Imagem: TingTing Huang
Os 15 batiam à porta, era noite alta, e eles não tinham a menor intenção de nos deixar sair. Ou entrar, a depender do ponto de vista.
Trabalhávamos pelo mesmo fim, mas nem sei se queríamos a mesma coisa. Ora lutávamos, arranhávamos a porta de ferro, ora nos cansávamos, amaldiçoávamos.
Um dia nos davam esperanças, corríamos à porta, a ouvir em silêncio os passos atrás dela, como se eles fossem a resposta à nossas preces e cartas.
Nunca eram. Ninguém vinha nos salvar da agonia profunda de ficar pra trás, uma agonia estranha que acho que senti por muito tempo na vida.
Aquela dor, revolta e gosto ruim na boca, que só sente quem nunca pode ir pelo caminho mais fácil.
E olha, eu tentei.
E sempre acabei assim, dando cabeçadas em portas.
Mas agora, éramos 15. Dizem por aí que a força está nos números, mas a nossa, eu não sabia onde estava. Só sabia que todos os nossos poderes mágicos combinados não estavam funcionando porque nenhum de nós conseguia abrir a porta.
Talvez não fosse mesmo pra ser,
talvez a gente devesse esperar, parar de insistir,
os dedos machucados, arranhados,
escoriações, hematomas,
e silêncio.
A gente só queria o que todo mundo queria:
crescer.
Mas eles não deixariam se ficássemos em silêncio.
Então, um por um,
gritamos,
alto, tão alto,
que os ouvidos doíam.
Mas gritávamos,
alto, mais alto.
E eles nunca abriam a porta,
até abrirem.
Mas eu já estava tão cansada, irritada,
machucada,
magoada
que a luz, a luz que eu esperei tanto tempo pra ver,
não me fez feliz.
Nada me fez feliz,
a não ser te ver feliz, saindo, indo embora.
Tomei coragem, ódio, raiva,
e saí,
e eu vi o que me esperava lá fora.
Quis voltar correndo,
mas a porta já tinha se fechado.
Eu estava livre.
Ou estava livre antes?
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