Imagem: TingTing Huang
Aceno, feito Sofia, e espero que a imagem no espelho acene de volta.
Sou eu, é o outro?
A mulher no espelho me persegue, me observa.
No escuro, ela está lá, presa? Ela existe quando não existo?
Fora do enquadro, o mundo existe inteiro no espelho que fica no canto do quarto?
Apago as luzes e, mesmo assim, ouço, ou quase ouço ou imagino que ouço a sua respiração, imagino-a embaçando o espelho, o outro lado.
O outro eu, o outro dentro do espelho, Alice, quem é você?
Você é feliz? Que espaço ocupa no universo e o que você deseja? Você tem o que eu desejo? Eu tenho o que você deseja?
Dizem que, quem quebra o espelho, tem 7 anos de azar pela frente.
Se eu quebro, e você desaparece, vira parte de mim? Como atravesso? Eu quero atravessar?
Cutuco seus dedos com os meus, e nos juntamos por um instante, sob a superfície gelada.
Mágica.
Finjo que trocamos de lugar, que existo dentro do seu universo, e respiro.
Pela primeira vez, eu saio do lago de Narciso e eu sou eu.
Tiro a cabeça da água e somem as guelras, eu sou você, e só consigo ser eu se eu for você.
Nós nos olhamos, sob a mesma superfície, enfim. Duas de nós, no mesmo lugar.
E isso não é possível, sabemos.
Não é natural.
Eu sei o que eu faria. Logo, sei o que você vai fazer.
E você não surpreende: empurra a minha cabeça no lago, com força, e segura, enquanto eu me debato, luto e luto pra sair, pra respirar, sem sucesso, até aceitar,
e afundar.
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