário.
As pessoas passam por nós e olham pra Gideon. Ele exerce essa atração física e psíquica, ainda.Vestido assim, feito um adulto normal, as pessoas não o temem (conscientemente).
Onde elas veem tênis, eu vejo os coturnos preto-lustrosos se preparando pra partir.
- Como vão as coisas?, ele joga sua carta, 90% educado.
Minha vez: - Quanto tempo você pretende ficar?
- Mais alguns minutos.
Eu tenho mais perguntas, muitas. Mas sei que não vou conseguir respostas agora.
Então, caminhamos.
Na porta de casa, ele aguarda que eu entre. Mas meus pés derreteram, meu cérebro derreteu.
Quando dou por mim, estou puxando a camisa dele "Eu quero saber. Por que você voltou?"
Com cuidado, ele se desvencilha, me olhando nos olhos - e eu quero arrancar aqueles olhos e guardar, quero nunca mais vê-los, quero vê-los toda hora, quero comê-los -. Quando ele se tornou tão racional? O que fizeram com ele? O que ele esteve fazendo?
-Belle, você quer coisas com as quais não consegue lidar. (essa frase é minha, Gideon --')
Eu o observo ir, andando ereto "como homens de verdade andam, Belle", até que sua cabeça - só cabelos, só pelos -, desapareça na esquina.
Fecho a porta e minha cabeça dói violentamente, tentando decidir quem melhor conteria o Gideon Hurricane.
A única certeza que tenho é que não vou dormir, de novo.
Bons sonhos pra quem os tem.