Imagem: TingTing Huang
Bebi muito.
Anestesiada, boba.
Boca e cérebro praticamente desligados, desinibida.
Aí Pégaso chega, luz, fumaça e verde, cabelo cortado, que eu não vou tocar.
Lembro da sua pele lisa, clara-escura, boca macia, cheiro de pele, suas pintas, a textura do seu rosto, barba por fazer, o gosto da sua boca.
Overwhelming. Me dou conta de que estou bêbada demais pra minha própria segurança.
- Não me deixe falar com ele, por favor - peço-imploro para a outra B., estrelas, K.
Porque eu quero. Mais do que qualquer coisa no mundo, eu quero usar essa desinibição pra dizer qualquer coisa, oi, você ainda me ama? Porque eu tô com medo de ainda te amar, mas com mil vezes mais medo de já ter superado.
Fico com medo de mim. Repentinamente, percebo que vou atrás de você. Vou ser humilhada, vou me sentir mal, suja, só. De novo. Percebo que você vai rir de mim, ou me ignorar e que vai ser a morte pra mim.
No meio do meu quase estupor alcoólico, corro até ele - King. Encontro-o sentado, quieto. Por um segundo, sinto medo, culpa.
Olho nos olhos dele,"sinto muito, mas é preciso".
Ele me olha de volta, sem entender. Só vê uma menina bêbada e olhuda. Me chama pra dançar. Aceito, mesmo que não seja preciso, vamos acabar logo com isso, não precisa tentar demais, só vamos logo.
Mas King é um bom rapaz. Dançamos, bebemos mais, caminhamos. Lua, lago, ele fala de si, da ex-namorada, coisas que eu sei e coisas que não sei, que me pego querendo saber.
Olho pra ele e sinto que ele não merece isso, ninguém merece isso. Eu estou fazendo de novo, traindo a torto e a direito, mentindo, me destruindo aos poucos e levando outras pessoas comigo. Eu não vou te usar pra isso.
Viro pra dizer algo, explicar, mas a boca dele já está a meio caminho da minha, língua, dentes, pele, gosto de álcool. Fecho meus olhos, meus pensamentos e viro um bando de conexões, substâncias, receptores ensandecidos, o de sempre.
Tô estragada, mas não importa. Não importa quem sou, ele não quer saber de que lado da cama eu durmo, que quero conhecer a Coréia do Sul, gosto de filmes dos anos 90. Ele só quer conhecer a cicatriz nas minhas costas, independente de onde veio, o peso do meu corpo, a força dos meus músculos, o gosto do meu pescoço, as curvas do meu corpo.
Eu também não quero sua dor, King. Eu quero sua boca, sua vontade, seu aperto, sua sombra. Mais do que tudo, quero a proteção temporária de mim mesma, toda a dor que você vai me causar nos próximos dias, quando eu o vir e não souber o que ele pensa. Cada vez que eu me condenar, cada vez que eu olhá-lo e não me sentir mais digna de falar com ele.
Eu precisava disso, e só disso.
Do golpe final,
da certeza doida de que você nunca mais
vai me querer de novo.
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