(Olha só pra essa foto. É linda. Incrível. Perfeita.)
Passava das duas. Bêbada, entediada, faminta.
Ele sorriu e seus dentes eram tão grandes, tão grandes, tão grandes e afiados que
Ah, merda.
19x19 Moves (Season Finale)
(Olha só pra essa foto. É linda. Incrível. Perfeita.)
Passava das duas. Bêbada, entediada, faminta.
Ele sorriu e seus dentes eram tão grandes, tão grandes, tão grandes e afiados que
Ah, merda.
19x18 Truth or dare
Eu não sou quem você pensa que sou, disso você já sabe.
Tem coisas em mim, Berenice, que não são como você pensa que são.
Dos dedos dos pés à raiz dos fios de cabelo, sou outra pessoa.
Sou real e penso e sinto diferente do que você está acostumada.
Eu tenho segredos, Berenice, menores do que os que você já sabe que tenho, mas vários.
Eu deveria te contar a verdade sobre os meus dias e o espelho, mas é tarde.
Não posso correr o risco de te afastar ainda mais de mim.
19x17 The Scott Theorem
(Speedman)
No princípio, eram os ossos. Depois, cabelos e olhos. Ele me encontrou quando eu vagava por aí ao som de "Falling" e "Birds", rindo sozinha, tão pequena, tão triste e suja.
"Vem comigo", ele disse, sem dizer. E eu fui.
E eu o seguiria até o fim do mundo não fossem os espelhos, sempre me mostrando quão diferentes éramos.
Ele azul e eu cinza, ossos e carne, 16 e 22, café e chocolate.
Eu tinha que crescer ainda, muitas vezes mais pra poder olhá-lo nos olhos, pra dizer seu nome em voz alta.
Você foi embora e eu fui embora, não me arrependo. Acho que estou quase lá.
(Foley)
Não se preocupe, não confio em você. Não amo você e nem quero que termine com ela por mim.
Mas preciso de você agora. Preciso acordar de manhã e saber que algo de bom pode acontecer, preciso ter pelo que esperar, preciso fazer sentido.
Não precisa fazer nada, não precisa me corresponder. Só fique aí, onde você está, abra um livro e fique quieto. Só faça perguntas, só sorria às vezes.
Não tenha medo, eu não vou morder, não sinto mais fome. Só me faça sentir viva, por favor.
Early Cuts: Hurricanes
(Funny thing: Eu escrevi esse post pensando em Holden. Mas esse post, quando o leio, não fala de outra pessoa que não seja o Aidan - que vocês ainda vão conhecer, já que eu deixei de atualizar isso aqui e a situação mudou completamente. É sério, vocês entenderão, parece que eu escrevia sobre ele, mesmo antes de me dar conta de que ele existia.)
Não acredito em amor à primeira vista. Não com Otto ainda doendo, não com devaneios de 3 anos queimando nas páginas dos diários. Não sem cheiro, sem toque que explique.
Não sem um funeral digno pro meu amor unilateral passado, sem a devida decepção e sua posterior superação.
Mas "dane-se", você diz, "tudo é tão simples", e vem me quebrando as regras e as pernas e pregando verdades e mostrando seus dentes enormes (viram? Puro Aidan).
Digo que tem que haver algo de ruim nisso tudo, que essas coisas não acontecem fora dos filmes, essa coisa assustadora e implacável que faz as pernas tremerem e o tempo parar, acaba com o apetite e com o sono.
Você não presta, diz meu regulamento (além do fato óbvio de ser meu nêmesis). Mas, "dane-se", eu digo, "tudo é tão simples". E fico querendo te ver todos os dias, todas as horas.
- Não acredito em amor à primeira vista.
- Nem eu - você diz.
Estou perdida.
19x16 Nebraska
Acordei atrasada. (Quantas vezes comecei assim um texto desses?)
Banho, roupas, tênis, maquiagem, cabelo, mochila, chave, porta, degraus, porta, dia cinza, frio, beco, espelho, rua, calçada, frio, mochila pesada, Otto.
(Atravessou a um passo de mim. Acho que poderia tocá-lo se estendesse a mão. Deixou a barba louro-escura crescer. Fones, mochila, camisa nova - azul-escura "lucky blue")
Fui andando, acompanhando seus passos sem querer que ele olhasse pra mim. Não, eu queria olhar pra ele.
Me lembrei de que tinha dito a mim mesma que falaria com ele - "Ei, por onde você andou?" - se o visse de novo.
Não, eu nunca faria isso.
Eu queria só olhar pra ele até que ele sumisse entre as árvores e os prédios de uma quadra vizinha.
Não sei o que isso quer dizer, não faço ideia. Mas só pode ser um bom sinal, um bom presságio.
Talvez haja esperança.
Pra mim, pra nós, pra qualquer coisa.
Early Cuts: Sweet Nothing
Otto sou eu.
Sempre foi. Acordo com as mãos unidas num aperto sólido, balanço os joelhos ao som de músicas.
Otto sou eu.
Suas palavras tocam o céu da minha boca, saem dos meus dedos. Seus pés pisam meu espaço marcado e seu relógio marca a minha hora de sair.
Sacolas de compras, minha mãe, um casal de amigos, uma garota de cabelos vermelhos, o coração barulhento do olhar que me acompanha.
Me causa pesadelos, essa certeza, deixo de dormir, quero vê-lo, quero ter certeza, quero tocá-lo.
Grito, trinco os dentes, me agarro ao Nós Dois, prendo-o com as pernas, "Não me deixe"
Mas ele me empurra, me arranha, me bate, me sangra, me deixa: sai pela porta levando nossos futuros filhos, nossos sonhos, alguns beijos, suas camisetas, escova de dentes.
Me deixa com você, só, despido de tudo aquilo que era nosso, despido de demônios e cicatrizes, de cartas e sacrifícios.
- Agora acabou de verdade, né? - você pergunta.
Respondo com um abraço forte, meu azulão "lucky blue", fecho os olhos e aperto forte, o mais forte que posso.
Abro os olhos.
Estive abraçando a mim mesma.
Otto sou eu.
Sempre foi.
Acho que isso deveria fazer toda a diferença. Mas não sei se faz.
Early Cuts: As lovers go by
Acordo cedo, atrasada, jeans, camisa, all star, óculos escuros, mochila, garrafa de água: Otto.
Persegui-o pelas ruas, mercados, ônibus e prédios. Esperei-o durante as chuvas repentinas e manhãs nubladas. Adoeci, morri e ressuscitei. Nos meus devaneios febris, chamei por ele e ele veio, semisólido, e vigiou meu sono, chamou minhas defesas.
Despertei, um dia, e ele tinha sumido - minha mão afagava minha própria cabeça e nossas mãos unidas não passavam de minhas mãos.
A sombra que, há dias, caçava pela cidade cinza era a minha e a minha invisibilidade, aos seus olhos, era só a imagem no espelho.
Falava pela minha boca, pelos meus dedos, suas dores e desejos circulando pelas minhas veias. Era eu, o tempo todo, me buscando.
7:53, ponto de ônibus, protegida do sol, os joelhos se movendo ao som da música, gosto de café, os olhos bem abertos e a voz pausada.
Depois de 3 anos dormindo e acordando pra Otto: acordei Otto.
Early Cuts: Of fish in general
Me afogava quando o conheci, Azulão - alga, sujeira, olhos de ressaca.
Mas nada, não queria ser salva, gritava "Me deixe".
Era cego e surdo, me salvou.
Então o amei, não tinha nada melhor pra fazer. Amei seus cabelos azuis, seus ruídos desconexos, seu heroísmo insano, seus olhos gigantescos e úmidos, a aura de morte e dor empoleirada em suas costas.
Decidi que ia cuidar de você. Dos seus cabelos, dos seus olhos, das suas dores.
Eu seria forte só pra ser seu esteio.
Cresci. Cresci. Cresci. Cresci.
E você sempre na frente, sempre a tua vida a correr da minha.
Cansei-me, mas cresci. Cresci. Cresci.
Fui crescendo e salvando seus afogados e cuidando dos seus passos e me deixando de lado e ficando sem gosto, perdendo a velocidade até que, um dia, não alcancei mais a sua vida.
Fiquei pra trás, de vez.
19x15 Invincible
Eu me sinto jovem e entediada, como se a vida não fosse mais a luta diária que costumava ser.
Sinto que as coisas perderam seu significado profundo e poético. Nada mais me atrai.
Já não escrevo nem histórias, nem cartas.
Meu coração não bate mais com tanta força, nem sinto as mãos frias e as pernas bambas.
Não tenho sono, nem fico ansiosa.
Só fico parada, enquanto as coisas passam, como se nada pudesse me atingir.
É tão palpável, tão certo, por vezes: Sou invencível, inabalável.
Uma hora dessas, acabo sendo atropelada por um carro.
19x14 O Fator B de impossibilidade
(Por Ulrika)
"O indivíduo B sente atração pelo tipo comum JGL: homens magros, altos, de cabelos e olhos escuros, geralmente com pendores artísticos.
Embora o biotipo seja extremamente comum, ao contrário do que aparenta, a escolha dos sujeitos não é aleatória.
O fator determinante desta escolha é chamado "fator B de impossibilidade". Esse fator condiciona a impossibilidade do relacionamento entre o indivíduo B e os sujeitos JGL.
Essa impossibilidade pode se apresentar de diversas formas: pode ser um relacionamento afetivo, distâncias geográficas, diferenças de idade, etc.
Não deve-se confundir a presença do fator B nos relacionamentos interpessoais do indivíduo B com pendor para situações desafiadoras. Ao contrário, o indivíduo B escolhe sujeitos condicionados com o fator B justamente porque há uma impossibilidade de que esta situação se altere..."
Preciso dizer mais alguma coisa?
19x13 Passenger
Um livro mudou a minha vida. Não sei como, não sei o porquê: mudou tudo.
Era um livro qualquer, não me dizia nada.
Não tinha meu nome, não chegou até mim por meios estranhos, não foi escrito por ninguém que eu conhecesse.
Abri o meu livro favorito - na página de rosto "O destino me trouxe até Henry", escrito de caneta cor de rosa. Na primeira página, uma frase do autor do livro que mudou a minha vida.
Digo pra mim mesma que é acaso, coincidência.
Mulher de pouca fé.
19x12 Coffee break
(Devo dizer que vinha acalentando a esperança de que poderia passar os próximos anos sem jamais cruzar com Ingrid)
Não é que eu tenha medo de Ingrid - medo de quê?-, é que não estou preparada pra ela, pras suas tempestades interiores que destroem tudo sem aviso prévio. Não quero mais ver sangue sendo comandado a sair, não quero mais correr por aí pedindo ajuda. Cansei dos cortes e das dores e de cuidar. De ratos e sapos e pedras.
Então eu abracei o destino trágico de nossa amizade e o aceitei de bom grado.
E acreditei que nunca mais teríamos que nos ver.
Que ingênua eu sou.
19x11 Move
Palavras e seus vários significados, sua profusão de espaços vazios.
Move.
Eu devo me arriscar ou você é quem deve sair?
Move.
Me deu vontade de te tocar. Ando experimentando, de novo, aquela fome de toque, de diálogo.
Tenho vontade de mais diálogos entrecortados, de horas mais longas e de sentir o coração bater tão depressa como se fosse estourar ou alargar meus ossos de uma vez só.
Move.
Acho melhor você sair.
Vá embora enquanto há tempo.
Move.
19x10 Precisamos falar sobre o Kevin
- Ezra, como é que chegamos até aqui?Quem é que te fez tão parecido com um menino que eu conhecia, muito tempo atrás?
Ás vezes, fico pensando nessa passagem inexorável do tempo, não em suas consequências - elas não são importantes ainda - mas na passagem em si, nesse rito de iniciação permanente.
Todos os dias penso que cresci, Ezra. Então tropeço e alguém me levanta, e alguém me empurra e alguém me deixa e eu descubro que não cresci o suficiente.
Eu não sei de nada, Ezra.
Nem as experiências pelas quais passei tiveram valor.
Eu nem me lembro o que é gostar. Nem me lembro como se faz.
Juro que me esqueço como é que se dizem as coisas - mesmo tendo ensaiado as falas repetidas vezes. Sei dizer "oi", ou acho que sei, mas não me lembro de quem era a pessoa que deveria ouvi-lo quando eu enfim o dissesse.
Precisamos falar, Ezra. De como chegamos aqui, de nossa invisibilidade e disso - seja lá o que isso for.
Precisamos falar sobre o Kevin, só mais uma vez, pra lembrar de quando falávamos, de quando tínhamos algo em comum.
19x08 Inside Out
- Isso é veneno, não é a cura pra sua doença.
Mas àquela hora já era difícil escutar algo que não fosse a música alta e o zumbido dos pensamentos profundamente enterrados.
Eu também tinha bebido, também não era dona de mim. A diferença entre nós é que eu nunca fui dona de mim, estava habituada.
Não quis gritar, me declarar, beijar, chorar, cantar, tocar. Quis que pensassem que eu queria, era o melhor a fazer.
Feito isso, pude observar o avesso das pessoas.
Bile jorrando aos borbotões, o que é que corre nas veias, o que tem por trás dos olhos, o que manda fazer o cérebro. Hormônios escorreram da boca, pelas pernas, pelos olhos.
As pessoas derretiam enquanto eu olhava e se solidificavam aos poucos.
Alguém conectava pequenos eletrodos de lembranças, buscando um choque e o esquecimento.
Um ou outro encontrou a cura pro medo aquela noite - ou achou que encontrou.
Houve quem dissesse "desculpe-me" e "não me julgue depois". E quem sou eu? Quem sou eu pra dizer, questionar seus motivos?
- Não se preocupe, ninguém vai se lembrar disso amanhã. Mesmo eu farei questão de esquecer.
19x07 Chaos
Gosto de 4 coisas em Holden: sua voz, seu silêncio, seu pescoço, seu cérebro.
Mais nada, não me dou esse direito. Não quero gostar de mais nada, nem de suas orelhas, suas mãos, seus dentes.
Não admito que meu estômago se revire ao som da sua voz.
Não permito que minha mente vague por lembranças inventadas de nós dois.
Não quero que tenha curiosidade sobre mim, eu não terei sobre você.
Não quero saber quem são seus pais, de que músicas gosta, quais são seus autores favoritos, o que passa pela sua cabeça às vezes.
Não terei esperança alguma com relação a ele e não falarei com ele sobre nada que não lhe diga respeito.
É melhor assim.
Early Cuts: O outro
(Texto originalmente escrito para a 17ª temporada)
Estranho dizer que, quando sóbria, quando sã, nunca notei a diferença entre um e outro.
Foi num delírio febril que entendi - e entender não é aceitar - que havia um abismo de diferença entre os dois, a começar pelo nome.
19x06 Os desvios
O que se há de fazer quando se encontra numa encruzilhada?
Alguém diz que devo seguir pelo caminho estreito, segurando uma barra de ferro, mas não sei se posso andar vendada.
Poderia, então, seguir a estrada de tijolos amarelos onde, no fim, algum charlatão me dirá como voltar pra casa - onde quer que seja.
Mas a estrada que eu quero seguir, a que faz meu coração bater mais forte, é aquela onde não devo ir.
É o lugar que me chama, que me diz: "esqueça os filhos e as pessoas e amores e letras, eu vou te dar o que você precisa". E eu anseio por este caminho, minha boca seca e meu estômago reclama por ele como se fosse comida, como quando se ama.
Mas não é tão simples, nada é.
Só tenho certeza de que, pra trás, não posso voltar. Sigo o caminho estreito, por enquanto - ou tento.
Uma hora, acabam-se os desvios.
Uma hora me desvio de vez.
Early Cuts: Solitude
Aprendi a apreciar a beleza desses momentos preciosos e raros de solidão.
Gosto da minha própria companhia silenciosa, agora, por mais que a mente insista em continuar seu monólogo infindável.
Às vezes é bom simplesmente ficar só, embora, é claro, isso não tire o calor e a beleza das tardes de ócio com os amigos queridos ou elimine os telefonemas chorosos à minha mãe, pedindo arrego da maturidade, da "adultescência".
Não existe medo, nem dor e nem tempo enquanto preparo um mingau e abro, escancaro as cortinas e velo pelos meus queridos vizinhos sem que saibam.
Nessas horas, não sinto vontade de dizer "eu te amo", não sinto vontade de dizer nada e meus ouvidos intranquilos agradecem, enfim, pela chance de ouvir a chuva, o ruído da colher raspando a panela e do grafite riscando o papel.
Fico bem quieta, mas não durmo. Deixo que meus sentidos reverenciem o momento, sem euforia.
Não me preocupo com a ordem, com o futuro, com as migalhas de biscoito e os pernilongos.
Sinto que sou e estou ao mesmo tempo e nem quero pensar no que isso quer dizer.
Só quero pensar que nunca, em três anos, tinha reparado: meu piso é um tabuleiro de xadrez.
Gosto da minha própria companhia silenciosa, agora, por mais que a mente insista em continuar seu monólogo infindável.
Às vezes é bom simplesmente ficar só, embora, é claro, isso não tire o calor e a beleza das tardes de ócio com os amigos queridos ou elimine os telefonemas chorosos à minha mãe, pedindo arrego da maturidade, da "adultescência".
Não existe medo, nem dor e nem tempo enquanto preparo um mingau e abro, escancaro as cortinas e velo pelos meus queridos vizinhos sem que saibam.
Nessas horas, não sinto vontade de dizer "eu te amo", não sinto vontade de dizer nada e meus ouvidos intranquilos agradecem, enfim, pela chance de ouvir a chuva, o ruído da colher raspando a panela e do grafite riscando o papel.
Fico bem quieta, mas não durmo. Deixo que meus sentidos reverenciem o momento, sem euforia.
Não me preocupo com a ordem, com o futuro, com as migalhas de biscoito e os pernilongos.
Sinto que sou e estou ao mesmo tempo e nem quero pensar no que isso quer dizer.
Só quero pensar que nunca, em três anos, tinha reparado: meu piso é um tabuleiro de xadrez.
19x05 Daniel na cova dos leões
Tenho medo.
Medo de dizer seu nome em voz alta, de escrevê-lo. Medo de que me liguem a você.
Tenho medo de fazer perguntas demais, de me interessar demais.
Quero saber como você está, ferido ou são. Quero olhar pra você e ouví-lo dizer que está tudo bem, mesmo que seja mentira, obviamente. Quero te escrever uma carta e te falar sobre o Sputnik e perguntar se você também sente isso.
Eu sei o que acontece agora e você também sabe. Você vai desaparecer, gradualmente, até que ninguém mais ligue se você existe ou não. Talvez demore 10 ou 15 anos até lá. Não mais.
Então, eles vão pegar os restos de você e E você também já sabe, não preciso dizer.
Eu não pretendo esquecê-lo.
Mas, talvez, eu esqueça.
Já perdemos gente demais, já fomos longe demais.
Pare de pedir por justiça.
Pare de pedir clemência.
Pare de pedir milagres.
Peça pra ser devorado de uma vez.
Quanto mais cedo, melhor.
19x04 The third horseman
"Terezinha de Jesus de uma queda
Foi-se ao chão
Acodiram três cavalheiros
Todos de chapéu na mão
O primeiro era seu pai
O segundo o seu irmão
O terceiro foi aquele
A quem a Tereza deu a mão"
Os Quatro Cavaleiros são personagens descritos na terceira visão profética do Apóstolo João no livro bíblico de Revelação ou Apocalipse. Os quatro cavaleiros do apocalipse são Peste, Guerra, Fome e Morte.- Corra. - me sussurra o vento.
Correr é perder a noção do tempo-espaço, corro pra não chegar atrasada enquanto corro pra salvar minha vida algum tempo atrás, alguém tranca as portas e fecha as cortinas.
Corro, avanço para os portões como avancei sobre alguém um dia desses, séculos atrás.
Meus pés doem, latejam, dentro dos sapatos, mas eu continuo me movendo rápido pra chegar na sala de aula.
Sento-me no lugar de sempre, tentando não ofegar.
"Estou salva", penso, feliz como uma criança que alcançou o pique.
Aí ele entra na sala e o vento me sussurra, em alerta:
- Corra.
19x03 Teleborian
5 gotas 2x/dia
Para ajudar com a interação social, bebo como se fosse água.
Me dá vontade de sorrir, de falar, de tocar. Me desconcentra das letras e dos pontos pretos na parede, me faz procurar cores e texturas e sons nas pessoas, cantar em voz alta e ficar de bom humor.
Parece placebo, água e álcool só. Tenho medo de que seja, espero que seja.
(Nem sei mais, o remédio é que sabe. Deixe que ele tome o controle, que fale por mim)
19x02 The taste of what you pay for
Gosto de quê?
Quem liga se eu pago ou como pago?
De quem é a conta?
É tão boa quanto qualquer outra?
Acho que nem é isso.
As perguntas que eu acho que ouço não são essas.
E, por mim, tudo bem. Mas, sabe o que dizem, "o inferno são os outros".
Early Cuts: How Stuff Works - My Brain
(Escrito há séculos, pra oitava temporada. E muito pertinente, mesmo agora)
Fechei meus olhos tarde da noite, o ruído de um pernilongo sedento invadindo meus ouvidos.
Acordei em um sonho. Um sonho ordinário com a minha família e um pessoal do Big Brother - não revelarei a edição ou o país em que foi exibida, por vergonha.
Um dos participantes do programa era meu namorado. O outro era odioso. E esse, odioso, me beijou.
A coisa realmente estranha nos sonhos é sentir o que você não se lembra de já ter sentido antes. Uma corrente elétrica passou pelo meu corpo, acordando e acelerando minhas moléculas lerdas. Ele não podia sequer tocar minhas mãos e lá vinha aquela sensação de estar em uma montanha russa.
E o outro, a quem eu devia satisfações?
Eu não podia evitar. Finalmente, entendi o significado de "you really wake up the love in me".
Quando acordei, fiquei na cama, esperando me atrasar pra ver Otto. Há meses não o vejo.
Como vou contar pra ele o que sei agora se não consigo encontrá-lo?
19x01 Two birds on a wire
Era uma vez um pai e seu filho que, na verdade, era seu irmão. Eles viviam juntos numa cidade que não era cidade, perto de uma avó que não era avó.
Um dia o pai abriu as asas e já ia voando.
O filho veio gritando "Adeus" com uma tesoura na mão e lhe cortou as asas.
Assim, o filho se tornou pai e o pai se tornou filho.
E é melhor que seja assim, de qualquer maneira.
Assinar:
Postagens (Atom)
