Imagem: TingTing Huang
Eu quero me explicar.
Quero contar sobre essa sensação que você causa em mim.
Eu me senti a 7 léguas de você, no mesmo quarto. Olho seu rosto e fico me perguntando, se você é bonito, se você é feliz, se eu te amo.
Perguntas que vem em grupos, milhões de pontos de interrogação que surgem nos meus balões de pensamento quando você entra em uma sala.
Conversamos.
E eu quero saber mais sobre você. Eu quero saber mais sobre mim, através de você.
Eu quero saber sobre nós.
Eu quero saber se existe nós.
Num quadro branco, faço conexões, eu estudo teorias, todas as possibilidades, utilizo os axiomas para entender, talvez.
Concluo que não. Não existe tal coisa chamada "nós".
Existe aqui, existe agora.
Existe o cheiro que você abandona quando caminha de um lugar pro outro. E essa coisa no fim da sua risada.
O jeito como você usa os seus pontos de interrogação.
E esse tom de cera de vela.
A tensão existente no caminho dos seus olhos.
O tácito acordo, essa sensação de arder em chamas, a ferida que abre quando isso tudo reaparece, tudo o que acontece quando você leva tudo embora - e deixa pistas de que já esteve aqui.
Explique isso pra mim, porque eu não consigo entender sozinha, eu preciso das suas peças nesse quebra cabeça.
Eu tô tentando entender e, ao mesmo tempo, eu não quero entender.
Eu quero aceitar.
Eu quero ser honesta, comigo e com o mundo. Mas nem tanto.
Eu perguntei a ele se isso duraria pra sempre.
Fiquei pensando sobre um dia que passamos juntos, milhões de anos atrás, em outra vida.
Eu podia ver o sol nascendo atrás da sua cabeça e
Eu amo você.
De muitas, muitas maneiras.
Mas não dessa.
***
Mais uma vez, feito uma tradição macabra, eu acendo as velas no seu altar e deixo que elas queimem o sacrifício que eu insisto em deixar, como se fosse ainda o meu deus.
Enquanto espero, percebo que você poderia, se quisesse, responder às minhas preces.
Já não há ninguém, mais nenhum devoto. Ninguém sacrifica carneiros, homens, ninguém segura as suas mãos ao atravessar a rua.
E, ainda assim, você não responde.
Você poderia, se quisesse, mas não responde.
Você me deixa sozinha, as velas queimando, uma a uma, até escurecer, até que eu tente, desesperadamente, te amar no escuro.
Espero uma resposta, uma epifania, um toque, mas você não responde nada.
Logo, a resposta é não.
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