Imagem: TingTing Huang
Aviso: Baseei esse texto numa história antiga que ouvi, numa canção que não era o que parecia. Não se assuste. Não se ofenda, não confunda: Eu sempre fui o Sid.
Observo as coisas e as pessoas caminharem pra longe, correndo na direção contrária à nossa e me pergunto se sabem sobre nós, sobre nossa existência, sobre qualquer coisa. Me pergunto como é possível que possamos existir sem nunca nos cruzarmos de novo.
O motorista do táxi freia, um pouco bruscamente, e eu me agarro no cinto de segurança, cheia de medo.
Você nem parece notar, ocupado que está em roer as unhas e a carne em volta delas.
Estendo a mão pra te impedir de fazer isso, mas você se afasta e rói com mais fúria, como uma criança zangada faria.
Parece até um daqueles filmes em que as pessoas parecem estar em táxis diferentes, mas, quando a câmera se afasta, estão no mesmo carro.
(De repente, me pergunto como seria se eu estivesse te olhando pela janela. De repente, queria não te conhecer.
Eu quero de volta a primeira vez em que nos vimos, o seu sorriso galanteador e o jeito como desviávamos o olhar sempre que um pegava o outro olhando.
Eu quero de volta a primeira vez em que toquei seus lábios e a frieza do seu nariz contra a minha pele. Pra quê? Não sei, mas quero.)
O táxi chega em casa rápido demais. Quando o motorista se vira para entregar seu troco, os olhos dele se dirigem à minha manga rasgada, meus pulsos vermelhos, minha maquiagem borrada.
- Você está bem, moça?
Eu sinto vontade de tocar o rosto dele e agradecer por perguntar, por se importar, mas sinto sua ansiedade de maneira palpável.
Digo que sim, estou bem e sorrio. Ele me olha torto enquanto desço, mas não diz nada, vai embora.
Você pega a chave e tenta, sem sucesso, abrir a porta, suas mãos tremem.
Quando, finalmente, a porta se abre, você entra correndo e, então, para pra me observar trancar a porta. Subimos as escadas, em silêncio. Em casa, nenhum de nós fala, nenhum de nós se atreve a falar, cada um em um canto da sala.
Nós só estamos esperando a deixa, já sabemos o que vai acontecer, já vimos isso antes.
O abraço primeiro, depois os beijos delicados nos pulsos e você dirá "me desculpe, é que você me deixa louco". Vou olhar suas unhas roídas e seu rosto vermelho, "Como sou horrível... A maneira como faço dele um monstro".
Finjo que esqueço, você finge que esquece, fingimos.
E amanhã fica tudo bem.
Amanhã vivemos felizes pra sempre, desde que você não me deixe.
Early Cuts: Skinny Love
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