29x12 This is not a sad song

Imagem: TingTing Huang

Minha cara, minha amada, minha adorada eu de setembro de 2016,

oi.
Queria te dizer que entendi, numa conversa deveras surpreendente com o Dragon Maker, que isso não é pra ser assim.

A gente ama, a gente desama. E a gente chora. Wallow. 

Mas não deu pra gente. Tinha prova, Saúde da Mulher. E a gente arrasou, porque não queríamos que ninguém dissesse que tínhamos ficado mais fracas. Daí a gente trabalhou, a gente estudou, a gente fez rir, a gente decidiu que não tinha tempo pros filmes da Julia Roberts. A gente decidiu que era grande o suficiente pra não precisar de Häagen-Dazs com sabor de torta.

Rory Gilmores, andamos por aí, e o tempo foi passando, as coisas indo e vindo, e a gente só não tinha mais tempo pra sentar e chorar. Então os fatos foram se apagando, as memórias foram desbotando e a gente de repente não conseguia mais se lembrar o porquê daqueles socos repentinos no estômago. 

As músicas mudaram, o cabelo mudou, as roupas, os amigos, mas o gosto amargo, a náusea, o vazio estavam ali.

E o semestre passando, e a gente sem saber o que estava errado, se a gente tinha tudo, absolutamente tudo, ao alcance da mão. Era só pegar. Só não dava pra pegar de volta.
Ficamos com raiva do mundo, uma raiva que não passava, que sangrava, de tudo e todos, cada frase era um ataque pessoal, e a gente não sabia controlar. A gente perdeu o controle de vez.
E parou.

Você deve se lembrar de como a gente simplesmente parou de sair pra aula. 
De como a gente teve um medo, de leve, de não querer mais aquilo.
De como a gente teve que fingir que era aquilo que a gente queria, só pra que a gente acreditasse.

Foi difícil, mas a gente fingiu que não era. A gente fingiu que tudo bem. 
Mas não estava tudo bem. 
Se eu pudesse falar comigo mesma, aquela B., eu diria a ela pra chorar. Pra matar uma porrada de aulas, pra chorar e andar por aí de camisola. Eu diria a ela pra parar de se maquiar como se estivesse tudo ok, pra não beber tanto, pra parar um segundo. 
A gente ama. A gente desama. E a gente chora.

Na vida, a gente não pode ficar pulando fases assim, sem consequências. 
Mas não podíamos parar.
Aconteceu tão rápido e, quando nos demos conta, já era dezembro e não tínhamos parado pra pensar. No meio de todo aquele sudoku, álcool, milhões de coisas, meu eu já tinha perdido toda a noção de tempo e de responsabilidade, esquecia minha irmã nos lugares, esquecia minhas tarefas, acordava às 5 da manhã com minha tarefa de casa pela metade e não queria mais participar de nada, me irritava que esperassem de mim mais do que o mínimo.

Tentei sair da liga - mas não pude, tive muito medo de que pensassem que era por outra razão -, parei de aceitar projetos, de responder mensagens, de levar meus materiais para as aulas, de estudar, de escrever, de planejar. Cada vez que alguém me pedia um favor, eu sentia vontade de vomitar, de correr pra bem longe e não voltar mais.

Fui desmoronando aos poucos e, nas últimas semanas de aula, eu só conseguia torcer pra morrer enquanto dormia. De qualquer coisa, pra doer ou não. Eu só não queria mais ter que me levantar.

Eu poderia ter parado, chorado até minha cabeça explodir. Mas eu me achava tão melhor do que isso, melhor do que uma heroína chorona de um filme adolescente.

Eu tive tantas oportunidades de chorar, de conseguir colo, de pedir ajuda. Amigos incríveis, sempre me dizendo pra falar, e eu não conseguia. Eu preferia morrer do que mostrar fraqueza. Mesmo naquela noite terrível que nem importa mais, eu poderia ter chorado, eu poderia ter arrancado fora os olhos, mas fui assistir Downton Abbey, sem conseguir pregar os olhos durante quase 30 horas, só porque eu não queria pensar. 

Você deve estar se perguntando "Por que agora? Por que você está escrevendo isso pra mim, justo pra mim?". Chame de intuição, ou crendice. Mas acho que vai acontecer de novo, em breve. Talvez com você. 

Então, preste atenção:
Pare. Chore. Chorar não resolve nada mesmo, mas não é pra isso que serve. E não tem nada de errado em sentir alguma coisa. 
Dói. E você chora. Não vai ficar mais fraca pra isso, não vão te achar pior por isso.
Não finja que está tudo bem. Porque só vai doer mais, cada vez mais. E não vai passar, vai te estragar de tantas maneiras, acho que você já deve saber, você vai se lembrar.

E é, dá medo.
Medo de chorar, medo de sentir isso de uma vez só, ao invés de deixar sair em doses controladas.
Mas ei,
nem sempre é uma música triste.
Às vezes, você para pra ouvir direito a letra e percebe que a resposta estava ali o tempo todo.
Que é você quem torna as músicas felizes ou tristes.
E que você só precisa ouvir com atenção.

Ouça com atenção.
Pode até doer, mas passa.
Esse vazio passa.
Foda-se Drummond. 
Tô te afirmando que passa.
Acredite em mim.

Com amor, muito amor, todo o amor que eu tenho pra dar hoje e sempre,
Você.

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