Imagem: TingTing Huang
Então, eu matei alguém. De novo.
Era Julho, e eu não me orgulho disso.
Acalme-se, eu não matei alguém, propriamente dizendo. Mas não matamos pessoas o tempo todo?
Não é o mesmo que matar quando você esquece alguém? Não é o mesmo que desrespeitar a memória de alguém? Não é matar quando se deseja muito a morte de alguém?
Bom, eu estava em um trem que viajava de volta a Dublin, ou em um carro que voltava de uma casa onde pensei que não pisaria mais.
Ou talvez, eu estivesse em um trem, sentada ao lado de um estranho que eu talvez tenha amado, que eu talvez ame. E estávamos conspirando a morte de alguém que nem mesmo conhecíamos. Porque os assassinatos mais fáceis são aqueles onde não se conhece a vítima. Sai-se impune. Quem poderia suspeitar de você se você não conhece a vítima, certo?
Então, nos sentamos nesse trem, ou nesse carro, onde quer que estivéssemos e conspiramos.
Nós falamos em línguas diferentes e não nos entendemos. Ao final, cada um tinha uma vítima diferente a quem achava que deveria matar. Nós pensávamos de maneiras diferentes porque éramos estranhos, porque somos estranhos que não são capazes de se entender, que nunca vão entender um ao outro.
Temos pensamentos completamente opostos.
Então, naquele dia, quando decidimos envenenar nossa vítima, afogá-la em sangue, afogá-la antes mesmo que ela pudesse tomar consciência do afogamento e da morte, eu decidi que o mataria, ele decidiu que a mataria.
Apertamos as mãos e nos separamos.
Ele me deu o veneno, eu o envenenei e nós observamos, esperamos, eu rezei, enquanto ele morria, lentamente, sem nunca ter me levantado a voz, sem nunca ter sabido meu nome ou sugado meu sangue.
E eu sinto muito, diariamente. Mas não saí impune, juro que não.
Não sou a mesma.
Nunca mais vou ser.
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