Imagem: bfelice
Quando bebi, compreendi: a resposta ao mundo era o pós-marxismo, não Gideon.
- Larissa, o marxismo vai salvar nossas almas - eu dizia, mas não conseguia articular. Tilt
O marxismo veio do meu pai. Ele comia marxismo no café, almoço e jantar - com canjica, peixe e laranjas -, eu marxismo barato e doce, que era o que ele podia comprar.
Mas, seis anos atrás, ele entendeu: o marxismo é uma utopia impossível.
Da minha mãe veio a habilidade de ser máquina. Ela ligou os pontos e entendeu que os erros que havia cometido, cometera por ser humana. Assim, me criou máquina.
Herdei do meu pai essa incapacidade de amar uma pessoa só, essa fome de mundo e de gente. Queria mesmo é ser feito minha mãe e só amar uma pessoa de cada vez.
(Não, melhor não. Melhor assim.)
Da minha mãe veio essa fome de ser, essa gula insana, que me faz bater os talheres na mesa da vida, querendo experimentar tudo (ou não). Do meu pai veio a angústia doce de estar, essa dormência no peito, me ensinando a ter paciência.
No colégio, me disseram que eu era mais minha mãe do que meu pai. Eu me alimentei dela, dos seus pensamentos e das batidas do seu coração.
Disseram que a figura paterna é importante na formação do caráter, que somos o que nossos pais fizeram de nós.
Acho que nasci ao contrário. Meu pai me deu a luz, me alimentou com seus pensamentos, canjica, peixe e pós marxismo. Deve ter sido isso, porque minha mãe é que me ensinou a ser homem.
Não é piada, não é pra ser engraçado. É que o mundo não tem tempo pra delicadezas.
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