Imagem: Santacroce
- Eu não quero me casar, Marcela - Marcela está escovando meu cabelo, cantarolando "Walking on sunshine". Continua.
- Eu não quero me distanciar dos meus sonhos, Ella - Durante o jantar, Ella engole seu peixe e minha frase paira no ar.
- Eu não consigo sozinha, James - Ele sorri e continua a responder seus exercícios.
- Você é muito importante pra mim, Ilsa - Ela não para de falar ao telefone.
- Eu queria que você me curasse - Ele passa a mão no meu cabelo e apalpa meu crânio.
- Eu não me importo com você - mas ela continua soluçando e me contando coisas que eu não quero saber.
- Queria que matar você solucionasse as coisas - Não me viu, continua caminhando.
- Eu odeio quando você me olha dessa maneira - Lariss sorri e organiza os potes de remédios numa caixa.
- Eu sou uma garota - Natalie Portman's shaved head toca alto demais pra que ela me ouça.
- Eu não sinto sua falta - Minhas palavras não fazem sentido pra ele.
Ninguém parece escutar, compreender. Me cansei de falar.
Talvez.
Só mais uma tentativa.
- Eu acho que eu amo você.
Ele olha pra trás, a testa franzida:
- O que você disse?
12x05 Ouvidos Moucos
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SUPERdelayed
12x04 Be like that
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Imagem: spiicytuna
Eu suei. O suor escorria pelas minhas axilas, molhando o tecido sob elas, me recordando o porquê de eu não usar camisetas de malha: suo muito quando me sinto desconfortável.
O motivo da minha suadeira era um piercing no nariz.
Pensando bem, talvez fossem os jeans. Ou o cabelo. Talvez fosse a garota toda.
Ah, você pode imaginá-la: cool kid, costas retas, cabelo solto, como eu queria ser.
Desejei que ela fosse embora, Otto estava pra chegar. Ele veria nós duas, tão próximas, tão propensas a comparações e eu encolheria até quase sumir.
Ia voltar pra casa quando ele chegou. Fiquei paralisada, olhando pros meus pés, colando os braços junto ao corpo.
Ele passou do meu lado quatro, cinco vezes. Não levantei os olhos, não queria que ele olhasse pra mim.
Me deu raiva dele, de nós dois. Aquela raiva lépida que, se sai, deixa um rastro de mágoa; se fica, corrói por dentro. A minha saiu pelas axilas, intensa e doída, mordi a boca até que sangrasse.
E a garota olhando pra ele, de leve, como quem só reparou agora na existência de algo incomum - "Que fiquem juntos!", bradava minha blusa molhada.
Um ônibus quebrado cuspiu gente em cima de mim, gente que me pisou sem querer, sem reparar que eu derretia: pelos olhos e pelas axilas.
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Meu Otto
12x03 Deixa o inverno
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Queria que chovesse.
Queria as pernas molhadas de velocidade e as costas úmidas de gotas: que esse derretimento todo virasse de volta em água e lama.
Chover na sua mochila - molhar livros (com post-its?), garrafas de água, suas chaves e canetas.
Queria que eu chovesse feito uma moça que conheço, queria molhar suas meias e a barra das suas calças.
Queria te fazer cócegas ao pingar nas suas costas lilases.
Queria chover assim, de repente, depois de um dia feliz e escorrer pelos seus cabelos.
Queria pingar nos seus cílios, bem de leve.
Queria ficar na curva atrás das suas orelhas.
Queria escorrer límpida, pura e gotejar no seu pescoço: queria te causar calafrios.
Queria que chovesse.
Queria as pernas molhadas de velocidade e as costas úmidas de gotas: que esse derretimento todo virasse de volta em água e lama.
Chover na sua mochila - molhar livros (com post-its?), garrafas de água, suas chaves e canetas.
Queria que eu chovesse feito uma moça que conheço, queria molhar suas meias e a barra das suas calças.
Queria te fazer cócegas ao pingar nas suas costas lilases.
Queria chover assim, de repente, depois de um dia feliz e escorrer pelos seus cabelos.
Queria pingar nos seus cílios, bem de leve.
Queria ficar na curva atrás das suas orelhas.
Queria escorrer límpida, pura e gotejar no seu pescoço: queria te causar calafrios.
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Meu Otto
12x02 The Cool Kids
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- Oi (oi. Pode alguma coisa soar mais banal? Quando se está prestes a vomitar ou engasgar com a língua, é uma tábua de salvação). O oi passou pela minha língua, desfranziu minha testa, moldou simpatia na minha pokerface, mas não saiu. Ficou presa nosdentes, a palavra burra.
Era pro meu oi sair, o dela foi mais rápido. Veio fácil, que nem o sorriso, que nem o abraço. Vieram um mundaréu de gestos nela, tão despidos de esforço que meus olhos aguaram.
Senti na goela o gosto do "oi" engolido às pressas, uma dor na boca, de esconder os dentes, dor no rosto, do estica-encolhe tão treinado na véspera, na frente do espelho.
Lá dentro de mim o coração batia apertado, sem saber se de felicidade (porta de elevador aberto às pressas), se de vontade (daquelas que dispensam imagens explicativas) misturada com angústia.
Se foi rápido, pra mim demorou, longo feito uma manhã tediosa. Se é um gesto simples, pra mim foi complexo, cheio de corações entrando em equilíbrio sonoro, trocas de calor, de átomos, de fibras de tecido, de cheiros.
Meu peito reclamou, sentindo o desconforto do cérebro, sentindo os pés latejando, mas foi só, fácil de conter.
O gosto de ferro na boca, o uivo nos pulmões, esses deixei sair, deixei que se espalhassem, que lamentassem seus cabelos escorrendo pelo pescoço dela.
Que lamentassem seus cabelos.
Que lamentassem o pescoço dela.
- Oi (oi. Pode alguma coisa soar mais banal? Quando se está prestes a vomitar ou engasgar com a língua, é uma tábua de salvação). O oi passou pela minha língua, desfranziu minha testa, moldou simpatia na minha pokerface, mas não saiu. Ficou presa nosdentes, a palavra burra.
Era pro meu oi sair, o dela foi mais rápido. Veio fácil, que nem o sorriso, que nem o abraço. Vieram um mundaréu de gestos nela, tão despidos de esforço que meus olhos aguaram.
Senti na goela o gosto do "oi" engolido às pressas, uma dor na boca, de esconder os dentes, dor no rosto, do estica-encolhe tão treinado na véspera, na frente do espelho.
Lá dentro de mim o coração batia apertado, sem saber se de felicidade (porta de elevador aberto às pressas), se de vontade (daquelas que dispensam imagens explicativas) misturada com angústia.
Se foi rápido, pra mim demorou, longo feito uma manhã tediosa. Se é um gesto simples, pra mim foi complexo, cheio de corações entrando em equilíbrio sonoro, trocas de calor, de átomos, de fibras de tecido, de cheiros.
Meu peito reclamou, sentindo o desconforto do cérebro, sentindo os pés latejando, mas foi só, fácil de conter.
O gosto de ferro na boca, o uivo nos pulmões, esses deixei sair, deixei que se espalhassem, que lamentassem seus cabelos escorrendo pelo pescoço dela.
Que lamentassem seus cabelos.
Que lamentassem o pescoço dela.
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Meu Otto,
silêncio
12x01 Weekend wars
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Imagem: yourbartender
- Aquiles, não vá à guerra.
Eu pedi, implorei, ameacei: ele foi, embora não existisse destino.
Levou meu Pátroclo, com sua armadura vermelha e suas botas reluzentes, armado com seu soco inglês e sua faca de caça.
- Aquiles, não vá à guerra - ainda uma última vez.
Voltaram tarde, eu não tinha dormido.
Voltou com a boca cortada, beijos com gosto de sangue, o supercílio sujo e ralado: Vivo.
Eu não dedico pensamentos aos outros, eu não penso em mais nada que não seja a junção dessas letras: V I V O.
"Mas até quando?", vem chegando devagar, nas pontas dos pés e me encontra dormindo no chão, segura nos meus sonhos, onde ele não pode me alcançar.
- Aquiles, não vá à guerra.
Eu pedi, implorei, ameacei: ele foi, embora não existisse destino.
Levou meu Pátroclo, com sua armadura vermelha e suas botas reluzentes, armado com seu soco inglês e sua faca de caça.
- Aquiles, não vá à guerra - ainda uma última vez.
Voltaram tarde, eu não tinha dormido.
Voltou com a boca cortada, beijos com gosto de sangue, o supercílio sujo e ralado: Vivo.
Eu não dedico pensamentos aos outros, eu não penso em mais nada que não seja a junção dessas letras: V I V O.
"Mas até quando?", vem chegando devagar, nas pontas dos pés e me encontra dormindo no chão, segura nos meus sonhos, onde ele não pode me alcançar.
11x28 Dancing with myself (Season finale)
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Imagem: Thomas Hawk
Essa fase da vida vou chamar de Enjoying myself.
Eu estou completamente incerta sobre o futuro, com medo de dar um passo e não poder desfazer, medo de sair de casa até, me sentindo velha e sem muitas opções. Uma cris da meia idade aos 18 anos.
Eu achei que a solução estaria possivelmente nas pílulas-mágicas-de-sabedoria do Dr. House. Talvez estejam, mas algo me diz que, se eu adiar esses pensamentos de novo, eles vão voltar mais fortes, mais capazes de me manter trancada em casa. Então tudo bem, vou reaprender a estar no controle.
Comecei por sair de casa, me descobrir. Ouvi dizer que encontrar seu estilo ajuda. Já sei que não sou uma pessoa de shorts ou saias curtas, definitivamente não gosto de sapatos, tenho mais blusas de frio que calcinhas, queria ter bolsas maiores e mais claras, não sou minimalista, nem hippie; aprecio o ladylike (mas me falta graciosidade :/), pro vintage falta tempo, pro boho falta altura e sobram curvas, é complicado, mas acho que estou no caminho certo.
Quero ficar comigo, sozinha. Tanta gente por aí se preparando pra relacionamentos sem saber ficar consigo. Música tocando, livros entreabertos, cama arrumada, roupas limpas.
Me olho no espelho sem medo: vai ficar tudo bem.
Essa fase da vida vou chamar de Enjoying myself.
Eu estou completamente incerta sobre o futuro, com medo de dar um passo e não poder desfazer, medo de sair de casa até, me sentindo velha e sem muitas opções. Uma cris da meia idade aos 18 anos.
Eu achei que a solução estaria possivelmente nas pílulas-mágicas-de-sabedoria do Dr. House. Talvez estejam, mas algo me diz que, se eu adiar esses pensamentos de novo, eles vão voltar mais fortes, mais capazes de me manter trancada em casa. Então tudo bem, vou reaprender a estar no controle.
Comecei por sair de casa, me descobrir. Ouvi dizer que encontrar seu estilo ajuda. Já sei que não sou uma pessoa de shorts ou saias curtas, definitivamente não gosto de sapatos, tenho mais blusas de frio que calcinhas, queria ter bolsas maiores e mais claras, não sou minimalista, nem hippie; aprecio o ladylike (mas me falta graciosidade :/), pro vintage falta tempo, pro boho falta altura e sobram curvas, é complicado, mas acho que estou no caminho certo.
Quero ficar comigo, sozinha. Tanta gente por aí se preparando pra relacionamentos sem saber ficar consigo. Música tocando, livros entreabertos, cama arrumada, roupas limpas.
Me olho no espelho sem medo: vai ficar tudo bem.
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Florence + The Machine,
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11x27 Caesar
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Imagem: tamakisono
Ás vezes eu me divirto assim, me visto de forma oposta a quem sou, pra que não me julguem mal. Me vêem com esses vestidos, essas camisetas irônicas. Quem diria que possuo amores platônicos, amo astrofísica e romances policiais. É divertido, mas nem tanto.
Divertido mesmo seria saber quem sou.
Certa vez, vi um animal esfolado. Como julgá-lo? Não tinha cor, nem pêlo. Era só carne. Me senti parte de algo, ao vê-lo, senti que havia um certo vínculo entre nós. E eu amei aquela sensação, mas fiquei sem sentí-la durante muito tempo.
Ele apertou minha mão bem forte enquanto estávamos sob as árvores. Eu me senti em casa.
Eu queria ficar com o melhor dos dois mundos, mas invariavelmente vou escolher entre os meus iguais aqueles que amo.
Não existe interseção.
Ás vezes eu me divirto assim, me visto de forma oposta a quem sou, pra que não me julguem mal. Me vêem com esses vestidos, essas camisetas irônicas. Quem diria que possuo amores platônicos, amo astrofísica e romances policiais. É divertido, mas nem tanto.
Divertido mesmo seria saber quem sou.
Certa vez, vi um animal esfolado. Como julgá-lo? Não tinha cor, nem pêlo. Era só carne. Me senti parte de algo, ao vê-lo, senti que havia um certo vínculo entre nós. E eu amei aquela sensação, mas fiquei sem sentí-la durante muito tempo.
Ele apertou minha mão bem forte enquanto estávamos sob as árvores. Eu me senti em casa.
Eu queria ficar com o melhor dos dois mundos, mas invariavelmente vou escolher entre os meus iguais aqueles que amo.
Não existe interseção.
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11x26 A lua que sangrava
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Imagem: ReefRaff
Hoje, enquanto passava batom, as feridas da minha boca começaram a sangrar, sujando meus dentes de vermelho - alaranjado. Quando sente o gosto do sangue, fui tomada por um nojo tão grande, de mim, do meu sangue, da minha boca, do que tenho feito nos últimos dias.
Histeria: Ri pro espelho, o sangue se espalhando pelo lábio, virando batom.
É essa boca que quer falar com Otto, que quer beijá-lo.
Senti pena de mim, depois. Eu realmente acreditei que cosméticos e band-aids esconderiam as cicatrizes.
O sangue sempre dá um jeito de se mostrar.
Hoje, enquanto passava batom, as feridas da minha boca começaram a sangrar, sujando meus dentes de vermelho - alaranjado. Quando sente o gosto do sangue, fui tomada por um nojo tão grande, de mim, do meu sangue, da minha boca, do que tenho feito nos últimos dias.
Histeria: Ri pro espelho, o sangue se espalhando pelo lábio, virando batom.
É essa boca que quer falar com Otto, que quer beijá-lo.
Senti pena de mim, depois. Eu realmente acreditei que cosméticos e band-aids esconderiam as cicatrizes.
O sangue sempre dá um jeito de se mostrar.
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Pete Doherty
11x25 Fake Plastic Love
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Imagem: vissago
Quando Berenice fez as vezes de Ulrika, segurando minhas mãos e minha mente, de um jeito diferente daquele ao qual tinha me habituado, pensei que fosse amor.
Pensei que, talvez, eu fosse diferente feito Ulrika. Era feio, sim, mas poético. Era poético gostar das costas de June, do jeito como brigávamos e ela chorava de raiva da minha distância e me ofendia.
Era poético gostar da magreza de Julia/Giulia, sua loirice e suas sardas. De sua esperteza e de seu nariz gelado.
E depois Skye, um pouco mais vulgar, mais maternal, mais doce, mais compreensiva quanto à minha fobia.
Mas era poesia, e amor não é só isso. Era curiosidade, talvez vontade de ver até onde, até uando. Era saudade de Ulrika, das suas expressões significativas, dos mal entendidos.
Não com ela. Tenho consciência plena de amar Otto e Otto só. Mas é amor isso, é amor diferente de Berenice, de June, de Giulia, de Skye. Talvez se pareça com o que sentia por Ulrika, um respeito, uma dor. Sempre sinto que me falta tato, que me falta tempo, que me falta desenvoltura. Falta maturidade.
Sinto medo dela e por ela, tanto medo.
Ela roça o braço no meu enquanto conversamos e eu me afasto. "Tá tudo bem", seus olhos dizem.
Se os meus olhos fossem tão elequentes quanto os dela, diriam a verdade, diriam que eu só beiro esse "anormal", sem jamais cruzar a linha.
Meus olhos diriam que nunca vai ficar tudo bem.
Não da maneira que ela quer.
Quando Berenice fez as vezes de Ulrika, segurando minhas mãos e minha mente, de um jeito diferente daquele ao qual tinha me habituado, pensei que fosse amor.
Pensei que, talvez, eu fosse diferente feito Ulrika. Era feio, sim, mas poético. Era poético gostar das costas de June, do jeito como brigávamos e ela chorava de raiva da minha distância e me ofendia.
Era poético gostar da magreza de Julia/Giulia, sua loirice e suas sardas. De sua esperteza e de seu nariz gelado.
E depois Skye, um pouco mais vulgar, mais maternal, mais doce, mais compreensiva quanto à minha fobia.
Mas era poesia, e amor não é só isso. Era curiosidade, talvez vontade de ver até onde, até uando. Era saudade de Ulrika, das suas expressões significativas, dos mal entendidos.
Não com ela. Tenho consciência plena de amar Otto e Otto só. Mas é amor isso, é amor diferente de Berenice, de June, de Giulia, de Skye. Talvez se pareça com o que sentia por Ulrika, um respeito, uma dor. Sempre sinto que me falta tato, que me falta tempo, que me falta desenvoltura. Falta maturidade.
Sinto medo dela e por ela, tanto medo.
Ela roça o braço no meu enquanto conversamos e eu me afasto. "Tá tudo bem", seus olhos dizem.
Se os meus olhos fossem tão elequentes quanto os dela, diriam a verdade, diriam que eu só beiro esse "anormal", sem jamais cruzar a linha.
Meus olhos diriam que nunca vai ficar tudo bem.
Não da maneira que ela quer.
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choices,
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Panic At The Disco
11x24 The Gold and the Glamour
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garota solteira procura,
Imagem: dev null
Acho que ele sabe, inconscientemente. As pessoas sabem. Não importa quão cedo eu acorde, quão tarde: ele vai estar lá.
Estive com medo dele (pra variar), medo de já não gostar mais tanto assim. Nos últimos dias só quis ver 3 pessoas - não vi nenhuma delas - e Otto não era uma delas.
Fiquei com medo de não sentir mais aquilo, de que ele tivesse se tornado mais um nome em um caderno azul - McCandless, Ian, James, Andrew, Miguel, Percy. Aí fiquei adiando. Acordei ora cedo demais, ora tarde demais.
Cedo demais, hoje. O ônibus levou 40 minutos pra chegarm eu já alerta, esperando que ele chegasse a qualquer momento. Fiquei insegura, vestida de Gaia, tênis, trança descabelada. Apertei meu livro, cantei meu mantra - Dex & Em, Em & Dex -, me senti mais segura.
E o vi, de longe, -ele me viu?- as pernas querendo correr pra ele e dele.Fiquei com medo de não conseguir controlá-las.
Pensei "lá vamos nós de novo". separados por uma barreira de pedra e outra da minha covardia. Mas ele veio pra perto de mim, passou tão perto que eu pude respirá-lo, eu quis pausar aquele segundo. Quis rir também, boba, mordi a língua e me mantive séria.
Por dentro, meu estômago apertava borboletas.
Ele cheirava bem, folhas e primavera, como tinha que ser, como eu sabia que seria.
Ele tossiu e eu o amei mais ainda (mas que boba eu sou), porque soube do tom da sua voz.
Uma senhora me disse algo, não entendi nada, mas sorri. Sorri um sorriso grande, sincero, que eu queria sorrir pra ele, e não podia.
Sorri pra senhora, sorri pro ônibus lotado, pras pessoas de pé.
Acho que ainda tenho muito, muito que gostar dele...
Acho que ele sabe, inconscientemente. As pessoas sabem. Não importa quão cedo eu acorde, quão tarde: ele vai estar lá.
Estive com medo dele (pra variar), medo de já não gostar mais tanto assim. Nos últimos dias só quis ver 3 pessoas - não vi nenhuma delas - e Otto não era uma delas.
Fiquei com medo de não sentir mais aquilo, de que ele tivesse se tornado mais um nome em um caderno azul - McCandless, Ian, James, Andrew, Miguel, Percy. Aí fiquei adiando. Acordei ora cedo demais, ora tarde demais.
Cedo demais, hoje. O ônibus levou 40 minutos pra chegarm eu já alerta, esperando que ele chegasse a qualquer momento. Fiquei insegura, vestida de Gaia, tênis, trança descabelada. Apertei meu livro, cantei meu mantra - Dex & Em, Em & Dex -, me senti mais segura.
E o vi, de longe, -ele me viu?- as pernas querendo correr pra ele e dele.Fiquei com medo de não conseguir controlá-las.
Pensei "lá vamos nós de novo". separados por uma barreira de pedra e outra da minha covardia. Mas ele veio pra perto de mim, passou tão perto que eu pude respirá-lo, eu quis pausar aquele segundo. Quis rir também, boba, mordi a língua e me mantive séria.
Por dentro, meu estômago apertava borboletas.
Ele cheirava bem, folhas e primavera, como tinha que ser, como eu sabia que seria.
Ele tossiu e eu o amei mais ainda (mas que boba eu sou), porque soube do tom da sua voz.
Uma senhora me disse algo, não entendi nada, mas sorri. Sorri um sorriso grande, sincero, que eu queria sorrir pra ele, e não podia.
Sorri pra senhora, sorri pro ônibus lotado, pras pessoas de pé.
Acho que ainda tenho muito, muito que gostar dele...
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The Courteeners
11x23 Zombie
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garota solteira procura,
Imagem: Claudia Castro
Terça-feira, 9:42 a.m.
Não quero mais me levantar. Cubro a cabeça com as roupas espalhadas, lençóis e cobertas.
A luz do sol entra pelas frestas e me encontra semimorta, encontra a casa suja, o corpo sujo, a vida e a água paradas.
Não quero mais sair. As roupas apresentáveis adquirem o cheiro de madeira e lustra-móveis do guarda-roupa, enquanto pijamas sujos enchem o cesto até o topo.
Não quero mais comer. O lixo cheio de cascas de frutas apodrece e a pia, lotada de copos com água no fundo, adquire uma fina camada de poeira.
Não quero mais estudar. Os livros jazem, entreabertos, sob a cama, cobrindo antigas garrafas de Heineken, minhas vergonhas. Canetas, calcinhas, meias e tênis misturam-se na poeira de pele, gesso e cabelos. Eu não ligo.
Não quero mais ver Otto. Seria bom, sim. Mas a vontade é pouca e permanece coberta, sem maquiagem, usando shorts sem elástico.
Nao quero mais esperar. O celular desperta, insiste, tocando "I feel it all", mas eu não sinto nada, só sono. Não quero ônibus, nem Otto, nem aulas, nem programas de TV, nem roupa limpa, nem comida, nem música.
Não quero mais nada.
Mas vivo: Morrer dá preguiça.
Terça-feira, 9:42 a.m.
Não quero mais me levantar. Cubro a cabeça com as roupas espalhadas, lençóis e cobertas.
A luz do sol entra pelas frestas e me encontra semimorta, encontra a casa suja, o corpo sujo, a vida e a água paradas.
Não quero mais sair. As roupas apresentáveis adquirem o cheiro de madeira e lustra-móveis do guarda-roupa, enquanto pijamas sujos enchem o cesto até o topo.
Não quero mais comer. O lixo cheio de cascas de frutas apodrece e a pia, lotada de copos com água no fundo, adquire uma fina camada de poeira.
Não quero mais estudar. Os livros jazem, entreabertos, sob a cama, cobrindo antigas garrafas de Heineken, minhas vergonhas. Canetas, calcinhas, meias e tênis misturam-se na poeira de pele, gesso e cabelos. Eu não ligo.
Não quero mais ver Otto. Seria bom, sim. Mas a vontade é pouca e permanece coberta, sem maquiagem, usando shorts sem elástico.
Nao quero mais esperar. O celular desperta, insiste, tocando "I feel it all", mas eu não sinto nada, só sono. Não quero ônibus, nem Otto, nem aulas, nem programas de TV, nem roupa limpa, nem comida, nem música.
Não quero mais nada.
Mas vivo: Morrer dá preguiça.
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