42x15 Flatliner

Imagem: TingTing Huang

Vazio.

A mãe dela bate em seu rosto com a mão tão fria que parece a chuva forte cortando a noite.

Ela acorda, no silêncio.
É noite.
É sempre noite.
Quando acorda, quando sai, quando volta.

- Eu estou triste, -  ela diz, para o espelho - Eu estou feliz.
Ela está.
Trança os cabelos bem devagar enquanto a lua muda de fases, e ela abre a porta no meio da noite sem saber que dia é.

O telefone toca,
ela sai,
e come,
e beija,
e ama,
tudo tão normal, então ela dorme e acorda no meio da noite.

E a morte chama, mas ela não ouve, ela não pode conversar porque ela está.

Abre um rombo no próprio peito e quase morre sufocada, mas não dói.
E tudo bem,
porque não dói.

- Você ri do que é engraçado?
- O que é engraçado? O que é bom?

Ela morde os lábios, amarra a boca, arranha os dentes uns nos outros, tem algo. Tem algo lá dentro, crescendo, crescendo e morrendo, em desespero,
mas ela respira fundo,
busca uma distração,
mais uma,
e outra,
e outra,
e outra.
Até a sensação passar.

Então, ela dorme, no escuro, sem medo.
E acorda, no escuro,
segura.

Ela está.

Por que não pode ser o suficiente?

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