44x22 A jornada da heroína

Imagem: TingTing Huang

Eu tô tentando me lembrar com detalhes, mas é difícil, sabe?
É um livro, capa dura, firme, escura, azul ou verde ou preta, as letras já meio apagadas.
A heroína, ela é normal. Até demais, meio que uma perdedora, no início.
Ela tem um suéter roxo, sabe? E pega vários ônibus. Ela se apaixona a torto e à direito, meio sem noção. Passa a maior parte do tempo sonhando, escrevendo, sonhando, escrevendo. Às vezes, come e estuda.
às vezes até sai de casa.
Então ela é chamada pra uma missão, muita treta, difícil de entrar nesse lugar mágico aí pra onde ela queria ir, não me lembro o nome agora, mas ela queria muito ir, ou talvez a mãe dela quisesse muito que ela fosse, sei lá, mas acabou que ela arrumou as malas e foi, um chamado do destino ou algo assim, algo a ver com números e depois com gente.
E aí ela decide que não queria aquilo de verdade, muito difícil, muito diferente do que ela imaginava. Todo mundo conseguia fazer as coisas, mas ela não passava nem mesmo do lumus, não tô falando de Harry Potter, mas dá pra entender que ela não sabia de nada, só queria mesmo era saber de amor, de plantas e de jogar tarô.
Um dia chega esse cara, com esses olhinhos sábios e uns silêncios profundos que podiam querer dizer tudo ou nada e diz pra ela que quer ouvir o que ela tem pra dizer. E assim, sem entregar nada físico, nenhum livro, feitiço ou espada, ele diz a ela o que ela precisava ouvir: "eu quero ouvir, acho que você tem algo pra dizer". E, querendo ou não, se torna seu mentor.
Ela entra na caverna, se joga do abismo, passa pela porta em chamas ou algo do tipo, não sei não, só sei que ela entra nesse outro mundo e ela se adapta, ela fala, ela pensa, ela começa a usar o que ela sabe, o que ela tem, poderes antigos, pra ganhar poderes novos.
E aí surgem as provas, aliados, inimigos. Aliados que se tornam inimigos. Inimigos que se tornam aliados. Aliados que se tornam irmãos. Ela sobe e desce, aparece e desaparece, ficando mais fraca e mais forte, aproximando-se cada vez mais do fim.
E ele chega. Ela aguenta, ela consegue qualquer coisa, até não conseguir. Luta e esperneia, chora e grita, e não sabe pra onde ir, se era pra ser assim.
Aparentemente era, porque ela vence, ou eu me lembro assim. Vence de um jeito diferente, devagarinho, mas vence, ganha força, amor, leva pra casa um mundo de amor e glória, e guarda numa caixinha debaixo do travesseiro, vai consumindo aos pouquinhos, até o dia de voltar.
Esse dia chega e ela está pronta pra voltar pra casa, malas prontas pra enfrentar o mundo comum, até que seu grande inimigo ressurge, ele tenta destruí-la, mas ela sabe quem se tornou, ela sabe que é forte agora. Ainda tem medo, ainda lhe falta tanto, mas ela sabe que já tem o suficiente. E, novamente, ela vence.
E volta, pra nunca parar de lutar.
A luta só acaba quando a vida termina, e ela quer viver tudo. Ver isso até o final, dessa vez. Ver no que dá.
Entendeu?
Sabe que livro é? Eu não consigo me lembrar direito, sabe? Do que acontece no fim. Você não sabe? É, nem eu.

Acho que vou ter que esperar virar filme.

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