11x18 Bed boy

Imagem:  Mataparda 

Cheguei em casa com fome, sangrando feito um antigo romano, tonta de dor, e abri a porta.
Joguei minha parafernália no chão, arranquei os tênis, as meias, as calças, blusas. Fui soltando o cabelo, devagar pra não doer.
Tomei 1 pílula e meia - pra dor não, não mais - com suco de caju, fui pro banho. (Banho, em dias ruins: ficar com a testa encostada na parede, contando os segundos até sentir que estou cozida por dentro)
Saí do banho, vacilei ao pisar no tapete. Rimos - o cacto, o sol e eu: já oscilava.
No quarto, coloquei um moletom, apesar dos trinta e poucos graus.
Recolhi minhas roupas do chão imundo, ia jogá-las no cesto quando o vi.
Enrolado nas minhas cobertas, saído dos meus devaneios mais recentes, parecia tõ parte dali. Ao mesmo tempo, parecia saído da Ilíada, Pátroclo despido.
Tão magro e frágil quando não se pode ver seus olhos sérios e duros.
Ele se move, desajeitado, mastiga saliva e grunhe, meu cavaleiro de armadura roubada.
Pretendia ficar observando-o, quieta, mas me lembrei de amores unilaterais, de Álvares de Azevedo e corri a me deitar na ponta da cama.
Acordei às 20:00, ainda na ponta da cama, como se algo tivesse me impedido de ir para o canto.
Pura e simples presença.

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