44x06 Birthplace

Imagem: TingTing Huang

Acordo.
Mas não sou a mesma.
Não quero me levantar.
Quero dormir, quero fechar as cortinas, cobrir a cabeça.
Quero ficar.
Só hoje, quero ficar.

Mas vou.
Saio da cama, piso no chão gelado, está escuro lá fora.
Eu vou.
Tomo banho quente, derreto,
escovo os dentes.

Visto a roupa,
jeans escuros,
olheiras enormes,
e tênis
que eu possa sujar de sangue.

Por que é que eu me levanto?
Por que dirijo tanto, por que como tão pouco, por que estudo até a cabeça doer?

Acho que entendi.
Amo isso.
Amo tudo isso.

Amo ser isso.
Amo estar aqui.
Amo o homem cujos pulmões guardavam um segredo,
e a mulher que não tinha mais segredos guardados pelo sangue,
cada coração que tem medo de parar.
Amo cada batimento acelerado de bebê,
e gritos de mulher parindo.

E sou boa.
Finalmente, Deus,
sou boa.
Eu enxergo as pessoas.
Eu não sei de tudo, eu não sei de nada,
mas eu sei sobre o momento certo pra tocar minhas mãos nas suas,
e a entonação da minha voz,
e sobre aquele sorriso que só uma mãe pode ter.

Estou exausta.
Não aguento,
não aguento mais fazer força.
Mas eu aguento.
Eu consigo.
Digo a elas, todos os dias,
"Você consegue"
"A pior parte já passou"
"Você vai ficar tão orgulhosa depois"
"Eu estou aqui pra te ajudar".
Estou dizendo pra mim também.

E eu consigo.

No meio de todo esse caos,
tantas batalhas perdidas,
tanto pra ganhar e tanto pra perder:
só preciso fazer força.
Prender a respiração e empurrar, com força, força que nem sei de onde sai.
Mas dá.
É o suficiente, aquele tantinho que serve pra gente chegar lá,
se conhecer,
se reconhecer.

- Não sei se te contaram, mas eu vou contar: vai doer. Vai doer. Não é como nos filmes. Você vai sentir muita dor, vai achar que não tem mais forças, que vai desmaiar a qualquer instante, que não vai conseguir. Mas você consegue. Você consegue fazer qualquer coisa. Preciso que você se lembre disso, ok? Você consegue fazer qualquer coisa.

Preciso que se lembre disso.

Ok?

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