Imagem: panijulka
A água sussurra depressa, borbulha, entrando por baixo da porta.
Tento me levantar, não posso. Estou cansado, febril. Pego papel e caneta sob o travesseiro, quero que ela saiba. A morte não me assusta mais do que o escuro e a solidão.
A água já me encharca o colchão. Estou paralisado. Pela primeira vez, a fome de morrer é maior do que a de viver. A morte não me assusta, estou chorando de medo da dor. Porque se morre de amor e amor dói tanto que tenho medo.
A água é gelada, mas não tremo de frio, tremo de ansiedade. Quero conhecer Deus. Quero perguntar quem deu a ele o direito de escolher, quero saber se o tempo é uma mulher e o que acontece quando sorri.
Estou lutando. Não é que queira viver, é que só covardes morrem sem lutar. A água borra a carta que tenho escrito com esmero, acabou.
Engulo água e tudo explode em mim até que a vejo. O que engulo são minhas lágrimas - de felicidade, agora. Não preciso mais ter medo, eu sei.
Ela me segura em seus braços e me envolve maternalmente com sua cauda e cabelos.
Estou em casa, enfim
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