Imagem: TingTing Huang
- Eu amo você.
Eu nunca te disse.
Você sabia, é claro, assim como sabia que eu nunca diria.
Era 2012, meus cabelos não eram tão longos, nem tão loucos.
Saíamos cedo, voltávamos tarde - você, principalmente.
Eu me sentava em casa depois do cursinho, trançava os cabelos e esperava que você voltasse. Intacto.
Sua boca tinha gosto de nada, como toda boca deve ser.
Você chegava em silêncio, vivia em silêncio, e nada nunca precisava ser dito.
Eu brincava de trançar seus cabelos, enquanto você fingia que dormia. Era meu jeito de dizer eu te amo. Era seu jeito de dizer eu também.
Eu nunca te disse.
E nem você.
Mas você segurou a barra quando eu tinha pesadelos toda noite. E me comprou chocolate quando eu não quis mais sair de casa.
Me trouxe livros que eu não quero devolver, que eu vou ler na ordem exata que você trouxe.
Você nunca disse que me amava, mas segurou minha mão quando eu não conseguia mais dormir por causa da dor nas costas.
Você nunca me disse, mas me abraçou no dia em que eu decidi que não queria mais ser quem eu era. E veio comigo, pra dizer que eu podia ser quem quisesse, que eu podia até ser médica.
Você nunca me disse, mas eu soube, porque seus cabelos nunca cresceram de novo.
Eu nunca disse, mas te fiz chá quando você voltou com frio de sei lá onde.
Eu tinha sempre um band-aid na cabeceira da cama, pra quando você voltasse.
Eu nunca disse que te amava, mas lia pra você em inglês, com uma pronúncia terrível. Eu nunca disse, mas quando você disse que ia embora, meu coração se partiu em dois, e foi por isso que eu só disse "ok".
Não dizia, mas não conseguia ir pra aula porque tinha que te ver antes. Nunca cheguei no primeiro horário.
Eu nunca disse, mas deixei que você fizesse as palavras cruzadas quando você ficou doente.
Eu nunca te disse, mas nunca falei de você direito pra ninguém, nunca disse uma palavra contra você.
Eu nunca disse, mas deixei que você fosse embora, mesmo querendo que você ficasse.
Eu não estava pronta pra ficar sozinha. Mas você estava.
Eu nunca disse,
mas eu disse.
E ouvi, incontáveis vezes, nas suas mãos, na sua boca, nos seus olhos, nos seus cabelos, nos incontáveis copos de água, no gesto de apagar as luzes, nas caminhadas até o mercado pra comprar sorvete, no gosto de chocolate branco misturado com chocolate preto, de batatas fritas e chocolate.
Eu ouvi, Otto. E ainda ouço.
Espero que você ouça também.
O amor é isso tudo.
Obrigada. :)
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