Imagem: TingTing Huang
Parque, rodas gigantes, vento frio, chuva. Começamos clichê.
Te expliquei neuro, Merkel e Meissner, te beijei a boca, você me beijou, debaixo de chuva, tempestade e ímpeto.
Caminhamos pelo parque escuro, sem saber onde íamos chegar (e ainda não sabemos), sua boca longe da minha, sem saber o que fazer, o que era permitido dizer, o que era permitido pensar.
Kartódromo, música, psicopatas em potencial, deixamos tudo pra trás e nos sentamos na beira de uma lagoa, no meio do nada, no meio de tudo; Dentes e boca, lábios, sua língua de textura diferente de todas as outras, seus dentes me mordendo e não me mordendo.
Fiquei com medo. De ser velha demais pra tanta irresponsabilidade, de ter medo demais pra deixar as coisas acontecerem.
E você derrubando muro atrás de muro, abrindo caminho com os dentes, enquanto eu os erguia de volta, sob seu olhar atônito, com o gesto simples de colocar a alça da roupa no lugar.
Você me olhou daquele jeito, daquele jeito que a gente olha quando quer alguém, respirou do jeito que a gente respira quando quer alguém, me tocou do jeito que a gente toca em alguém que a gente quer.
E isso também me deu medo.
De mim, das coisas, de mudanças, de um coração inflado, murcho em cima do guarda-roupa, das pessoas, da vida, do amanhã, do meu corpo e do seu, da percepção súbita de que eu estava apavorada e, por isso mesmo, era tudo tão fascinante.
Sentei na grama, respirei fundo, sem querer ir pra casa, sem querer evitar esse medo.
Eu precisava sentir isso.
E tudo o que viesse com ele.
"Let it be", eu disse pra noite, dragões, grama e corpos, "vamos sair daqui".
27x10 Parks and recreation
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Tiago Iorc,
um cara que fazia dragões
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