Imagem: TingTing Huang
Minha cara, minha amada, minha adorada eu de setembro de 2016,
oi.
Queria te dizer que entendi, numa conversa deveras surpreendente com o Dragon Maker, que isso não é pra ser assim.
A gente ama, a gente desama. E a gente chora. Wallow.
Mas não deu pra gente. Tinha prova, Saúde da Mulher. E a gente arrasou, porque não queríamos que ninguém dissesse que tínhamos ficado mais fracas. Daí a gente trabalhou, a gente estudou, a gente fez rir, a gente decidiu que não tinha tempo pros filmes da Julia Roberts. A gente decidiu que era grande o suficiente pra não precisar de Häagen-Dazs com sabor de torta.
Rory Gilmores, andamos por aí, e o tempo foi passando, as coisas indo e vindo, e a gente só não tinha mais tempo pra sentar e chorar. Então os fatos foram se apagando, as memórias foram desbotando e a gente de repente não conseguia mais se lembrar o porquê daqueles socos repentinos no estômago.
As músicas mudaram, o cabelo mudou, as roupas, os amigos, mas o gosto amargo, a náusea, o vazio estavam ali.
E o semestre passando, e a gente sem saber o que estava errado, se a gente tinha tudo, absolutamente tudo, ao alcance da mão. Era só pegar. Só não dava pra pegar de volta.
Ficamos com raiva do mundo, uma raiva que não passava, que sangrava, de tudo e todos, cada frase era um ataque pessoal, e a gente não sabia controlar. A gente perdeu o controle de vez.
E parou.
Você deve se lembrar de como a gente simplesmente parou de sair pra aula.
De como a gente teve um medo, de leve, de não querer mais aquilo.
De como a gente teve que fingir que era aquilo que a gente queria, só pra que a gente acreditasse.
Foi difícil, mas a gente fingiu que não era. A gente fingiu que tudo bem.
Mas não estava tudo bem.
Se eu pudesse falar comigo mesma, aquela B., eu diria a ela pra chorar. Pra matar uma porrada de aulas, pra chorar e andar por aí de camisola. Eu diria a ela pra parar de se maquiar como se estivesse tudo ok, pra não beber tanto, pra parar um segundo.
A gente ama. A gente desama. E a gente chora.
Na vida, a gente não pode ficar pulando fases assim, sem consequências.
Mas não podíamos parar.
Aconteceu tão rápido e, quando nos demos conta, já era dezembro e não tínhamos parado pra pensar. No meio de todo aquele sudoku, álcool, milhões de coisas, meu eu já tinha perdido toda a noção de tempo e de responsabilidade, esquecia minha irmã nos lugares, esquecia minhas tarefas, acordava às 5 da manhã com minha tarefa de casa pela metade e não queria mais participar de nada, me irritava que esperassem de mim mais do que o mínimo.
Tentei sair da liga - mas não pude, tive muito medo de que pensassem que era por outra razão -, parei de aceitar projetos, de responder mensagens, de levar meus materiais para as aulas, de estudar, de escrever, de planejar. Cada vez que alguém me pedia um favor, eu sentia vontade de vomitar, de correr pra bem longe e não voltar mais.
Fui desmoronando aos poucos e, nas últimas semanas de aula, eu só conseguia torcer pra morrer enquanto dormia. De qualquer coisa, pra doer ou não. Eu só não queria mais ter que me levantar.
Eu poderia ter parado, chorado até minha cabeça explodir. Mas eu me achava tão melhor do que isso, melhor do que uma heroína chorona de um filme adolescente.
Eu tive tantas oportunidades de chorar, de conseguir colo, de pedir ajuda. Amigos incríveis, sempre me dizendo pra falar, e eu não conseguia. Eu preferia morrer do que mostrar fraqueza. Mesmo naquela noite terrível que nem importa mais, eu poderia ter chorado, eu poderia ter arrancado fora os olhos, mas fui assistir Downton Abbey, sem conseguir pregar os olhos durante quase 30 horas, só porque eu não queria pensar.
Você deve estar se perguntando "Por que agora? Por que você está escrevendo isso pra mim, justo pra mim?". Chame de intuição, ou crendice. Mas acho que vai acontecer de novo, em breve. Talvez com você.
Então, preste atenção:
Pare. Chore. Chorar não resolve nada mesmo, mas não é pra isso que serve. E não tem nada de errado em sentir alguma coisa.
Dói. E você chora. Não vai ficar mais fraca pra isso, não vão te achar pior por isso.
Não finja que está tudo bem. Porque só vai doer mais, cada vez mais. E não vai passar, vai te estragar de tantas maneiras, acho que você já deve saber, você vai se lembrar.
E é, dá medo.
Medo de chorar, medo de sentir isso de uma vez só, ao invés de deixar sair em doses controladas.
Mas ei,
nem sempre é uma música triste.
Às vezes, você para pra ouvir direito a letra e percebe que a resposta estava ali o tempo todo.
Que é você quem torna as músicas felizes ou tristes.
E que você só precisa ouvir com atenção.
Ouça com atenção.
Pode até doer, mas passa.
Esse vazio passa.
Foda-se Drummond.
Tô te afirmando que passa.
Acredite em mim.
Com amor, muito amor, todo o amor que eu tenho pra dar hoje e sempre,
Você.
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Te puxo pela mão, e corro, corro feito doida.
- Temos que ir.
Você não entende, mas corre, sem fazer perguntas.
Acelera, sentimos o sangue pulsar, a sincronia. Olho pra você e você ri.
Corremos.
Entre os carros, na faixa de pedestre, calçadas, grama.
E o meu cabelo fica todo bagunçado, mas eu não solto sua mão e você não solta a minha.
- De que estamos correndo?, você grita.
- Da dor, eu respondo.
Corremos,
ofegamos, eu paro um instante pra te dar um beijo, esmagar sua boca, vem, vem comigo.
Você vem.
Corremos, e eu danço, dançamos, uma dança louca e rápida, sem parar nunca, sem parar nunca.
Estou toda suada e você também, mas não paramos.
Você reclama de dor, mas não para de correr. Minhas pernas também doem.
- Não pare.
Corremos.
- Eu te amo, um de nós grita, e não sabemos quem foi, talvez só tenhamos passado por alguém que disse isso. Mas isso nos faz correr mais rápido, mais rápido, eu aperto a sua mão com mais força, não solte, não solte, não solte, mas eu sinto seu coração acelerar demais, sinto a dor, sinto seus dedos escorregarem
E você solta.
Corro de costas, sem desacelerar, e te vejo parar pra respirar. Não pare, me alcance.
Mas eu já sei que você nunca vai ser capaz de fazê-lo.
- Pra onde vai? - te ouço gritar, do fim da quadra, em meio à cacofonia de carros, buzinas, conversas.
Pra setembro.
Estou indo pra setembro.
Tem um lugar seguro pra mim lá.
Estou indo pra setembro.
Espero te ver lá.
Mas não espero mais nada.
Corro.
Te puxo pela mão, e corro, corro feito doida.
- Temos que ir.
Você não entende, mas corre, sem fazer perguntas.
Acelera, sentimos o sangue pulsar, a sincronia. Olho pra você e você ri.
Corremos.
Entre os carros, na faixa de pedestre, calçadas, grama.
E o meu cabelo fica todo bagunçado, mas eu não solto sua mão e você não solta a minha.
- De que estamos correndo?, você grita.
- Da dor, eu respondo.
Corremos,
ofegamos, eu paro um instante pra te dar um beijo, esmagar sua boca, vem, vem comigo.
Você vem.
Corremos, e eu danço, dançamos, uma dança louca e rápida, sem parar nunca, sem parar nunca.
Estou toda suada e você também, mas não paramos.
Você reclama de dor, mas não para de correr. Minhas pernas também doem.
- Não pare.
Corremos.
- Eu te amo, um de nós grita, e não sabemos quem foi, talvez só tenhamos passado por alguém que disse isso. Mas isso nos faz correr mais rápido, mais rápido, eu aperto a sua mão com mais força, não solte, não solte, não solte, mas eu sinto seu coração acelerar demais, sinto a dor, sinto seus dedos escorregarem
E você solta.
Corro de costas, sem desacelerar, e te vejo parar pra respirar. Não pare, me alcance.
Mas eu já sei que você nunca vai ser capaz de fazê-lo.
- Pra onde vai? - te ouço gritar, do fim da quadra, em meio à cacofonia de carros, buzinas, conversas.
Pra setembro.
Estou indo pra setembro.
Tem um lugar seguro pra mim lá.
Estou indo pra setembro.
Espero te ver lá.
Mas não espero mais nada.
Corro.
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29x10 Shia
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Um texto muito ruim e muito verdadeiro.
Acordo tarde, arranco meus olhos logo cedo, eu não quero mais ver nada, eu não quero mais passar por isso.
Lavo o rosto, escovo os dentes, tiro o gosto de morte da boca, derrubo a escova no chão e não me importo.
Tomo banho, sinto medo, e esfrego mais forte pra sair com a sujeira de mais uma noite que não dormi. O medo demora a sair, preciso arrancar a pele toda, esfrego, esfrego, esfrego, 4 vezes em cada lugar, até sair, até o cheiro sair, o cheiro de medo que todo mundo sente.
Saio do banheiro nova, úmida de sangue, cheirando a sabão. Visto sua pele, tiro sua pele, visto sua pele, tiro sua pele, me enrolo nela toda, não fica bem, coloco olhos novos e tento te ver de outra maneira, mas só quero vestir sua pele, só me sinto bem na sua pele.
Não consigo me decidir, saio de casa vestida de mim, a pele em carne viva, os olhos fundos.
Entro no carro, arranco os cabelos, dirijo rápido demais, me dá medo, sinto o cheiro, consigo sentir o cheiro, o gosto, a náusea.
Vejo você, não vejo você, vejo você, mas não é você, ainda não, o cheiro de medo fica cada vez mais forte, escorre, escorre dos poros feito ácido queimando tudo, mas a dor não significa nada, a dor não é nada perto da náusea.
Meus pés se inquietam, querem ir até você, querem estar perto de você, e eu não posso, agora não, mas não consigo contê-los.
Você me vê, diz
- Oi
E parece tão fácil, tão simples, que arranco minha língua e a coloco na sua mão, feito um desenho perturbador.
Você olha pr'aquilo, entre enojado e algo que eu não entendo o que é, dá de ombros, dá as costas.
Suo frio, a boca enche de sangue, que escorre, escorre verde e ácido, ora me faz engasgar, ora escorre, jorra da boca, e você nem vê.
Toco teu braço, a mão suja de sangue, de mim, de qualquer coisa, e você nem se vira. Tateio seu corpo, seu peito, seu pescoço, seu rosto. E arranco seus olhos, bem rápido, bem rápido, eu juro, porque não quero que você sinta dor.
Corro pro banheiro feito louca, é agora, é esse o momento em que eu entendo tudo, em que eu me entendo, em que eu finalmente vou saber se --
Aí olho pra mim mesma, suja de sangue, pele em carne viva, a boca escorrendo sem parar,
e sei o que devo fazer.
Pego os seus olhos, os dois de uma vez, cor de marte, nem sei,
E jogo na boca.
Mastigo.
Mastigo.
Mastigo.
E engulo.
Um texto muito ruim e muito verdadeiro.
Acordo tarde, arranco meus olhos logo cedo, eu não quero mais ver nada, eu não quero mais passar por isso.
Lavo o rosto, escovo os dentes, tiro o gosto de morte da boca, derrubo a escova no chão e não me importo.
Tomo banho, sinto medo, e esfrego mais forte pra sair com a sujeira de mais uma noite que não dormi. O medo demora a sair, preciso arrancar a pele toda, esfrego, esfrego, esfrego, 4 vezes em cada lugar, até sair, até o cheiro sair, o cheiro de medo que todo mundo sente.
Saio do banheiro nova, úmida de sangue, cheirando a sabão. Visto sua pele, tiro sua pele, visto sua pele, tiro sua pele, me enrolo nela toda, não fica bem, coloco olhos novos e tento te ver de outra maneira, mas só quero vestir sua pele, só me sinto bem na sua pele.
Não consigo me decidir, saio de casa vestida de mim, a pele em carne viva, os olhos fundos.
Entro no carro, arranco os cabelos, dirijo rápido demais, me dá medo, sinto o cheiro, consigo sentir o cheiro, o gosto, a náusea.
Vejo você, não vejo você, vejo você, mas não é você, ainda não, o cheiro de medo fica cada vez mais forte, escorre, escorre dos poros feito ácido queimando tudo, mas a dor não significa nada, a dor não é nada perto da náusea.
Meus pés se inquietam, querem ir até você, querem estar perto de você, e eu não posso, agora não, mas não consigo contê-los.
Você me vê, diz
- Oi
E parece tão fácil, tão simples, que arranco minha língua e a coloco na sua mão, feito um desenho perturbador.
Você olha pr'aquilo, entre enojado e algo que eu não entendo o que é, dá de ombros, dá as costas.
Suo frio, a boca enche de sangue, que escorre, escorre verde e ácido, ora me faz engasgar, ora escorre, jorra da boca, e você nem vê.
Toco teu braço, a mão suja de sangue, de mim, de qualquer coisa, e você nem se vira. Tateio seu corpo, seu peito, seu pescoço, seu rosto. E arranco seus olhos, bem rápido, bem rápido, eu juro, porque não quero que você sinta dor.
Corro pro banheiro feito louca, é agora, é esse o momento em que eu entendo tudo, em que eu me entendo, em que eu finalmente vou saber se --
Aí olho pra mim mesma, suja de sangue, pele em carne viva, a boca escorrendo sem parar,
e sei o que devo fazer.
Pego os seus olhos, os dois de uma vez, cor de marte, nem sei,
E jogo na boca.
Mastigo.
Mastigo.
Mastigo.
E engulo.
29x09 O som do trovão
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Bate à porta.
Abro, devagar, deixando a luz entrar aos pouquinhos. Não é você.
- Pai.
Long time no see.
Deixo que ele entre na casa escura, cuja única fonte de luz é a tela do computador.
Indico o sofá, e nos sentamos, lado a lado. Assistimos Homeland.
- Como vai você?
- Ok. - digo, sem desviar meus olhos da tela - O que você quer?
- Ver minha filha favorita?
- Você diz isso pra todas. - digo, mas ouvir isso sempre me traz uma espécie de satisfação infantil.
Ele acaricia meus cabelos, num cafuné desajeitado e incrível, que me faz sentir em casa.
Que me dá uma vontade gigantesca de chorar.
- Você me deixou sozinha. Eu não sabia o que fazer e você não estava aqui.
- Você tentou falar comigo?
- Não. Mas você sempre sabe tudo, você sempre sabe, e me deixou aqui. Eu não conseguia respirar. Eu não conseguia fazer nada.
- Eu sei.
- Você podia ter me deixado um recado, você podia ter feito tanta coisa. Se você estivesse aqui, talvez-- Talvez nada daquilo tivesse acontecido. Talvez estivesse tudo ok.
- Eu sei.
- Eu tô tão perdida, eu não sei mais o que é certo e o que é errado, eu não quero mais ter que dizer nada ou fazer nada, eu tô cansada e eu precisava de você aqui.
- Eu sei.
- Mas você não veio. Ninguém veio. E eu não sabia pra onde ir.
- Eu sei.
- Mas eu consegui me sentir melhor. Não, melhor não. Mas doeu menos. Eu consegui algumas distrações haha. Um monte de seriado, na verdade. Tantos, tantos, tantos. Você não estava aqui, mas eu tive uma noite tão horrível, e eu achei que a dor não fosse passar nunca, eu achei que não ia conseguir, mas... Uma temporada inteira de Downton Abbey depois, e eu tô aqui. Então, sempre que dói, sempre que dói muito e eu acho que não vai dar, eu só faço isso. É estúpido, mas dói menos, eu juro. Você não estava aqui, você não veio, então eu resolvi tudo sozinha.
Deito a cabeça no ombro dele, certa da minha própria força, certa de que consegui sozinha todos esses meses, um pouco triste por não precisar mais dele, do meu velho pai, pra me ajudar a continuar.
Ficamos em silêncio até o episódio acabar, aí ele me beija na testa e vai saindo devagarinho, me deixando de novo. Vai até a porta, para.
- Eu tô feliz, B. Por você ter chegado até aqui sozinha. Sem pedir minha ajuda. por estar conseguindo se encontrar aos pouquinhos.
Pausa. Sorri, daquele jeito espertinho.
- Mas você sabe que fui eu quem pagou as contas do Netflix, né? (:
Bate à porta.
Abro, devagar, deixando a luz entrar aos pouquinhos. Não é você.
- Pai.
Long time no see.
Deixo que ele entre na casa escura, cuja única fonte de luz é a tela do computador.
Indico o sofá, e nos sentamos, lado a lado. Assistimos Homeland.
- Como vai você?
- Ok. - digo, sem desviar meus olhos da tela - O que você quer?
- Ver minha filha favorita?
- Você diz isso pra todas. - digo, mas ouvir isso sempre me traz uma espécie de satisfação infantil.
Ele acaricia meus cabelos, num cafuné desajeitado e incrível, que me faz sentir em casa.
Que me dá uma vontade gigantesca de chorar.
- Você me deixou sozinha. Eu não sabia o que fazer e você não estava aqui.
- Você tentou falar comigo?
- Não. Mas você sempre sabe tudo, você sempre sabe, e me deixou aqui. Eu não conseguia respirar. Eu não conseguia fazer nada.
- Eu sei.
- Você podia ter me deixado um recado, você podia ter feito tanta coisa. Se você estivesse aqui, talvez-- Talvez nada daquilo tivesse acontecido. Talvez estivesse tudo ok.
- Eu sei.
- Eu tô tão perdida, eu não sei mais o que é certo e o que é errado, eu não quero mais ter que dizer nada ou fazer nada, eu tô cansada e eu precisava de você aqui.
- Eu sei.
- Mas você não veio. Ninguém veio. E eu não sabia pra onde ir.
- Eu sei.
- Mas eu consegui me sentir melhor. Não, melhor não. Mas doeu menos. Eu consegui algumas distrações haha. Um monte de seriado, na verdade. Tantos, tantos, tantos. Você não estava aqui, mas eu tive uma noite tão horrível, e eu achei que a dor não fosse passar nunca, eu achei que não ia conseguir, mas... Uma temporada inteira de Downton Abbey depois, e eu tô aqui. Então, sempre que dói, sempre que dói muito e eu acho que não vai dar, eu só faço isso. É estúpido, mas dói menos, eu juro. Você não estava aqui, você não veio, então eu resolvi tudo sozinha.
Deito a cabeça no ombro dele, certa da minha própria força, certa de que consegui sozinha todos esses meses, um pouco triste por não precisar mais dele, do meu velho pai, pra me ajudar a continuar.
Ficamos em silêncio até o episódio acabar, aí ele me beija na testa e vai saindo devagarinho, me deixando de novo. Vai até a porta, para.
- Eu tô feliz, B. Por você ter chegado até aqui sozinha. Sem pedir minha ajuda. por estar conseguindo se encontrar aos pouquinhos.
Pausa. Sorri, daquele jeito espertinho.
- Mas você sabe que fui eu quem pagou as contas do Netflix, né? (:
29x08 Revulsion
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Imagem: TingTing Huang
L. me liga, me pergunta com quem estou, onde estou, quem eu sou.
Respondo que não.
Eu não,
Eu não tô.
E também não sou.
- Você pode vir me buscar?
E ela sai de longe, de tão longe, de um lugar que eu pensava que nem existisse mais, só pra me buscar onde quer que eu esteja.
- Qual é o teu problema? - ela pergunta, e eu me encolho no banco do carona, até sumir. - É a faculdade? É a porra toda?
Não.
Mas eu não respondo.
Eu não encontro os sons.
Eu não encontro mais nada.
Quero dizer
Eu tô perdida
Mas já sabemos disso.
Tudo em mim grita isso.
- Pare o carro, eu digo, eu quero vomitar.
E eu vomito no acostamento até ficar trêmula e fraca.
- Vem, eu te levo pra casa, ela diz, com a voz meio assustada, meio triste.
- Onde fica?, eu pergunto.
Ela olha pra mim, com aqueles olhões elétricos,
e não diz nada.
Às vezes, a gente só sabe,
Às vezes, a gente esquece.
Às vezes, a resposta é pura, simples, clara:
Não.
L. me liga, me pergunta com quem estou, onde estou, quem eu sou.
Respondo que não.
Eu não,
Eu não tô.
E também não sou.
- Você pode vir me buscar?
E ela sai de longe, de tão longe, de um lugar que eu pensava que nem existisse mais, só pra me buscar onde quer que eu esteja.
- Qual é o teu problema? - ela pergunta, e eu me encolho no banco do carona, até sumir. - É a faculdade? É a porra toda?
Não.
Mas eu não respondo.
Eu não encontro os sons.
Eu não encontro mais nada.
Quero dizer
Eu tô perdida
Mas já sabemos disso.
Tudo em mim grita isso.
- Pare o carro, eu digo, eu quero vomitar.
E eu vomito no acostamento até ficar trêmula e fraca.
- Vem, eu te levo pra casa, ela diz, com a voz meio assustada, meio triste.
- Onde fica?, eu pergunto.
Ela olha pra mim, com aqueles olhões elétricos,
e não diz nada.
Às vezes, a gente só sabe,
Às vezes, a gente esquece.
Às vezes, a resposta é pura, simples, clara:
Não.
29x07 One last dance
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Eu to tentando escrever sobre você. E não sai.
Não sai a história de como fomos pro shopping e
Não sai a história de como a gente se gostou por um tempo, de como foi bom.
Não sai nada.
Não sai a história de como eu procurava seu rosto pra me acalmar, de como eu sempre acreditei em tudo o que você disse.
Não sai a história de como você me abraçava e eu não queria mais ir embora, da época em que a única coisa da qual eu tinha certeza na vida era de que a gente iria se casar.
Não sai a história de como a gente se conheceu. Daquele dia horrível que eu estava tendo, dos seus olhos apertados e tímidos, da sua cara de quem leva cães perdidos como eu pra casa e cuida até que eles possam ir embora sem dizer obrigada.
Você me encontrou exatamente nessa situação em que eu estou, perdida, suja e confusa. E saber que você não vai mais estar por aí pra me resgatar, pra me dar de comer e me ensinar o que é certo ou errado, bom
Não me assusta.
Porque você esteve aqui.
Pra me ensinar a ter coragem, a fazer sacrifícios quando amo alguém - por mais que doa pra sempre -, pra me ensinar a ser persistente e inteligente, a ajudar meus amigos a aceitarem quem são, a aceitar o que me cabe, a ser má sem deixar de ser boa, a ter medo sem nunca deixar que isso me afete, a fazer o que tiver que ser feito e deixar a dor me enlouquecer de vez em quando.
Eu te desejo tudo tudo tudo o que você sonhou, cada detalhe perfeito.
Cuide-se.
Não se esqueça de se agasalhar bem, comer direito, usar roupas cinzentas, lavar os cabelos, ouvir músicas boas.
Não se esqueça de dizer o que sente quando tiver a chance de fazê-lo.
Boa noite,
Durma bem.
Eu to tentando escrever sobre você. E não sai.
Não sai a história de como fomos pro shopping e
Não sai a história de como a gente se gostou por um tempo, de como foi bom.
Não sai nada.
Não sai a história de como eu procurava seu rosto pra me acalmar, de como eu sempre acreditei em tudo o que você disse.
Não sai a história de como você me abraçava e eu não queria mais ir embora, da época em que a única coisa da qual eu tinha certeza na vida era de que a gente iria se casar.
Não sai a história de como a gente se conheceu. Daquele dia horrível que eu estava tendo, dos seus olhos apertados e tímidos, da sua cara de quem leva cães perdidos como eu pra casa e cuida até que eles possam ir embora sem dizer obrigada.
Você me encontrou exatamente nessa situação em que eu estou, perdida, suja e confusa. E saber que você não vai mais estar por aí pra me resgatar, pra me dar de comer e me ensinar o que é certo ou errado, bom
Não me assusta.
Porque você esteve aqui.
Pra me ensinar a ter coragem, a fazer sacrifícios quando amo alguém - por mais que doa pra sempre -, pra me ensinar a ser persistente e inteligente, a ajudar meus amigos a aceitarem quem são, a aceitar o que me cabe, a ser má sem deixar de ser boa, a ter medo sem nunca deixar que isso me afete, a fazer o que tiver que ser feito e deixar a dor me enlouquecer de vez em quando.
Eu te desejo tudo tudo tudo o que você sonhou, cada detalhe perfeito.
Cuide-se.
Não se esqueça de se agasalhar bem, comer direito, usar roupas cinzentas, lavar os cabelos, ouvir músicas boas.
Não se esqueça de dizer o que sente quando tiver a chance de fazê-lo.
Boa noite,
Durma bem.
29x06 Dinamarca
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Estava bêbada.
Estou sempre bêbada.
Os verbos se tornam pó debaixo da língua e eu não sinto dor, eu não sou nada.
A música alta me tira do prumo, e eu deito, eu me encolho e cresço, as pessoas me imprensam, me apertam e a física se curva, tudo ocupa o mesmo lugar, tudo é a mesma coisa.
Eu não sei quem sou. E isso é verdade, mais do que nunca, e é a única coisa que existe.
Um cara me olha, me pede um beijo e eu não sei se quero, eu não sei se não quero. Nos beijamos e eu não quero mais vê-lo de novo.
Respiro fundo, fumaça de cigarro, eu fumo, mesmo não fumando, porque eu não sei quem eu sou.
Uma garota me pergunta se beijo garotas. Digo que não, eu não beijo. (Estou esperando a garota certa, quero dizer, mas não digo)
Dançamos juntas, amigas agora. E eu não olho pra nada, pra ninguém, caminhamos por aí trocando olhares e eu não sinto meus pés.
- Ei, aquela garota é a ex do meu ex namorado, ó, digo, no meu estupor alcoólico. Mas eu também sou a ex do meu ex namorado. - digo isso não sei pra quem, não sei o porquê e rio, como se fosse muito engraçado, mas não é, é nada, é a verdade e a verdade não tem vez aqui.
Encontramos um cara que eu beijei na outra noite e ele me olha incerto, não sabe se me lembro dele, se vamos nos beijar de novo, acho graça, mas é claro que não.
Mas aí encontro outro cara, quebro minha regra, nos beijamos de novo e é bom, mas calma, eu tô bêbada demais pra me importar com o fato de que isso não significa nada. Quero ir lá pra dentro, quero ficar no escuro, onde sou bonita, onde ninguém me vê.
Caminhamos, eu encontro um cara, nos beijamos, qual é teu nome 'Camila' (minto e não minto, porque não quero mais te ver), e o teu 'Bernardo' (Bernardo nem soa como um nome de verdade, ele me conta que vai pra Dinamarca e eu não ligo, não dou a mínima) me beija, e a gente se beija e não é tão bom quanto eu gostaria que fosse, mas eu não sei exatamente o que é que eu estou procurando. Digo tchau, vai procurar outra garota pro que quer que seja.
E eu ando, zonza, tentando não cair e não esbarrar em ninguém, eu não sei mais o que eu quero da vida. Tento me lembrar do porquê faz tanto sentido beijar essas pessoas e não me lembro, sinto vontade de me sentar, mas não posso, não posso, eu preciso achar a pessoa certa, só precisa ser a pessoa certa.
O primeiro cara me pede um beijo de novo, diz que meu beijo é incrível, algo sobre como ele se sentiu e eu não quero saber, eu não quero ouvir, me beija,
não, não é esse, definitivamente não é esse
Danço, e o cara da outra festa me vê, vem falar comigo
'Oi, você lembra de mim?' Digo que sim, não vejo sentido em mentir, a gente ficou e nem foi ruim, 'Eu lembro que você faz medicina, mas não lembro seu nome', ah, cara, eu tenho que parar de falar que faço medicina, disso todo mundo lembra, acho irônico e triste que a porra da medicina seja a coisa mais grandiosa que eu vá fazer com minha vida merda, mesmo pra esses caras. Digo pra ele 'Eu lembro teu nome', ele parece meio tenso por isso, ainda bem que sou boa com nomes e em constranger as pessoas, ele me pede pra dizer o meu e eu resolvo tudo com um 'vai ter que lembrar sozinho', aí é adeus e eu volto pra essa busca insana por nada e por qualquer coisa que signifique algo.
Danço e um cara me olha, mas eu já estou quase sóbria, sóbria o bastante pra querer beijar o amigo dele, o que ferra tudo, porque eu não fico com amigos de caras que querem ficar comigo. Acho horrível.
Ele se aproxima e meu amigo grita "Não vai ficar com ela, ela é minha". E eu digo, meio bêbada, "NÃO SOU NÃO", e me arrependo logo em seguida porque parece interesse e não é: é desespero.
Ele me empurra pro King, e nos beijamos de novo, e acho que ambos já nos cansamos um do outro, já sugamos toda a vontade possível dos pulmões um do outro e nossas línguas já se movem de forma quase automática. Eu não ferro com as coisas, mas tô cansada das coisas que não significam nada, e eu só quero que ele tenha beijado 50 outras meninas e que tenha sido mil vezes melhor. Porque eu não tenho mais forças pra isso. Pra toda essa estupidez, toda essa insanidade.
Quero ir pra casa, mas não dá, eu não tenho pra onde ir.
Ele vai embora e eu fico, eu danço, eu pulo, eu preciso disso, eu preciso ficar, eu preciso não voltar pra casa, eu preciso disso.
Aí o amigo do outro cara volta e começa a dançar do meu lado e eu suponho que deveria achar legal o fato de ele querer ficar comigo mesmo depois de eu ter beijado outro cara na frente dele, mas só acho triste, tremendamente triste. Porque eu não sou ninguém, eu estou suja e cansada, e não sinto nem vontade de tentar.
Ele não desiste, dança e olha pra mim como quem diz "eu quero você e pronto".
Daí se cansa, se aproxima e usa aquela velha frase "Eu ia esperar mais, mas você é muito linda e eu preciso te beijar".
De repente, sinto que tenho 80 anos, ou 100 ou mil e que já vi aquela cena tantas vezes tantas vezes. Mas ele é jovem, e quer beijar uma droga de garota que já deve ter pego zilhões de bactérias da boca de outras pessoas, e vai que é ele, vai que é esse e não o amigo dele, vai que os planetas se alinham e
Bom, não.
Não era ele. A gente se beija e eu faço aquelas coisas que eu faço, automaticamente. Estou certa de que ele deve ser um cara legal, deve merecer mais do que isso, digo isso a ele, em outras palavras, mas ele balança a cabeça, "eu queria você".
Ele pergunta meu nome, o que faço da vida, here we go 'Camila, psicologia', e de repente eu só sei que nunca mais vou falar meu nome de novo.
Aí acaba, sempre acaba, adeus, adeus.
Todo mundo vai embora e só a gente fica - James e eu- , dançando as músicas do final, com uns caras engraçados, até a manhã quase chegar.
Quando ela chega, estamos onde sempre acabamos, em casa, sentados, cheirando a cigarro, bebida e suor, gosto de morte na boca,
- Acho melhor a gente dar um tempo dessas festas. Muita gente conhecida. Que não quero ver de novo.
- Yep. De acordo.
Aí a gente dorme, e o significado dessas coisas se perde, pra nunca mais ser encontrado.
Ainda bem.
Estava bêbada.
Estou sempre bêbada.
Os verbos se tornam pó debaixo da língua e eu não sinto dor, eu não sou nada.
A música alta me tira do prumo, e eu deito, eu me encolho e cresço, as pessoas me imprensam, me apertam e a física se curva, tudo ocupa o mesmo lugar, tudo é a mesma coisa.
Eu não sei quem sou. E isso é verdade, mais do que nunca, e é a única coisa que existe.
Um cara me olha, me pede um beijo e eu não sei se quero, eu não sei se não quero. Nos beijamos e eu não quero mais vê-lo de novo.
Respiro fundo, fumaça de cigarro, eu fumo, mesmo não fumando, porque eu não sei quem eu sou.
Uma garota me pergunta se beijo garotas. Digo que não, eu não beijo. (Estou esperando a garota certa, quero dizer, mas não digo)
Dançamos juntas, amigas agora. E eu não olho pra nada, pra ninguém, caminhamos por aí trocando olhares e eu não sinto meus pés.
- Ei, aquela garota é a ex do meu ex namorado, ó, digo, no meu estupor alcoólico. Mas eu também sou a ex do meu ex namorado. - digo isso não sei pra quem, não sei o porquê e rio, como se fosse muito engraçado, mas não é, é nada, é a verdade e a verdade não tem vez aqui.
Encontramos um cara que eu beijei na outra noite e ele me olha incerto, não sabe se me lembro dele, se vamos nos beijar de novo, acho graça, mas é claro que não.
Mas aí encontro outro cara, quebro minha regra, nos beijamos de novo e é bom, mas calma, eu tô bêbada demais pra me importar com o fato de que isso não significa nada. Quero ir lá pra dentro, quero ficar no escuro, onde sou bonita, onde ninguém me vê.
Caminhamos, eu encontro um cara, nos beijamos, qual é teu nome 'Camila' (minto e não minto, porque não quero mais te ver), e o teu 'Bernardo' (Bernardo nem soa como um nome de verdade, ele me conta que vai pra Dinamarca e eu não ligo, não dou a mínima) me beija, e a gente se beija e não é tão bom quanto eu gostaria que fosse, mas eu não sei exatamente o que é que eu estou procurando. Digo tchau, vai procurar outra garota pro que quer que seja.
E eu ando, zonza, tentando não cair e não esbarrar em ninguém, eu não sei mais o que eu quero da vida. Tento me lembrar do porquê faz tanto sentido beijar essas pessoas e não me lembro, sinto vontade de me sentar, mas não posso, não posso, eu preciso achar a pessoa certa, só precisa ser a pessoa certa.
O primeiro cara me pede um beijo de novo, diz que meu beijo é incrível, algo sobre como ele se sentiu e eu não quero saber, eu não quero ouvir, me beija,
não, não é esse, definitivamente não é esse
Danço, e o cara da outra festa me vê, vem falar comigo
'Oi, você lembra de mim?' Digo que sim, não vejo sentido em mentir, a gente ficou e nem foi ruim, 'Eu lembro que você faz medicina, mas não lembro seu nome', ah, cara, eu tenho que parar de falar que faço medicina, disso todo mundo lembra, acho irônico e triste que a porra da medicina seja a coisa mais grandiosa que eu vá fazer com minha vida merda, mesmo pra esses caras. Digo pra ele 'Eu lembro teu nome', ele parece meio tenso por isso, ainda bem que sou boa com nomes e em constranger as pessoas, ele me pede pra dizer o meu e eu resolvo tudo com um 'vai ter que lembrar sozinho', aí é adeus e eu volto pra essa busca insana por nada e por qualquer coisa que signifique algo.
Danço e um cara me olha, mas eu já estou quase sóbria, sóbria o bastante pra querer beijar o amigo dele, o que ferra tudo, porque eu não fico com amigos de caras que querem ficar comigo. Acho horrível.
Ele se aproxima e meu amigo grita "Não vai ficar com ela, ela é minha". E eu digo, meio bêbada, "NÃO SOU NÃO", e me arrependo logo em seguida porque parece interesse e não é: é desespero.
Ele me empurra pro King, e nos beijamos de novo, e acho que ambos já nos cansamos um do outro, já sugamos toda a vontade possível dos pulmões um do outro e nossas línguas já se movem de forma quase automática. Eu não ferro com as coisas, mas tô cansada das coisas que não significam nada, e eu só quero que ele tenha beijado 50 outras meninas e que tenha sido mil vezes melhor. Porque eu não tenho mais forças pra isso. Pra toda essa estupidez, toda essa insanidade.
Quero ir pra casa, mas não dá, eu não tenho pra onde ir.
Ele vai embora e eu fico, eu danço, eu pulo, eu preciso disso, eu preciso ficar, eu preciso não voltar pra casa, eu preciso disso.
Aí o amigo do outro cara volta e começa a dançar do meu lado e eu suponho que deveria achar legal o fato de ele querer ficar comigo mesmo depois de eu ter beijado outro cara na frente dele, mas só acho triste, tremendamente triste. Porque eu não sou ninguém, eu estou suja e cansada, e não sinto nem vontade de tentar.
Ele não desiste, dança e olha pra mim como quem diz "eu quero você e pronto".
Daí se cansa, se aproxima e usa aquela velha frase "Eu ia esperar mais, mas você é muito linda e eu preciso te beijar".
De repente, sinto que tenho 80 anos, ou 100 ou mil e que já vi aquela cena tantas vezes tantas vezes. Mas ele é jovem, e quer beijar uma droga de garota que já deve ter pego zilhões de bactérias da boca de outras pessoas, e vai que é ele, vai que é esse e não o amigo dele, vai que os planetas se alinham e
Bom, não.
Não era ele. A gente se beija e eu faço aquelas coisas que eu faço, automaticamente. Estou certa de que ele deve ser um cara legal, deve merecer mais do que isso, digo isso a ele, em outras palavras, mas ele balança a cabeça, "eu queria você".
Ele pergunta meu nome, o que faço da vida, here we go 'Camila, psicologia', e de repente eu só sei que nunca mais vou falar meu nome de novo.
Aí acaba, sempre acaba, adeus, adeus.
Todo mundo vai embora e só a gente fica - James e eu- , dançando as músicas do final, com uns caras engraçados, até a manhã quase chegar.
Quando ela chega, estamos onde sempre acabamos, em casa, sentados, cheirando a cigarro, bebida e suor, gosto de morte na boca,
- Acho melhor a gente dar um tempo dessas festas. Muita gente conhecida. Que não quero ver de novo.
- Yep. De acordo.
Aí a gente dorme, e o significado dessas coisas se perde, pra nunca mais ser encontrado.
Ainda bem.
29x05 Quando o amor não bater mais na aorta
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
(O amor bate na aorta - Carlos Drummond de Andrade)
Mundo de cabeça pra baixo, sem eira nem beira.
Alguém me diz que o amor, seja como for, é o amor.
Não acredito, apago as luzes e fecho os olhos, me faço de cega, tento dormir e não consigo.
Meu bem, não chores,
hoje tem filme do Carlito.
Mas já não rio, não me emociono.
Porém, assisto.
Uma, duas, três, dez vezes, não durmo, não fecho os olhos, não acordo, não vivo, não como, as olheiras dobrando, triplicando de tamanho e meus pais reclamam, não quero não quero mais, vou pra casa, apago as luzes, fecho os olhos pra não ver a manhã clara chegar.
O amor bate na porta
O amor bate na aorta,
Não me levanto pra abrir.
Bate em vão.
Uma vez abri e me constipei, não quero que aconteça de novo.
Cardíaco e melancólico, ele se põe a roncar na horta, faz barulho, me irrita, não abro, os desejos já maduros a despencar e explodir sobre as cabeças de pessoas que não amo, que não pretendo amar.
Entre uvas meio verdes, meu amor, não te atormentes, ele diz, quando os dentes não mordem, e quando os braços não prendem, o amor faz uma cócega
Mas eu não sorrio, me afasto.
O amor desenha uma curva, propõe uma geometria, mas eu não entendo, nunca fui boa nisso, e peço pra ir embora.
Amor é bicho instruído. Eu não sou.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Não me surpreendo. Fico olhando, de longe, enquanto um monte de gente chega carregando coisas desnecessárias: toalhas, água quente, esparadrapo, band-aids, conselhos, lenços de papel, filmes da Sandra Bullock e da Julia Roberts.
Queria que saíssem de perto, que o deixassem sozinho. Não tem o que fazer.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo corpos, vejo almas
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que conversam
e que viajam sem mapa.
Mas não é amor. É uma mistura de desespero, espera, vontade, dor, fúria, solidão, uma caixa de pandora
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender...
Então sento, espero que ele se recupere, pule outro muro, bata na porta. Uma, duas, três, dez vezes.
Uma hora dessas eu abro,
uma hora dessas vou abrir
e me constipar,
que a vida não tem a mesma graça quando não se está irremediavelmente
doente.
(O amor bate na aorta - Carlos Drummond de Andrade)
Mundo de cabeça pra baixo, sem eira nem beira.
Alguém me diz que o amor, seja como for, é o amor.
Não acredito, apago as luzes e fecho os olhos, me faço de cega, tento dormir e não consigo.
Meu bem, não chores,
hoje tem filme do Carlito.
Mas já não rio, não me emociono.
Porém, assisto.
Uma, duas, três, dez vezes, não durmo, não fecho os olhos, não acordo, não vivo, não como, as olheiras dobrando, triplicando de tamanho e meus pais reclamam, não quero não quero mais, vou pra casa, apago as luzes, fecho os olhos pra não ver a manhã clara chegar.
O amor bate na porta
O amor bate na aorta,
Não me levanto pra abrir.
Bate em vão.
Uma vez abri e me constipei, não quero que aconteça de novo.
Cardíaco e melancólico, ele se põe a roncar na horta, faz barulho, me irrita, não abro, os desejos já maduros a despencar e explodir sobre as cabeças de pessoas que não amo, que não pretendo amar.
Entre uvas meio verdes, meu amor, não te atormentes, ele diz, quando os dentes não mordem, e quando os braços não prendem, o amor faz uma cócega
Mas eu não sorrio, me afasto.
O amor desenha uma curva, propõe uma geometria, mas eu não entendo, nunca fui boa nisso, e peço pra ir embora.
Amor é bicho instruído. Eu não sou.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Não me surpreendo. Fico olhando, de longe, enquanto um monte de gente chega carregando coisas desnecessárias: toalhas, água quente, esparadrapo, band-aids, conselhos, lenços de papel, filmes da Sandra Bullock e da Julia Roberts.
Queria que saíssem de perto, que o deixassem sozinho. Não tem o que fazer.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo corpos, vejo almas
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que conversam
e que viajam sem mapa.
Mas não é amor. É uma mistura de desespero, espera, vontade, dor, fúria, solidão, uma caixa de pandora
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender...
Então sento, espero que ele se recupere, pule outro muro, bata na porta. Uma, duas, três, dez vezes.
Uma hora dessas eu abro,
uma hora dessas vou abrir
e me constipar,
que a vida não tem a mesma graça quando não se está irremediavelmente
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29x04 Encosto
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
"Que dê tudo certo
Que você não engravide
Que você se sinta contente na med
E ache seu rumo
E se desfaça do encosto do seu ex"
Desejos de ano novo de uma grande amiga.
Fiquei comovida na hora, ela tem esse dom.
Mas ó, o encosto sou eu.
Eu é quem andei me frustrando e me impedindo de sentir qualquer coisa. Eu já não tomava decisões muito antes dessa bagunça toda.
Já era incapaz de dizer não, já não me amava o bastante.
Não preciso que ninguém me quebre, ó, eu já vim com defeito.
E não, em homenagem a você, não dou a mínima. Não tenho culpa, sou quem sou e gosto.
Vim quebrada sim, e isso fez de mim uma edição limitada, one of a kind.
(:
Lavo meus cabelos, exorcizo meus espíritos ruins, como se o cheiro de xampu me protegesse de todo e qualquer pensamento ruim. Sempre sobra algum e esse eu carrego comigo, dou a mão e levo, e não ligo, sou quem sou.
Vou ficar com o olhar perdido no meio da festa, querer ir embora cedo demais, vou escrever sobre tudo o que há de ruim e vou me detestar às vezes (BASTANTE), vou pedir desculpas demais, falar daquele meu jeito que faz parecer que sou uma vítima mas é só mesmo meu tom de voz da diplomacia meia boca, jantar com meu melhor amigo se sentir vontade, deixando o mundo todo pra trás e vou sumir sumir sumir por dias a fio e voltar como se o mundo estivesse exatamente no mesmo lugar, eu vou me vestir com as roupas mais esdrúxulas, e dizer as coisas mais estúpidas, e depois vou me esconder embaixo das cobertas e não chorar nunca
Porque eu sou meu próprio encosto, ó. Tá tudo aqui, me assombrando, me paralisando, me enlouquecendo, me arruinando. Mas tem tudo de incrível aqui também. Tá aqui ó.
Love it or leave it.
"Que dê tudo certo
Que você não engravide
Que você se sinta contente na med
E ache seu rumo
E se desfaça do encosto do seu ex"
Desejos de ano novo de uma grande amiga.
Fiquei comovida na hora, ela tem esse dom.
Mas ó, o encosto sou eu.
Eu é quem andei me frustrando e me impedindo de sentir qualquer coisa. Eu já não tomava decisões muito antes dessa bagunça toda.
Já era incapaz de dizer não, já não me amava o bastante.
Não preciso que ninguém me quebre, ó, eu já vim com defeito.
E não, em homenagem a você, não dou a mínima. Não tenho culpa, sou quem sou e gosto.
Vim quebrada sim, e isso fez de mim uma edição limitada, one of a kind.
(:
Lavo meus cabelos, exorcizo meus espíritos ruins, como se o cheiro de xampu me protegesse de todo e qualquer pensamento ruim. Sempre sobra algum e esse eu carrego comigo, dou a mão e levo, e não ligo, sou quem sou.
Vou ficar com o olhar perdido no meio da festa, querer ir embora cedo demais, vou escrever sobre tudo o que há de ruim e vou me detestar às vezes (BASTANTE), vou pedir desculpas demais, falar daquele meu jeito que faz parecer que sou uma vítima mas é só mesmo meu tom de voz da diplomacia meia boca, jantar com meu melhor amigo se sentir vontade, deixando o mundo todo pra trás e vou sumir sumir sumir por dias a fio e voltar como se o mundo estivesse exatamente no mesmo lugar, eu vou me vestir com as roupas mais esdrúxulas, e dizer as coisas mais estúpidas, e depois vou me esconder embaixo das cobertas e não chorar nunca
Porque eu sou meu próprio encosto, ó. Tá tudo aqui, me assombrando, me paralisando, me enlouquecendo, me arruinando. Mas tem tudo de incrível aqui também. Tá aqui ó.
Love it or leave it.
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29x03 Quase sem querer
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Deixa eu te falar,
acabei de me dar conta de que andei ouvindo só a estática no rádio. Andei não ouvindo a estática.
Estava longe, longe, num futuro em que eu sei o gosto da sua boca, você me passa o braço pelos ombros, me aquece, e não ficamos estranhos quando estamos muito próximos.
Estava longe, tomando café com você, sentada em cadeiras num jardim de pedra, lendo meus livros em cadeiras de armar, num fim de semana que nunca vai acontecer.
Estava sentada contando como a gente não se conheceu e resolveu não namorar, como a gente dá certo, como a gente fica bem junto.
Lembrei até de uma noite que nunca aconteceu, em que a gente se beijou e você decidiu que queria continuar fazendo isso.
Aí acordei, rádio chiando alto, e dei risada, mudei de estação, sacudi você por um instante, sem sacudir a ideia de que, talvez, sabe, nós dois
talvez não seja má ideia
Aí a Zélia começa a cantar e, de repente, eu me dou conta de que não sei mais do que é que tinha medo, aquele medo sobre o qual só você sabe de forma palpável, aquele medo que não era de ficar só, mas era e eu não sei explicar.
Eu não entendo mais aquela sensação de só querer que a dor passasse, de implorar que alguém viesse e me levasse embora em um cavalo branco ou só me desse a mão e não soltasse, aquele medo de que ninguém mais fosse me amar,
"E ainda estou confuso,
Só que agora é diferente
Estou tão tranquilo e tão contente"
E é exatamente isso. Eu ainda não quero amar ninguém, não quero mais brigar, não quero mais lutar. Eu não quero mais ferir ninguém, pelo menos não agora.
Eu tô bem, eu tô ficando bem. At last.
A música continua, me levando pros últimos meses, todo aquele esforço hercúleo, carregando toda aquele desamor e fúria, contendo em mim a dor de um milhão de oportunidades perdidas, tentando desesperadamente provar que eu não precisava provar nada. Provar que eu não sentia mais nada.
Eu não quero que a gente aconteça só pra ficar junto. Eu quero que a gente aconteça pra dar certo, e eu não quero dar certo agora.
Eu quero mais, eu quero tudo, eu quero qualquer coisa, e quero que você também queira mais do que isso, mais do que juntar a minha tristeza e a tua.
Eu quero dançar a madrugada inteira e chegar em casa com o joelho estourado, eu quero achar todos os garotos bonitos, quero me apaixonar por você de verdade, quero que meu coração bata mais forte um dia desses, descontrolado, furioso, eu quero querer te beijar a todo o instante, não quero amores calmos, quero tudo a que tenho direito, quero você por inteiro, não quero juntar pedaços, não quero migalhas.
Não quero mais me contentar com pouco.
E nem quero que você queira.
Deixa assim.
Vamos ver no que dá.
Deixa eu te falar,
acabei de me dar conta de que andei ouvindo só a estática no rádio. Andei não ouvindo a estática.
Estava longe, longe, num futuro em que eu sei o gosto da sua boca, você me passa o braço pelos ombros, me aquece, e não ficamos estranhos quando estamos muito próximos.
Estava longe, tomando café com você, sentada em cadeiras num jardim de pedra, lendo meus livros em cadeiras de armar, num fim de semana que nunca vai acontecer.
Estava sentada contando como a gente não se conheceu e resolveu não namorar, como a gente dá certo, como a gente fica bem junto.
Lembrei até de uma noite que nunca aconteceu, em que a gente se beijou e você decidiu que queria continuar fazendo isso.
Aí acordei, rádio chiando alto, e dei risada, mudei de estação, sacudi você por um instante, sem sacudir a ideia de que, talvez, sabe, nós dois
talvez não seja má ideia
Aí a Zélia começa a cantar e, de repente, eu me dou conta de que não sei mais do que é que tinha medo, aquele medo sobre o qual só você sabe de forma palpável, aquele medo que não era de ficar só, mas era e eu não sei explicar.
Eu não entendo mais aquela sensação de só querer que a dor passasse, de implorar que alguém viesse e me levasse embora em um cavalo branco ou só me desse a mão e não soltasse, aquele medo de que ninguém mais fosse me amar,
"E ainda estou confuso,
Só que agora é diferente
Estou tão tranquilo e tão contente"
E é exatamente isso. Eu ainda não quero amar ninguém, não quero mais brigar, não quero mais lutar. Eu não quero mais ferir ninguém, pelo menos não agora.
Eu tô bem, eu tô ficando bem. At last.
A música continua, me levando pros últimos meses, todo aquele esforço hercúleo, carregando toda aquele desamor e fúria, contendo em mim a dor de um milhão de oportunidades perdidas, tentando desesperadamente provar que eu não precisava provar nada. Provar que eu não sentia mais nada.
Eu não quero que a gente aconteça só pra ficar junto. Eu quero que a gente aconteça pra dar certo, e eu não quero dar certo agora.
Eu quero mais, eu quero tudo, eu quero qualquer coisa, e quero que você também queira mais do que isso, mais do que juntar a minha tristeza e a tua.
Eu quero dançar a madrugada inteira e chegar em casa com o joelho estourado, eu quero achar todos os garotos bonitos, quero me apaixonar por você de verdade, quero que meu coração bata mais forte um dia desses, descontrolado, furioso, eu quero querer te beijar a todo o instante, não quero amores calmos, quero tudo a que tenho direito, quero você por inteiro, não quero juntar pedaços, não quero migalhas.
Não quero mais me contentar com pouco.
E nem quero que você queira.
Deixa assim.
Vamos ver no que dá.
29x02 The night after
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Acordo, ressaca leve de mojitos, falo com Holden, tô chateada
Descubro uma barata na minha cama. Feito G.H., tenho uma dessas epifanias baratas e meu dia simplesmente se torna um desses dias depois.
Ok, ontem não foi legal.
Mas foi só a primeira festa do ano, penso comigo. E eu não tenho que me divertir sempre que saio. Nem tudo é bom.
Tomo banho, olho as roupas em cima da cama. Tudo escuro, tudo igual a todos os dias. Não corro riscos.
Roupas de sair.
Dou uma risada louca, jogo tudo no chão e decido ir com o que eu quiser.
Visto minhas roupas mais doidas, mais disparatadas, repelentes de homem, que gritam OI EU SOU MALUCA, EU SOU A PESSOA MAIS DOIDA QUE VOCÊ JÁ TEVE A SORTE DE CONHECER E VOCÊ VAI TER MUITA SORTE SE EU FALAR COM VOCÊ
Sapatos confortáveis, porque eu vou dançar muito
De repente, eu só sei que meu cabelo é louco demais, excêntrico demais, e não ligo, passo todas as cores do arco-íris nos olhos, batom azul só porque não é roxo, porque eu não sou bonita e comportada feito as outras garotas, não. Eu sou o que quer que eu seja. Acho que nem tem um adjetivo pra isso ainda.
Jogo perfume pra cima e danço embaixo dele, sem me preocupar se alguém vai sentir esse cheiro. Eu sinto. É cheiro de biscoito.
Olho pro espelho e digo pra mim mesma, "você é--- bom, eu não sei :) Mas é bom"
Dou risada da minha burrice, pego James - já bêbado - e vamos pra essa festa sem ter a menor ideia de onde é, nos perdemos, gritamos, pedimos informação.
E chegamos.
Paro o carro ouvindo a música e bebo, bebo muito, de uma vez só, bem rápido, e tudo fica mais engraçado, tudo parece mais possível. Ficamos na fila, e a fila é engraçada também, dançamos e contamos histórias sobre as nossas vidas terríveis e sem conserto, tão engraçadas e poéticas, clichês.
No fim da fila, uma menina pede pra entrar na fila dos aniversariantes e eu simplesmente tenho que abraçá-la porque ora, é aniversário dela, e eu tô tão bêbada que a abraço umas mil vezes haha :)
Meu amigo ri, ficamos amigos quase que instantaneamente.
Eu estou tão bêbada que não vejo a festa passar, só um monte de gente, luzes luzes e eu não sei o que está tocando mas eu tenho que dançar, eu não posso parar, vou ao banheiro, encontro um conhecido e isso não me irrita porque eu o amo também, eu amo todo mundo, eu só quero que todo mundo se divirta.
Danço sem parar.
Meu amigo vai ao banheiro e esse cara fala comigo, eu não entendo metade do que ele diz, eu nem consigo pensar muito bem, nos beijamos e eu simplesmente sei que ele está fazendo aquilo errado.
Sei que a coisa toda está errada.
Mas beijar é bom e eu sinto uma vibe legal nesse cara com quem eu provavelmente não ficaria se estivesse sóbria, por que não só hoje?
Então eu tomo o controle de mim mesma, vem cá, eu te mostro. E ele vem, dócil, me mostrando toda aquela vontade que as pessoas têm dentro de si, e isso me deixa feliz. Gosto desse momento, já disse, em que as pessoas demonstram vontade.
Ele me beija de volta, a música tocando alto, atravessando meu corpo todo, e eu rio alto, ainda meio bêbada. Ele fala comigo, e eu não entendo de novo, e o beijo, simplesmente porque tudo bem. Porque eu estou usando essa roupa improvável, alguém passou por nós e fez cara de choque - o que me faz pensar que ele não deve beijar muita gente - e eu o beijo por isso também, porque ele não é o meu tipo, porque eu não sou o tipo dele, porque sim.
Depois perco a vontade de beijá-lo, porque eu faço isso, e ele demora pra entender, mas acontece e ele some em meio à multidão.
Danço. E dou risada, Faço mais uma amiga, e danço como se não houvesse mais nada pra mim lá fora. Na verdade, acho que não tem mais nada lá fora pra mim, porque eu estou aqui dentro. Tudo o que eu tenho. Eu.
E isso não é ruim, eu sou incrível, do meu jeito.
Danço e giro sem parar, tocam uma música que tem um significado muito especial, tocam todas as músicas de que gosto e eu agradeço dançando. Eu amo tudo isso, eu amo não saber dançar, e essa roupa e quero que me amem também, mas isso é tudo o que eu tenho.
E é mais do que suficiente.
Um cara bonito me olha nos olhos e eu só sei, daquele jeito que a gente sabe. Olho pro lado, olho pra ele, e estamos dançando ao redor um do outro, um cara me pergunta meu nome e diz pra ele, ele sorri de longe, meu amigo diz algo pra ele, e ele sorri pra mim, estende a mão.
E eu estendo a mão de volta.
Porque sim.
Porque pode ser bom.
Quero começar de novo.
Quero estar pronta pra quando acontecer,
Quero me dar uma segunda chance.
Feliz ano novo.
Acordo, ressaca leve de mojitos, falo com Holden, tô chateada
Descubro uma barata na minha cama. Feito G.H., tenho uma dessas epifanias baratas e meu dia simplesmente se torna um desses dias depois.
Ok, ontem não foi legal.
Mas foi só a primeira festa do ano, penso comigo. E eu não tenho que me divertir sempre que saio. Nem tudo é bom.
Tomo banho, olho as roupas em cima da cama. Tudo escuro, tudo igual a todos os dias. Não corro riscos.
Roupas de sair.
Dou uma risada louca, jogo tudo no chão e decido ir com o que eu quiser.
Visto minhas roupas mais doidas, mais disparatadas, repelentes de homem, que gritam OI EU SOU MALUCA, EU SOU A PESSOA MAIS DOIDA QUE VOCÊ JÁ TEVE A SORTE DE CONHECER E VOCÊ VAI TER MUITA SORTE SE EU FALAR COM VOCÊ
Sapatos confortáveis, porque eu vou dançar muito
De repente, eu só sei que meu cabelo é louco demais, excêntrico demais, e não ligo, passo todas as cores do arco-íris nos olhos, batom azul só porque não é roxo, porque eu não sou bonita e comportada feito as outras garotas, não. Eu sou o que quer que eu seja. Acho que nem tem um adjetivo pra isso ainda.
Jogo perfume pra cima e danço embaixo dele, sem me preocupar se alguém vai sentir esse cheiro. Eu sinto. É cheiro de biscoito.
Olho pro espelho e digo pra mim mesma, "você é--- bom, eu não sei :) Mas é bom"
Dou risada da minha burrice, pego James - já bêbado - e vamos pra essa festa sem ter a menor ideia de onde é, nos perdemos, gritamos, pedimos informação.
E chegamos.
Paro o carro ouvindo a música e bebo, bebo muito, de uma vez só, bem rápido, e tudo fica mais engraçado, tudo parece mais possível. Ficamos na fila, e a fila é engraçada também, dançamos e contamos histórias sobre as nossas vidas terríveis e sem conserto, tão engraçadas e poéticas, clichês.
No fim da fila, uma menina pede pra entrar na fila dos aniversariantes e eu simplesmente tenho que abraçá-la porque ora, é aniversário dela, e eu tô tão bêbada que a abraço umas mil vezes haha :)
Meu amigo ri, ficamos amigos quase que instantaneamente.
Eu estou tão bêbada que não vejo a festa passar, só um monte de gente, luzes luzes e eu não sei o que está tocando mas eu tenho que dançar, eu não posso parar, vou ao banheiro, encontro um conhecido e isso não me irrita porque eu o amo também, eu amo todo mundo, eu só quero que todo mundo se divirta.
Danço sem parar.
Meu amigo vai ao banheiro e esse cara fala comigo, eu não entendo metade do que ele diz, eu nem consigo pensar muito bem, nos beijamos e eu simplesmente sei que ele está fazendo aquilo errado.
Sei que a coisa toda está errada.
Mas beijar é bom e eu sinto uma vibe legal nesse cara com quem eu provavelmente não ficaria se estivesse sóbria, por que não só hoje?
Então eu tomo o controle de mim mesma, vem cá, eu te mostro. E ele vem, dócil, me mostrando toda aquela vontade que as pessoas têm dentro de si, e isso me deixa feliz. Gosto desse momento, já disse, em que as pessoas demonstram vontade.
Ele me beija de volta, a música tocando alto, atravessando meu corpo todo, e eu rio alto, ainda meio bêbada. Ele fala comigo, e eu não entendo de novo, e o beijo, simplesmente porque tudo bem. Porque eu estou usando essa roupa improvável, alguém passou por nós e fez cara de choque - o que me faz pensar que ele não deve beijar muita gente - e eu o beijo por isso também, porque ele não é o meu tipo, porque eu não sou o tipo dele, porque sim.
Depois perco a vontade de beijá-lo, porque eu faço isso, e ele demora pra entender, mas acontece e ele some em meio à multidão.
Danço. E dou risada, Faço mais uma amiga, e danço como se não houvesse mais nada pra mim lá fora. Na verdade, acho que não tem mais nada lá fora pra mim, porque eu estou aqui dentro. Tudo o que eu tenho. Eu.
E isso não é ruim, eu sou incrível, do meu jeito.
Danço e giro sem parar, tocam uma música que tem um significado muito especial, tocam todas as músicas de que gosto e eu agradeço dançando. Eu amo tudo isso, eu amo não saber dançar, e essa roupa e quero que me amem também, mas isso é tudo o que eu tenho.
E é mais do que suficiente.
Um cara bonito me olha nos olhos e eu só sei, daquele jeito que a gente sabe. Olho pro lado, olho pra ele, e estamos dançando ao redor um do outro, um cara me pergunta meu nome e diz pra ele, ele sorri de longe, meu amigo diz algo pra ele, e ele sorri pra mim, estende a mão.
E eu estendo a mão de volta.
Porque sim.
Porque pode ser bom.
Quero começar de novo.
Quero estar pronta pra quando acontecer,
Quero me dar uma segunda chance.
Feliz ano novo.
29x01 Another one
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Mais um ano vai chegar.
E eu tô sentada aqui, balançando os pés, nem um pouco embriagada, olhando as luzes, as pessoa se divertindo.
Conversam comigo. Rio, os olhos rasos.
Como, sem fome, só pra encher a boca.
Eu preciso ser mais humana.
Não dá.
Tô me sentindo fora do lugar.
E não sinto nada sobre isso.
Minha cabeça silencia, grita, silencia, grita, silencia.
Grita seu nome, grita meu nome, me acorda, me levanto, sorrio, tô triste, subo as escadas, olho as capas dos livros, não sinto nada, sinto dor, sinto raiva, tô feliz, sorrio pras fotos, quero ir pra casa, um garoto bonito chega, eu não sou bonita o bastante, bebo, bebo, as vozes não se calam, e eu começo a tremer, quero uma caneta, quero uma caneta, não seja estranha as pessoas estão olhando, sorrio pras paredes, subo as escadas, a porta fechada, sinto medo de abrir, queria olhar o mundo lá do terraço mas tenho medo disso também, tenho medo tenho medo tenho medo tenho medo, se você não melhorar essa cara ninguém mais vai te chamar pra sair, vê se conversa sua burra, abro a boca e não sai nada, balanço os pés, ele me chama pra dançar e eu danço e rio e danço e rio, quero ir pra casa, quero ir pra casa, pego o celular, mensagens de feliz ano novo, eu não quero responder, eu não quero dizer nada, eu quero olhar pro céu, Dragon Maker me manda uma mensagem e eu não quero responder, eu não sou boa o bastante, meu humor muda de novo, e eu já não consigo controlar, preciso beber, bebo bebo bebo, e de repente fico zonza, e sinto um aperto no peito e um medo de ficar sozinha pra sempre, rio, rio alto e finjo que está tudo bem, alguém na minha cabeça me diz algo e não entendo porque as vozes fora da minha cabeça estão tão altas, descubro que não gosto de ninguém, isso me chateia, vou ao banheiro, puxo os cabelos, urino no lugar certo, o espelho me diz que estou uma merda, saio e sorrio, quero me divertir também, mas não quero de verdade, quero fingir, quero fingir, por favor não me deixem sozinha nunca mais, vamos embora, estou com tanta raiva desse lugar, fico animada, quero cantar e dançar, sento, fico emburrada, durmo, penso em falar com Holden, penso em Holden, tento pensar em Holden romanticamente, como nos velhos tempos, não consigo eca, durmo, acordo, fico com raiva, me arrependo de ter ficado com raiva, sou rude, depois finjo que não fui rude, sou educada e amável, mostro desprezo, vamos embora, entro no carro, saio do carro, eu odeio você, mas não consigo dizer não, não consigo não querer agradar, me ofereço pra ajudar mesmo querendo ir embora calada e me enfiar embaixo das cobertas pra não chorar mesmo querendo chorar, entro no carro calada, saio do carro calada, não consigo dormir, não quero te abraçar de volta, não quero mais falar com você, eu gosto tanto de você, por que você faz isso comigo, tudo bem, está tudo bem, vamos pra casa, a culpa não é sua, é minha culpa, é sempre minha culpa,desculpe desculpe desculpe desculpe desculpe,
boa noite.
Mais um ano vai chegar.
E eu tô sentada aqui, balançando os pés, nem um pouco embriagada, olhando as luzes, as pessoa se divertindo.
Conversam comigo. Rio, os olhos rasos.
Como, sem fome, só pra encher a boca.
Eu preciso ser mais humana.
Não dá.
Tô me sentindo fora do lugar.
E não sinto nada sobre isso.
Minha cabeça silencia, grita, silencia, grita, silencia.
Grita seu nome, grita meu nome, me acorda, me levanto, sorrio, tô triste, subo as escadas, olho as capas dos livros, não sinto nada, sinto dor, sinto raiva, tô feliz, sorrio pras fotos, quero ir pra casa, um garoto bonito chega, eu não sou bonita o bastante, bebo, bebo, as vozes não se calam, e eu começo a tremer, quero uma caneta, quero uma caneta, não seja estranha as pessoas estão olhando, sorrio pras paredes, subo as escadas, a porta fechada, sinto medo de abrir, queria olhar o mundo lá do terraço mas tenho medo disso também, tenho medo tenho medo tenho medo tenho medo, se você não melhorar essa cara ninguém mais vai te chamar pra sair, vê se conversa sua burra, abro a boca e não sai nada, balanço os pés, ele me chama pra dançar e eu danço e rio e danço e rio, quero ir pra casa, quero ir pra casa, pego o celular, mensagens de feliz ano novo, eu não quero responder, eu não quero dizer nada, eu quero olhar pro céu, Dragon Maker me manda uma mensagem e eu não quero responder, eu não sou boa o bastante, meu humor muda de novo, e eu já não consigo controlar, preciso beber, bebo bebo bebo, e de repente fico zonza, e sinto um aperto no peito e um medo de ficar sozinha pra sempre, rio, rio alto e finjo que está tudo bem, alguém na minha cabeça me diz algo e não entendo porque as vozes fora da minha cabeça estão tão altas, descubro que não gosto de ninguém, isso me chateia, vou ao banheiro, puxo os cabelos, urino no lugar certo, o espelho me diz que estou uma merda, saio e sorrio, quero me divertir também, mas não quero de verdade, quero fingir, quero fingir, por favor não me deixem sozinha nunca mais, vamos embora, estou com tanta raiva desse lugar, fico animada, quero cantar e dançar, sento, fico emburrada, durmo, penso em falar com Holden, penso em Holden, tento pensar em Holden romanticamente, como nos velhos tempos, não consigo eca, durmo, acordo, fico com raiva, me arrependo de ter ficado com raiva, sou rude, depois finjo que não fui rude, sou educada e amável, mostro desprezo, vamos embora, entro no carro, saio do carro, eu odeio você, mas não consigo dizer não, não consigo não querer agradar, me ofereço pra ajudar mesmo querendo ir embora calada e me enfiar embaixo das cobertas pra não chorar mesmo querendo chorar, entro no carro calada, saio do carro calada, não consigo dormir, não quero te abraçar de volta, não quero mais falar com você, eu gosto tanto de você, por que você faz isso comigo, tudo bem, está tudo bem, vamos pra casa, a culpa não é sua, é minha culpa, é sempre minha culpa,desculpe desculpe desculpe desculpe desculpe,
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28x18 Madeira morta (Season Finale)
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garota solteira procura,
Eu estava sentada na sala, vestida de branco, com aquele vestido, é.
E eu me olhei no espelho, rememorando cada passo da maquiagem de véspera de ano novo, mexendo nos cabelos sem parar, tentando parecer menos "fofa" e querendo desesperadamente que fosse uma noite especial, tentando entender o que é que faltava ali.
Arrumei o cabelo uma, duas, doze vezes, contei e recontei dinheiro, conferi tudo.
E me olhei no espelho. Não estava certo.
Faltavam duas horas pro ano-novo, pra tudo mudar, porque algo me dizia que algo místico estava prestes a acontecer.
Mas ainda era eu.
Era isso o que estava errado.
Eu não queria mais ser só eu.
Porque eu nunca sei o que fazer, não tomo decisões, fico extremamente fora de controle, eu tenho essas ideias ridículas, não sou boa o bastante em nada.
O que está errado é que eu estou vendo uma garota que não consegue seguir em frente, não consegue voltar atrás. Minha postura está errada, a sombra está opaca demais, esse não é o batom para o meu tom de pele, minhas olheiras não estão corrigidas do jeito certo, meus seios são muito pequenos, eu estou magra demais pra parecer sexy, esses sapatos são muito sérios, meu cabelo é muito bagunçado, minhas pernas não são longas, as outras garotas são mil vezes mais bonitas e mais divertidas, meu ex-namorado fugiu correndo para as colinas e Deus sabe o quanto ele aguentou antes de finalmente fazer isso, ninguém mais vai gostar de mim, eu acabei de dizer pra um cara que preferia que não nos víssemos mais quando o que tínhamos era o mais próximo de um relacionamento que eu vou ter com alguém um dia, minha cabeça está povoada de ideias que eu tenho medo de passar pro papel, ninguém nunca mais vai fazer meu coração bater mais forte, eu não quero mais sentir isso, eu não tô pronta pra ficar próxima de ninguém, eu não deveria ter usado esse creme perfumado, eu não sei se quero ir pra essa festa, eu tô em pânico, eu não sei se vou ser uma boa médica, eu não sei nem se vou conseguir me formar, e se eu estiver grávida, eu sou uma péssima irmã, e uma péssima filha, não sei como falar com meu pai de novo ou se vamos nos falar de novo, eu só queria que ele tivesse gostado da minha família como eu gosto dela, eu queria que eles não brigassem tanto, eu odeio meu corpo, eu nunca mais quero amar ninguém, eu queria voltar no tempo e mudar tudo tudo tudo tudo todas as coisas horríveis que eu disse e fiz, eu tenho muito medo de mudar eu não consigo eu tenho tanto medo de não ser eu, eu não gosto de quem sou e ao mesmo tempo, não conseguiria ser outra pessoa, eu falo coisas horríveis o tempo todo eu queria ser uma boa pessoa, eu queria ser boa, eu queria ser melhor do que isso, eu
- Tá pronta? - James pergunta, olhando pra mim pelo reflexo do espelho.
Aceno com a cabeça, tô pronta.
Tô pronta.
Tenho que estar.
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