Imagem: TingTing Huang
Um texto muito ruim e muito verdadeiro.
Acordo tarde, arranco meus olhos logo cedo, eu não quero mais ver nada, eu não quero mais passar por isso.
Lavo o rosto, escovo os dentes, tiro o gosto de morte da boca, derrubo a escova no chão e não me importo.
Tomo banho, sinto medo, e esfrego mais forte pra sair com a sujeira de mais uma noite que não dormi. O medo demora a sair, preciso arrancar a pele toda, esfrego, esfrego, esfrego, 4 vezes em cada lugar, até sair, até o cheiro sair, o cheiro de medo que todo mundo sente.
Saio do banheiro nova, úmida de sangue, cheirando a sabão. Visto sua pele, tiro sua pele, visto sua pele, tiro sua pele, me enrolo nela toda, não fica bem, coloco olhos novos e tento te ver de outra maneira, mas só quero vestir sua pele, só me sinto bem na sua pele.
Não consigo me decidir, saio de casa vestida de mim, a pele em carne viva, os olhos fundos.
Entro no carro, arranco os cabelos, dirijo rápido demais, me dá medo, sinto o cheiro, consigo sentir o cheiro, o gosto, a náusea.
Vejo você, não vejo você, vejo você, mas não é você, ainda não, o cheiro de medo fica cada vez mais forte, escorre, escorre dos poros feito ácido queimando tudo, mas a dor não significa nada, a dor não é nada perto da náusea.
Meus pés se inquietam, querem ir até você, querem estar perto de você, e eu não posso, agora não, mas não consigo contê-los.
Você me vê, diz
- Oi
E parece tão fácil, tão simples, que arranco minha língua e a coloco na sua mão, feito um desenho perturbador.
Você olha pr'aquilo, entre enojado e algo que eu não entendo o que é, dá de ombros, dá as costas.
Suo frio, a boca enche de sangue, que escorre, escorre verde e ácido, ora me faz engasgar, ora escorre, jorra da boca, e você nem vê.
Toco teu braço, a mão suja de sangue, de mim, de qualquer coisa, e você nem se vira. Tateio seu corpo, seu peito, seu pescoço, seu rosto. E arranco seus olhos, bem rápido, bem rápido, eu juro, porque não quero que você sinta dor.
Corro pro banheiro feito louca, é agora, é esse o momento em que eu entendo tudo, em que eu me entendo, em que eu finalmente vou saber se --
Aí olho pra mim mesma, suja de sangue, pele em carne viva, a boca escorrendo sem parar,
e sei o que devo fazer.
Pego os seus olhos, os dois de uma vez, cor de marte, nem sei,
E jogo na boca.
Mastigo.
Mastigo.
Mastigo.
E engulo.
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