Imagem: TingTing Huang
Brasília, março de 2005.
Meu uniforme escolar estava sujo de vômito. Eu fedia, mas ninguém parecia notar. Eu estava invisível, uma menina parada no corredor, fedendo a vômito e suor.
A porta ao meu lado se abriu e minha mãe reapareceu, os olhos vermelhos, ainda inchados, seguida pelo doutor.
Eu logo pensei na expressão "espreme-crânios", como de costume.
Mas, dessa vez, foi diferente. Não houve conversa.
"Sua mãe disse que você vomitou muito, B. Você se importa de tomar soro pra não desidratar?"
Algo na expressão da minha mãe disse que eu não me importava.
Tudo foi feito rapidamente e, deitada em uma maca improvisada, fiquei olhando o soro gotejar. Eu só queria que acabasse logo, pra que pudéssemos voltar pra casa.
E então já era noite, sem que eu tivesse sequer adormecido, e o soro tinha acabado.
Naquele dia, eu tive a nítida sensação de que eu era mágica, de que havia poderes ocultos em mim.
Eu queria jamais ter acreditado em outra coisa.
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