Imagem: TingTing Huang
Diga a coisa como ela é.
Leio sobre mim mesma numa página do DSM, sobre nós. Sobre como é crescer sob a sombra protetora e sombria de mulheres-salgueiro.
De criança, somos alimentadas com leite fraco, sangue forte e brasas de fogo, feito abelhas operárias. Os meninos, maná e leite e mel, que jorram da terra.
Somos primogênitas e, portanto, devemos sempre carregar os sacos mais pesados, os maiores baldes, sem parar para descansar.
Todo mês, sob a lua cheia, nos banhamos em sangue e lama e entoamos cânticos sob o olhar atento das estátuas vivas de mulheres que conhecemos ou que vamos conhecer.
A lama entra em nossas narinas e seca, endurece, mas não nos movemos.
Eu não reclamo, eu não choro, eu não posso chorar. Eu só posso aguentar até o fim.
Endureço, por dentro e por fora, presa na lama, sem conseguir falar, sem conseguir gritar. E, sabendo que, se pudesse, não o faria. Não diria nada, não gritaria, jamais pediria ajuda.
É preciso sair sozinha, ou perecer. Sinto dor, sinto coceira, sinto a lama queimar meus olhos e narinas, o corpo todo preso numa forma de mulher que eu ainda não sou.
Sinto que vou morrer aqui, que vou morrer assim, à míngua, como tantas antes de mim. E eu não quero morrer assim.
Eu não quero morrer assim.
Mas não sei como sair, só sei que
Eu não quero morrer assim.
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