Imagem: TingTing Huang
Você nunca lerá essa carta, portanto não serei formal, não há necessidade.
Minha boca tem gosto de choro, de sono, de cinza, de sangue: de você, mesmo depois de todos esses anos.
Nas ruas, gritam seu nome, pedem sua cabeça, seu sangue, sua vida. Exigem.
Tento dizer que você é meu. Não consigo.
Me perguntam sobre você, sobre nós e nego tudo três vezes, trilhões de vezes.
Outro dia, uma garota me perguntou se era verdade que você me amava.
Achei graça. Disse que não sabia.
Você me ama? Você já amou alguém?
Gente como você e eu não ama, não é?
Gente estragada não sabe o que é amor, confunde com outras coisas.
Gente como nós só conhece morte e sangue, cinza e vermelho.
Amor não é assim, do jeito como nos ensinaram. Eu queria poder te dizer, mesmo agora, te mostrar, mesmo que eu não saiba direito como se faz, como funciona.
Somos monstros, eu sei. Mas eu precisava ver de perto como é. Eu precisava aprender a ser amada. Mas eu só sei o que você sabe, castigos e surras, sangue e silêncio. Só sei amar guardando segredos e mágoas, construindo defesas e barreiras. Só sei amar matando, dessangrando.
Só sei amar sendo cruel.
E não sei ser amada. Parece impossível, loucura.
E, mesmo assim, não desisto.
Eu erro e erro e erro. Mordo, açoito, rasgo e grito.
Mas não desisto.
Acho que existe uma chance. Pra mim. De ser outra pessoa. De ser uma pessoa.
Eu queria que essa carta chegasse até você. Que você lesse e soubesse que há esperança pra todos nós.
Mas é tarde demais.
Mais dia, menos dia, sangue e morte, a multidão que clama seu nome te devorará vivo, enquanto eu nego seu nome, sua existência, nossa existência.
Eu rezo, Daniel.
Não pela sua alma.
Rezo pra não ser a próxima.
Ou pra que, por milagre, você esteja vivo na cova dos leões, quando a manhã chegar.
Esteja vivo.
25x17 Never be apart (Season Finale)
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