Estou sentada no quarto mais alto da torre mais alta da minha cabeça, enquanto Carol limpa minhas sagradas cicatrizes com álcool. É o mês da purificação.
Tento rezar em voz alta, mas as palavras parecem correr e se esconder nos ermos cantos da minha mente suja, atrás dos armários cheios de pó, sob as bancadas escuras de borra de café e óleo.
- Reze pra mim, Carol.
E ela reza enquanto o álcool gelado escorre até chegar ao fim das costas, levando arrepio e dor.
Quero rezar, quero muito, mas tenho medo de que Deus me ouça lamentar um castigo merecido.
Otto me leva até meu carrasco, tocando meus dedos.
Excerto: Desde que me entendo por ser humano, Otto é o único de quem sinto falta. O jeito como suas mãos descruzam casualmente, seus cabelos recém raspados, o ranger de seus coturnos.
Talvez por saber disso, talvez por simples conveniência, ele é sempre quem me segura de encontro às cordas e me impede de cair e suplicar, enquanto Alex rasga minhas costas, de novo e de novo.
Sem nunca dizer que vai ficar tudo bem, que ninguém é tão cruel assim.
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