Imagem: TingTing Huang
Quando deixei de sair com McCandless, lembro de ter um devaneio recorrente no qual eu perdia a memória. Esse devaneio me acalmava, me fazia sentir melhor.
Hoje, acho graça.
Mas entendo.
E hoje, só hoje, queria dar esse devaneio de presente pra alguém.
Lá vai.
Queria apagar sua memória. Deita aqui, meu bem, vou curar a sua dor.
Me dá sua boca. Feito um dOs Gênios, vou soprar esquecimento.
Vem, acabou.
Acabou a memória, a inteligência. Vamos ser só isso.
Sem palavras novas.
Sem mais significados.
Use o que você tem, use o que você sabe.
'Vem'. Eu te dou um pouco do que eu tenho. Não é muito.
Feche os olhos, eu vou te dar lembranças novas. Vou te fazer rir.
Eu sei rir, eu ainda sei rir, e você também sabe.
Dá aqui a mão, eu sei que é estranho, mas melhora.
Eu juro que melhora, que um dia você acorda e a dor nem faz sentido. E mesmo quando ainda dói, o que dói é ter que se redescobrir, é o esforço de ter que ser você mesmo.
Vem cá, eu também não quero ficar só.
Então a gente pode sim ficar acordado até quando for necessário, e esquecer aos poucos, e ir apagando aos poucos, e se curando aos poucos.
Deixa. Deixa.
O que a gente vai fazer daqui pra frente é que importa.
Onde é que você quer se sentar? Sabe como é, eu não gosto de escolher. (:
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