Imagem: TingTing Huang
Para uma mulher que não conheci.
E silêncio, corta.
Há silêncio no mundo, no lugar onde você estava. Acho que estou gritando, mas sem abrir a boca.
Eu me lembro dos seus cabelos bagunçados pela manhã, uma textura agradável, macia, rude e forte, suas cores.
Passos firmes, fortes, diretos.
Calor.
E amor.
Agora, silêncio.
Alguém me segura, controla meus impulsos de correr até você, e eu só assisto, eu só posso assistir. Eu vim ao mundo observar.
E eu observo o tempo de um lugar que seus olhos não podem ver,
observo enquanto você se enxerga no espelho pela primeira vez.
Eu estou lá no seu primeiro beijo,
e durante a primeira vez em que você faz sexo.
Moça,
moça bonita do laço de fita
Você abre a porta,
você fecha a porta.
Dias e dias, uma vida toda pela frente.
Tem tanta luta ainda, tem tanto chão pra caminhar, e o seu irmão te abraça, desajeitado.
Não chore.
É dia, é noite,
é quando.
Eu quero poder falar, eu quero poder te salvar,
do mundo
da vida,
dos meninos malvados nas ruas.
Mas eu não sei falar, eu só sei olhar enquanto te machucam.
E eles machucam.
Tanto, tanto.
Que, mesmo sabendo que você vai se levantar, eu temo que você não se levante.
Mas você se levanta.
Linda.
Eu caminho atrás do seu rosto, debaixo as luzes neon dessa cidade misteriosa, eu quero te tocar, eu quero que você pare.
Pare.
E você para, em plena rua escura, eu e você, finalmente, nos encontrando, nos conhecendo, e eu só preciso que você volte, volte comigo, entenda o que quero dizer.
Mas você só consegue olhar nos meus olhos e ver
tudo
todas as respostas que ninguém nunca soube,
e elas machucam algo tão profundo que você só consegue fugir.
Rasga suas roupas,
você está pronto para o que há de vir.
Há luz,
e a mãe,
e seu corpo urge e pede por sua volta pra casa,
pede seu retorno ao que você realmente é.
E você foge de mim,
você corre rápido, nu,
você brilha, e o mundo responde suas perguntas com as vozes do concreto e do ar,
seus pulmões gritam,
e você simplesmente sabe.
Desculpe.
Você simplesmente sabe que todos precisam saber, mas você não sabe como ordenar as palavras, porque não são mais palavras, são sons, sons vivos, que se espalham pelo ar em forma de amor.
Eu tento te explicar,
eu tento te segurar,
mas você tem tanto a dizer.
Você entendeu tudo.
Você preencheu o vazio.
E eu quero tocar o seu rosto,
e dizer que te amei sem te conhecer,
e que eu também tive fome de você,
mas não estamos mais sozinhos.
As luzes se acendem,
e eles chegam.
Eles chegam pra te buscar.
Porque eles não podem entender, mas você pode.
E eles sentem medo.
Eu te estendo a mão,
e você me grita o segredo mais profundo do universo,
sem saber que ninguém pode te compreender.
E eu sei o que vão fazer,
porque eles já fizeram antes.
E eu já não posso mais assistir.
Eu não posso assistir seu silêncio, mulher.
Então eu caminho até um dia feliz,
você, tão bonita, e tinha tanto pra ver,
tanto pra dizer.
Eu caminho por cada um dos seus sorrisos.
E me apaixono por cada um deles.
Há silêncio no mundo, no lugar onde você esteve.
Há uma ausência profunda,
medo e dor.
Mas é o seu espaço.
É você, mulher, um grito silencioso ecoando na noite, bravura sob a luz do sol.
E nada vai fazer com que eu me esqueça.
Caminho até um dia de sol,
pra te olhar mais um vez,
só mais uma, morta de medo de esquecer seu rosto.
Mas aí percebo que não importa se eu esquecer seu rosto,
eu não posso esquecer sua luta.
Você vive em mim.
Em milhares de nós.
E, desde então, o silêncio no mundo, no lugar onde você esteve se transformou em um milhão de gritos.
Seja livre.
Seja feliz.
Adeus.
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