"Pessoas não mudam", ele disse. Sendo José um dos homens mais inteligentes do mundo, só me resta aceitar.
Ele fica de pé ao meu lado, a única figura que vejo há dias nesse quarto branco.
Recebi um DVD, pelo correio, que me fez fazer considerações importantes sobre quem deveria ser.
Mas José, caminhando pelo quarto, insiste que não mudei e que jamais mudarei.
Ele limpa os oclinhos no paletó e continua resmungando sobre mudanças. Eu cruzo minhas pernas e observo-o, sem ouvir nada do que diz.
Ele tem razão. A vida é um ciclo. Eu posso correr daquela criança mesquinha, mentirosa e irascível que fui mas continuarei encontrando-a e agindo como ela. Menina mimada de irmãos mortos olhos grandes e nome de defunta.
- Não sou mais do que fui, jamais serei mais do que fui. A parte isso, nunca sou a mesma pessoa. Diga-me José, como pode ser?
Minhas pernas vermelhas de cabra destacam-se no quarto coberto de cabelos castanho-invisíveis. José pára de caminhar, limpa os oclinhos novamente e diz, com a voz grave:
- É a eterna contradição humana
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