Imagem: TingTingHuang
No meio da noite, acordo, fraca, o rosto úmido de sangue que jorra do nariz.
Eu sangro.
Metal, ossos
Não há lugar para fraqueza.
Estanco o sangramento e vou à luta.
Eu levanto da cama,
eu sorrio,
eu conto piadas e histórias longas,
eu estudo,
volto pra casa
e sangro.
Sangro pelos olhos,
nariz
boca.
Sangro pelas orelhas,
vagina,
e ânus.
O sangue coagula debaixo das minhas unhas,
e suja minha comida,
minha cama,
minhas calças.
Digo a ela,
eu não sou humana,
como posso sangrar tanto?
E ela não sabe a resposta.
Mas eu sei que, de alguma forma,
isso tinha que acontecer.
Eu preciso sangrar.
"Talvez você esteja se tornando humana, B. Ninguém vive só de metal e ossos", diz L.
Talvez eu esteja,
talvez eu esteja melhorando.
Começo a pensar sobre as coisas nas quais não penso.
Eu consigo sentir.
Morte, fracasso, estar no lugar certo, amor cru.
Eu sonho.
Viver dói, e eu sinto.
E sigo em frente, deixando um rastro de sangue no chão.
Dói muito,
e eu não escondo, eu choro por dias a fio.
Porque a dor é pra ser sentida,
não é?
Ela vem de longe, sente o cheiro do meu sangue,
do sangue que não deveria existir,
do sangue que ela não planejou.
E eu digo a ela
que estou triste.
Eu sei o que é estar triste,
e estendo as mãos,
eu sei.
E é nesse momento que ela me corta.
Primeiro as mãos
Depois os braços
Seios
Pescoço
e ela dilacera meu rosto
rasga todo o meu corpo
pra me mostrar que tristeza é fraqueza.
Corta minha língua,
meus sonhos
e meus planos
em pedacinhos pequenos que não consigo juntar.
Ela não me fez pra ser humana
fui criada pra ser robô, metal e ossos
então ela espera, em silêncio, até que a última gota de sangue jorre
toda a vontade,
toda a luta,
toda a vida.
E, mesmo quando tudo sai,
ela continua cortando
e cortando
e cortando
cada conduto
pra se certificar de que não tem volta.
Sussurra nos meus ouvidos as palavras mágicas
e me convence de que
quem eu sou não tem importância
o que eu quero não tem importância
eu sou fraca
e nesse mundo não tem lugar pra fraqueza.
Pega suas malas, desce as escadas
e me deixa pra trás
limpando o chão sujo de sangue
tentando não acreditar
tentando desesperadamente não acreditar,
ao mesmo tempo em que repito pra mim mesma tudo o que ela acabou de dizer,
como se fossem verdades absolutas.
Que é o que são,
certo?
Certo.
35x07 A Freudian Nightmare
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