Imagem: noisemedia
- Oi (oi. Pode alguma coisa soar mais banal? Quando se está prestes a vomitar ou engasgar com a língua, é uma tábua de salvação). O oi passou pela minha língua, desfranziu minha testa, moldou simpatia na minha pokerface, mas não saiu. Ficou presa nosdentes, a palavra burra.
Era pro meu oi sair, o dela foi mais rápido. Veio fácil, que nem o sorriso, que nem o abraço. Vieram um mundaréu de gestos nela, tão despidos de esforço que meus olhos aguaram.
Senti na goela o gosto do "oi" engolido às pressas, uma dor na boca, de esconder os dentes, dor no rosto, do estica-encolhe tão treinado na véspera, na frente do espelho.
Lá dentro de mim o coração batia apertado, sem saber se de felicidade (porta de elevador aberto às pressas), se de vontade (daquelas que dispensam imagens explicativas) misturada com angústia.
Se foi rápido, pra mim demorou, longo feito uma manhã tediosa. Se é um gesto simples, pra mim foi complexo, cheio de corações entrando em equilíbrio sonoro, trocas de calor, de átomos, de fibras de tecido, de cheiros.
Meu peito reclamou, sentindo o desconforto do cérebro, sentindo os pés latejando, mas foi só, fácil de conter.
O gosto de ferro na boca, o uivo nos pulmões, esses deixei sair, deixei que se espalhassem, que lamentassem seus cabelos escorrendo pelo pescoço dela.
Que lamentassem seus cabelos.
Que lamentassem o pescoço dela.
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