Imagem: TingTing Huang
Preciso de pieguice.
Músicas de amor.
Filmes dos anos 90.
Eu sou pisciana, ora essa.
Mas também não quero que isso me defina.
Esqueço romance, me desapaixono, endureço a casca e trabalho o dia inteiro.
À noite, me exercito, medito.
Quando quero, beijo a boca de quem não amo, de quem não quero amar.
Não leio livros de amor.
Ou leio, e interpreto tudo da forma mais cínica possível.
Enxergo o relacionamento dos outros no maior aumento, com óleo de imersão e percebo que isso não é pra mim.
Eu acordo de manhã, planejo meu dia inteiro, passo a passo.
Chego em casa no fim de um dia cheio de vozes, de palavras difíceis,
olho as mensagens no celular e nenhuma delas me causa arrepios ou frio na barriga.
Eu leio meu livro e as cenas de amor são secas, então eu leio rápido, pra poder fazer outra coisa.
Assisto seriados e nenhum deles me comove.
Lavo meus cabelos, cuido da pele, faço exercícios, estudo, medito e durmo.
Assim, no piloto automático.
Mas existem esses pequenos momentos.
Depois de lavar o cabelo, enquanto passo pela cozinha, eu paro na frente da janela e me pergunto se isso é tudo.
Quando estou em um encontro, enquanto mexo o gelo no meu copo com um canudo, me pergunto se é assim que quero me senti pra sempre.
Pequenos momentos, pensamentos mínimos que espanto com as mãos.
Esse é um desses momentos:
Eu quero pieguice e não acho feio, não acho triste.
Não sou uma dessas garotas assim tão independentes do século XXI.
Quero cenas ao som de Sixpence None The Richter,
dançar com o mocinho no final do filme.
Eu não quero esse seu relacionamento moderno que envolve não nos envolvermos.
E nem quero começar um relacionamento e me apaixonar no decorrer dele.
Não quero ter que me acostumar.
Eu quero luzes e mais luzes de Coppolla, quero não parar de pensar em você, quero desenhar corações em folhas de papel avulsas, quero querer matar aulas pra te ver, quero a irresponsabilidade de se estar apaixonado.
Eu não quero um relacionamento adulto, quero promessas que você não pode cumprir.
Eu quero aquela cena final em que eu largo tudo pra correr atrás de você, quero te escrever poesias e detestar cada momento em que brigamos.
Eu quero olhar as estrelas. Eu quero sentir vontade de olhar as estrelas.
Eu quero uma única declaração de amor que valha por todas.
E rir do seu rosto, lembrar dele antes de dormir.
Quero uma música que seja nossa, uma só, pra guardar no bolso e levar por aí.
Eu não quero que você dê sentido a isso tudo, só quero que você faça parte disso tudo.
Quero Meg Ryan e Tom Hanks,
Ashley Judd e Hugh Jackman,
Molly Ringwald e Andrew McCarthy
Rachael Leigh Cook e Freddie Prinze Jr.
Drew Barrymore e Michael Vartan
Amanda Peterson e Patrick Dempsey
Julia Stiles e Heath Ledger
Julia Roberts e Harrison Ford - todas as vezes!
Meg Ryan e Hugh Jackman
Audrey Hepburn e Rex Harrison
Audrey Hepburn e Humphrey Bogart
Audrey e Fred Astaire
Debra Messing e Dermot Mulroney
Meg Ryan e Tim Robbins
Sandra Bullock e Hugh Grant
Sandra Bullock e Keanu Reeves
Sandra Bullock e Bill Pullman
Sandra Bullock e Aidan Quinn
Eu quero pieguice,
eu quero gostar de alguém que não tenha medo de dizer, de gritar - se preciso for -
porque eu não tenho mais medo de dizer - embora tenha medo de gostar.
Então não,
eu não quero seu relacionamento adulto.
Eu não quero suas migalhas,
eu não quero passar uma tarde legal,
eu não quero colocar relacionamento sério no Facebook
e não preciso de companhia para as sextas à noite,
não gosto tanto assim de dormir junto
e muito menos de acordar junto.
Não quero alguém pra escrever sobre, quero alguém pra não escrever sobre.
Quero sim, loucura, quero um vendaval, um furacão,
que é muito melhor do que essa forma de amor morta que você me oferece do teu lado da mesa.
Que é muito melhor do que aceitar alguém pra não viver mais só.
Eu já vivi sozinha estando junto e, deixa eu te dizer,
não é bom.
Você quer me ouvir falar, contar da vida,
mas eu não quero contar pra você.
E nem você quer saber
das minhas loucuras. Você só quer achar bonita essa excentricidade, e gostar de mim enquanto dá pra gostar de mim.
Mas não é isso o que eu quero.
Eu quero me perder. E me encontrar de novo.
Setembro tá chegando e eu tô com medo de me apaixonar por um idiota qualquer que vai me machucar.
Mas eu prefiro me apaixonar e me machucar
do que aceitar nunca mais sentir isso.
Essa estabilidade me deprime.
Esse romance cheio de etiquetas.
Sem necessidade de declarações, em que a gente sai e eu não me impressiono.
E te esqueço assim que fecho a porta atrás de mim.
Eu vou estudar, e ler, e escrever e planejar meus dias.
E esquecer a importância de toda essa pieguice.
Sair com você mais uma, duas, dez vezes até enjoarmos um do outro.
Mas aí, nesses momentos
vou parar na frente da janela,
olhar as estrelas
e pensar se a gente não merece mais do que isso,
se era mesmo pra ser assim.
Mais dia, menos dia
eu descubro a resposta.
32x19 The Pretender
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Imagem: TingTing Huang
Finjo.
Finjo tanto que nem sei mais quais são os limites do fingir, nem sei mais o que sinto, o que é atuação e o que é verdade.
Você me diz que quer sair,
digo que vou,
finjo que quero ir.
Finjo, finjo, finjo que quero ir
porque ando com medo de ficar só.
Mas finjo que não quero ficar só, desesperadamente.
Porque tenho medo de ficar junto.
Finjo que tenho medo de ficar junto,
porque finjo que não sinto nada por você.
Finjo que não sinto nada por você,
porque finjo que ainda sinto alguma coisa por ele.
Finjo que ainda sinto alguma coisa por ele
porque finjo que ainda sou a mesma pessoa que era antes.
Finjo que sou a mesma pessoa,
porque finjo que não quero mudar nunca.
Finjo que não quero mudar nunca
porque finjo que mudar seria me extinguir do mundo.
Finjo que mudar seria me extinguir do mundo,
porque finjo que existo.
Estava deitada no chão da sala, fingindo ser alguém que não sou,
pensando em deitar no seu colo,
me perguntando o que eu quero fazer da vida,
respondendo a perguntas que queria responder de outra maneira,
com medo de dormir,
com vontade de descansar um pouco,
com medo do que vem pela frente,
com vontade de não ter mais medo,
de esclarecer mal entendidos,
assustada demais pra me levantar e aceitar que isso é a vida real.
Resolvi todos os problemas do mundo:
Sentei no colchão,
respirei fundo
e fingi.
Tá tudo bem.
Finjo.
Finjo tanto que nem sei mais quais são os limites do fingir, nem sei mais o que sinto, o que é atuação e o que é verdade.
Você me diz que quer sair,
digo que vou,
finjo que quero ir.
Finjo, finjo, finjo que quero ir
porque ando com medo de ficar só.
Mas finjo que não quero ficar só, desesperadamente.
Porque tenho medo de ficar junto.
Finjo que tenho medo de ficar junto,
porque finjo que não sinto nada por você.
Finjo que não sinto nada por você,
porque finjo que ainda sinto alguma coisa por ele.
Finjo que ainda sinto alguma coisa por ele
porque finjo que ainda sou a mesma pessoa que era antes.
Finjo que sou a mesma pessoa,
porque finjo que não quero mudar nunca.
Finjo que não quero mudar nunca
porque finjo que mudar seria me extinguir do mundo.
Finjo que mudar seria me extinguir do mundo,
porque finjo que existo.
Estava deitada no chão da sala, fingindo ser alguém que não sou,
pensando em deitar no seu colo,
me perguntando o que eu quero fazer da vida,
respondendo a perguntas que queria responder de outra maneira,
com medo de dormir,
com vontade de descansar um pouco,
com medo do que vem pela frente,
com vontade de não ter mais medo,
de esclarecer mal entendidos,
assustada demais pra me levantar e aceitar que isso é a vida real.
Resolvi todos os problemas do mundo:
Sentei no colchão,
respirei fundo
e fingi.
Tá tudo bem.
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32x18 Ex-Machina
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Super spoiler: eles não ficam juntos no fim da temporada. Talvez na próxima, quem sabe ? Vai que surge outro cara, mais interessante, mais bonito, mais charmoso, vai que o ex namorado não se casa, vai que a vida acontece, o ator desiste da série, o público exige que eles terminem --- Eu não sei.
Cabelo de couve-flor, passo a mão e me sinto viva,
bagunçada, desalinhada.
Tô sentindo aquele cheiro estranho e dor retroesternal que não é em aperto nem queimação, como se algo estivesse se expandindo em mim.
Tô sentindo aquele cheiro estranho e dor retroesternal que não é em aperto nem queimação, como se algo estivesse se expandindo em mim.
Danço e bagunço os cabelos de leoa, malucos, mágicos e
espero
Espero por meses melhores, igualmente cheios de afazeres, mas agradáveis.
Espero por dias engraçados, outros nem tanto.
Coisas difíceis, provas difíceis, pessoas difíceis. Desafios novos, imensos.
Espero ter que dizer não, de vez em quando.
Dizer a verdade, mesmo quando ela dói.
Ficar chateada com as pessoas que eu amo, por motivos que nem eu entendo.
Espero sentir muito medo de estar viva.
E essas coisas que se sente quando se percebe que estar viva é incrível.
Espero por muitos mal entendidos, muitos devaneios impróprios.
E espero por você.
Espero por meses melhores, igualmente cheios de afazeres, mas agradáveis.
Espero por dias engraçados, outros nem tanto.
Coisas difíceis, provas difíceis, pessoas difíceis. Desafios novos, imensos.
Espero ter que dizer não, de vez em quando.
Dizer a verdade, mesmo quando ela dói.
Ficar chateada com as pessoas que eu amo, por motivos que nem eu entendo.
Espero sentir muito medo de estar viva.
E essas coisas que se sente quando se percebe que estar viva é incrível.
Espero por muitos mal entendidos, muitos devaneios impróprios.
E espero por você.
Por alguma razão estúpida e que, me desculpem os incrédulos,
só pode ser explicada pelo meu sol em peixes e minha educação sentimental
baseada em filmes dos anos 90,
eu acredito que ainda vamos nos conhecer, se é que já não nos conhecemos.
(De acordo com minha teoria, nunca vou saber se é mesmo você ou se só estou forçando a barra pra que seja.
E aí vou deixar de acreditar que você é real,
começarei a agir de forma esquisita, arredia,
analisar coisas
e vou estragar tudo, eventualmente. )
Mas, nesse exato momento,
eu acredito em você.
Acredito no seu rosto, na sua existência em algum canto desse mundo, acredito no seu timing.
eu acredito que ainda vamos nos conhecer, se é que já não nos conhecemos.
(De acordo com minha teoria, nunca vou saber se é mesmo você ou se só estou forçando a barra pra que seja.
E aí vou deixar de acreditar que você é real,
começarei a agir de forma esquisita, arredia,
analisar coisas
e vou estragar tudo, eventualmente. )
Mas, nesse exato momento,
eu acredito em você.
Acredito no seu rosto, na sua existência em algum canto desse mundo, acredito no seu timing.
Estranhamente, por mais que acredite em você, em um nós que
nem existe ainda – nem sequer na minha imaginação -, prefiro que você não venha.
Ainda não estou pronta.
Quero ficar com essa sensação estranha, absurda, de não estar só. De que você está aí, esperando sem nem saber que espera.
Quero deixar os grandes dramas de amor pras séries.
Ainda não estou pronta.
Quero ficar com essa sensação estranha, absurda, de não estar só. De que você está aí, esperando sem nem saber que espera.
Quero deixar os grandes dramas de amor pras séries.
Estava assistindo ontem a primeira cena de beijo do meu novo
casal favorito. Foi incrível. Por 3 segundos, foi incrível. Tanto que assisti
de novo. E de novo.
E foi tudo.
No episódio seguinte, mais um drama
depois outro,
depois outro,
e mais outro.
E foi tudo.
No episódio seguinte, mais um drama
depois outro,
depois outro,
e mais outro.
Super spoiler: eles não ficam juntos no fim da temporada. Talvez na próxima, quem sabe ? Vai que surge outro cara, mais interessante, mais bonito, mais charmoso, vai que o ex namorado não se casa, vai que a vida acontece, o ator desiste da série, o público exige que eles terminem --- Eu não sei.
Eu só sei que não quero arriscar.
Tenho essa sensação, esse pressentimento causado pela
escolha peculiar de um ator novo em um seriado,
de que as coisas já estão em curso, que eu não posso parar mais.
de que as coisas já estão em curso, que eu não posso parar mais.
Não quero arriscar.
Mas já espero, de qualquer maneira, te encontrar na esquina
de casa, nas escadas do bloco 6 ou em uma festa qualquer.
E eu não sei o que vai acontecer.
Isso me assusta, mas não se preocupe,
eu acredito em você.
E eu não sei o que vai acontecer.
Isso me assusta, mas não se preocupe,
eu acredito em você.
32x17 Monica
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Sonhei com você. Sonho lúcido, incomum.
Você me abriu a porta, e deu sorriso.
Cozinhou e comemos juntos, como se tudo tivesse voltado ao normal.
Conversamos, também, sem brigar.
O tempo todo, eu sabia, não era real. Eu precisava te dizer que não era real, que a verdade é
Você me abriu a porta, e deu sorriso.
Cozinhou e comemos juntos, como se tudo tivesse voltado ao normal.
Conversamos, também, sem brigar.
O tempo todo, eu sabia, não era real. Eu precisava te dizer que não era real, que a verdade é
Você não se sente assim.
Eu não finjo saber como você se sente, mas não é assim.
Você me olhou, do outro lado do quarto, daquele jeito que só você consegue olhar,
como se tivéssemos esse segredo
capaz de mudar tudo
Eu não finjo saber como você se sente, mas não é assim.
Você me olhou, do outro lado do quarto, daquele jeito que só você consegue olhar,
como se tivéssemos esse segredo
capaz de mudar tudo
E eu soube que não ia estragar aquilo.
Que eu ia aproveitar cada segundo.
Que eu ia aproveitar cada segundo.
E eu fiz isso. Abracei você como se nunca mais fosse fazer
isso, e provavelmente não vou, nunca mais. E conversamos.
Eu não me lembro de nenhum assunto, de nenhuma palavra dita.
Mas foi tão bom.
Você não faz ideia.
Nos deitamos e você me disse algo, mas as palavras se perderam, derreteram
e se misturaram com os ruídos de mais uma tarde insossa e comum,
eu segurei sua mão
e enfiei a cabeça debaixo das cobertas
e pedi
Deus, Morfeu, Sonho, Mr. Sandman
por favor, não me deixe acordar
por favor, não deixe que eu acorde agora
por favor
por favor
por favor
Mas aí eu já sentia a textura das cobertas,
ouvia o barulho da rua,
cheiro de bolo no forno,
e você se tornava cinza sob a luz de uma tarde como qualquer outra.
Sua mão se desfez, seu rosto, seu sorriso
seu corpo inteiro
em pequenas partículas de pó
Mas foi tão bom.
Você não faz ideia.
Nos deitamos e você me disse algo, mas as palavras se perderam, derreteram
e se misturaram com os ruídos de mais uma tarde insossa e comum,
eu segurei sua mão
e enfiei a cabeça debaixo das cobertas
e pedi
Deus, Morfeu, Sonho, Mr. Sandman
por favor, não me deixe acordar
por favor, não deixe que eu acorde agora
por favor
por favor
por favor
Mas aí eu já sentia a textura das cobertas,
ouvia o barulho da rua,
cheiro de bolo no forno,
e você se tornava cinza sob a luz de uma tarde como qualquer outra.
Sua mão se desfez, seu rosto, seu sorriso
seu corpo inteiro
em pequenas partículas de pó
Abri os olhos
uma tarde
só mais uma tarde
E eu poderia derreter
me fazer em cinza, me quebrar em pedaços
uma tarde
só mais uma tarde
E eu poderia derreter
me fazer em cinza, me quebrar em pedaços
Ao invés disso,
me enrolei feito uma bola
sólida
viva
fechei os olhos
e voltei a dormir.
me enrolei feito uma bola
sólida
viva
fechei os olhos
e voltei a dormir.
(A diferença nesses dias
é que, dessa vez, eu sei:
se o sonho durasse mais um pouco,
acabaria por virar um pesadelo)
é que, dessa vez, eu sei:
se o sonho durasse mais um pouco,
acabaria por virar um pesadelo)
32x16 Quando apago as luzes
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eu me lembro.
Da primeira vez em que almoçamos juntos, do gosto da comida da sua mãe,
do fascínio que a simplicidade do ato de entrar no lugar onde você morava exerceu sobre mim.
Do seu moletom na primeira vez em que dormi no seu tapete.
Do cheiro do sabonete líquido de morango na sua pia.
Eu me lembro.
Do seu rosto, no centro da noite, parque da cidade,
quando eu te disse
que não podia te dar mais do que estava oferecendo.
Eu pensei que você me amasse,
e aquilo me deixou muito triste,
porque eu não te amava.
Eu me lembro.
Da primeira vez que quase disse que estava apaixonada por você,
acordei no final de Moonrise Kingdom,
e só queria dizer
e só queria que você dissesse,
mas eu não disse. E nem você.
Eu me lembro.
Do nosso primeiro encontro.
Saímos da rodoviária e você pegou na minha mão.
Eu tinha que voltar pra casa às 17:30, e você só queria ficar comigo, pelo tempo que desse.
Sua mão era gelada, e você não soltou a minha imediatamente quando chegamos ao outro lado da rua.
Você queria me mostrar o mundo, mas eu já tinha meu próprio mundo.
E não queria outro.
Mas eu queria você.
Queria escrever nossos nomes na janela que usamos pra olhar o pôr-do-sol,
e te dizer que bolachas passatempo me lembraram o gosto da sua boca por muitos meses depois do nosso beijo.
Eu me lembro.
Da nossa última manhã.
Você de camisa azul,
e eu ainda era só eu.
Fui te dizer pra ficar, pra se atrasar pelo menos uma vez na vida,
ficar comigo,
mas me esqueci das palavras,
me esqueci onde a voz ficava guardada,
e você foi embora,
pra não voltar mais.
Eu me lembro.
Do nosso primeiro beijo, Vancouver,
meu Deus, foi tão exatamente o que deveria ser
e todo aquele papo de mitologia, de estrelas,
meus olhos fechados,
sua voz - cujo tom mal me lembro, infelizmente - me contando sobre a Via Láctea,
e
eu não me lembro do beijo em si,
mas foi mágico. (:
(Por que é que a gente brigava tanto, mesmo?)
Eu me lembro do cheiro de chuva
e do gosto do seu beijo
do seu jeito de falar comigo quando acha que estou chateada.
Eu me lembro da sua boca suja de sorvete.
E do seu suéter listrado, com cheiro de sabonete.
Você dançou comigo.
Dançamos, ao som de alguma música romântica, no fim da festa,
você bêbado,
eu te explicando algo,
provavelmente explicando porque é que nunca ficaríamos juntos.
Eu me lembro dos seus olhos.
Num recorte vivo do seu rosto,
do qual nem sempre me lembro por inteiro.
Eu te escrevi milhões de vezes, quase que obsessivamente,
pra te saber de cor,
mas nunca consegui.
Eu me lembro
de te ver olhando pro nada,
depois da nossa primeira briga,
e repetidamente depois de todas as outras.
Eu me lembro disso o tempo todo.
Não consigo fugir,
virar pro lado e dormir,
eu preciso pensar,
preciso me lembrar de vocês, de tudo o que houve,
de tudo o que fiz de errado.
Eu me lembro.
E, por mais que eu deseje que seja diferente dessa vez,
já sinto muito por você.
Não quero mais fazer isso,
não quero mais ouvir sobre a Via Láctea,
sair pra tomar sorvete,
trocar mensagens antes de dormir,
não quero mais que me segurem a mão quando formos atravessar a rua,
ou assistir filmes.
Fazer discursos,
ou explicar como eu sou.
Eu quero apagar as luzes,
eu quero me deitar
e me lembrar.
Eu me lembro.
Da primeira vez em que almoçamos juntos, do gosto da comida da sua mãe,
do fascínio que a simplicidade do ato de entrar no lugar onde você morava exerceu sobre mim.
Do seu moletom na primeira vez em que dormi no seu tapete.
Do cheiro do sabonete líquido de morango na sua pia.
Eu me lembro.
Do seu rosto, no centro da noite, parque da cidade,
quando eu te disse
que não podia te dar mais do que estava oferecendo.
Eu pensei que você me amasse,
e aquilo me deixou muito triste,
porque eu não te amava.
Eu me lembro.
Da primeira vez que quase disse que estava apaixonada por você,
acordei no final de Moonrise Kingdom,
e só queria dizer
e só queria que você dissesse,
mas eu não disse. E nem você.
Eu me lembro.
Do nosso primeiro encontro.
Saímos da rodoviária e você pegou na minha mão.
Eu tinha que voltar pra casa às 17:30, e você só queria ficar comigo, pelo tempo que desse.
Sua mão era gelada, e você não soltou a minha imediatamente quando chegamos ao outro lado da rua.
Você queria me mostrar o mundo, mas eu já tinha meu próprio mundo.
E não queria outro.
Mas eu queria você.
Queria escrever nossos nomes na janela que usamos pra olhar o pôr-do-sol,
e te dizer que bolachas passatempo me lembraram o gosto da sua boca por muitos meses depois do nosso beijo.
Eu me lembro.
Da nossa última manhã.
Você de camisa azul,
e eu ainda era só eu.
Fui te dizer pra ficar, pra se atrasar pelo menos uma vez na vida,
ficar comigo,
mas me esqueci das palavras,
me esqueci onde a voz ficava guardada,
e você foi embora,
pra não voltar mais.
Eu me lembro.
Do nosso primeiro beijo, Vancouver,
meu Deus, foi tão exatamente o que deveria ser
e todo aquele papo de mitologia, de estrelas,
meus olhos fechados,
sua voz - cujo tom mal me lembro, infelizmente - me contando sobre a Via Láctea,
e
eu não me lembro do beijo em si,
mas foi mágico. (:
(Por que é que a gente brigava tanto, mesmo?)
Eu me lembro do cheiro de chuva
e do gosto do seu beijo
do seu jeito de falar comigo quando acha que estou chateada.
Eu me lembro da sua boca suja de sorvete.
E do seu suéter listrado, com cheiro de sabonete.
Você dançou comigo.
Dançamos, ao som de alguma música romântica, no fim da festa,
você bêbado,
eu te explicando algo,
provavelmente explicando porque é que nunca ficaríamos juntos.
Eu me lembro dos seus olhos.
Num recorte vivo do seu rosto,
do qual nem sempre me lembro por inteiro.
Eu te escrevi milhões de vezes, quase que obsessivamente,
pra te saber de cor,
mas nunca consegui.
Eu me lembro
de te ver olhando pro nada,
depois da nossa primeira briga,
e repetidamente depois de todas as outras.
Eu me lembro disso o tempo todo.
Não consigo fugir,
virar pro lado e dormir,
eu preciso pensar,
preciso me lembrar de vocês, de tudo o que houve,
de tudo o que fiz de errado.
Eu me lembro.
E, por mais que eu deseje que seja diferente dessa vez,
já sinto muito por você.
Não quero mais fazer isso,
não quero mais ouvir sobre a Via Láctea,
sair pra tomar sorvete,
trocar mensagens antes de dormir,
não quero mais que me segurem a mão quando formos atravessar a rua,
ou assistir filmes.
Fazer discursos,
ou explicar como eu sou.
Eu quero apagar as luzes,
eu quero me deitar
e me lembrar.
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mão suja de tinta da vida,
Memory Lane
32x15 Don't give it a name
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Eu estava sentada no chão do correio, quase 3 horas de espera, quando você chegou, quieto, silencioso, excêntrico
e invadiu meus pensamentos.
Eu podia ter te mandado embora. Ter te dito que estou confusa, e vazia, e que tem gente demais nessa história
mas não disse, não mandei, não fiz nada.
Eu deixei.
Às vezes, eu queria analisar isso,
colocar sob o microscópio,
entender.
discutir.
Mas não quero falar sobre isso.
Eu gosto de você.
Outro dia, muito tempo atrás,
senti vontade de pegar na sua mão.
Assim, do nada,
estávamos sentados, lado a lado, coisa mais natural do mundo,
eu encostei meu braço no teu, como quem não quer nada
e, como se você fosse uma garota bonita no cinema, eu quis segurar a tua mão.
Estendi os dedos na direção dos teus, você distraído, pensativo, tenso - com Deus sabe o quê -,
só nós dois numa multidão de estranhos
e eu
queria estar ali com você.
Percebi isso e fiquei surpresa, chocada, estarrecida --
Eu queria estar ali com você.
Tinha que ser você ali.
Antes, parecia muito natural,
só precisávamos sair, nos conhecer,
nos beijar,
talvez até mais do que isso.
E fim, cada um pro seu lado, pra viver sua própria vida e seguir em frente como bem entendesse.
Mas aí você me fez querer estar ali.
Olhei pra esse ângulo que a tua mandíbula faz, uns fios de barba por fazer, seu cabelo escurecendo o mundo todo ao redor e te deixando com cara de quem acabou de acordar - fazendo com que eu me perguntasse se você não tinha mesmo acabado de acordar, só pra estar ali -, pros teus dedos, pulsos ossudos,
E eu percebi
Que já gostava demais de você pra minha própria segurança.
Pra minha sanidade.
E eu não queria mais gostar de ninguém, entende?
Eu não queria mais me machucar,
eu não queria mais machucar ninguém.
Sentei no teu carro, tarde da noite,
e não estávamos mais a sós.
Tinha essa coisa, esse coisa enorme e disforme,
que eu tentava ignorar a todo custo.
Sei que fui estranha,
que ri alto demais,
e fiz piadas em excesso:
eu queria abafar o som dos meus pensamentos, que gritavam
"Beije-o".
Sinto muito por sair correndo,
por não me despedir direito.
Mas eu precisava ficar sozinha,
pra entender melhor, pra pensar,
pra ficar longe
e pra sufocar o que quer que aquilo fosse.
E eu o fiz.
Tão bem, mas tão bem,
que até mesmo eu acreditei que não existia absolutamente nada.
Que esse desconforto quando você vai embora era normal,
que essa minha mania de pensar em você primeiro,
que o fato de que seu nome não para de sair da minha boca quando fico nervosa
e essa minha quase obsessão com "não acho tanta graça nele"
não tem nada de normais.
Eu ainda gosto do Pégaso (que deveria ter um nome melhor do que esse, a essa altura dos acontecimentos, for God's sake).
Eu te disse isso,
deixei subentendido
naquele segundo em que você se aproximou de mim e eu agi feito uma maluca,
no jeito como eu fico em silêncio
sempre que me lembro que eu não tenho certeza do que está acontecendo entre a gente.
Mas tem um pensamento recorrente me assaltando,
escondido bem fundo,
tão pequenininho que eu nem ousaria expressá-lo em voz alta.
Mas ele tá aqui
me cutucando quando eu tento não olhar pra sua boca enquanto conversamos,
ou quando meu estômago revira porque você está ocupado,
me fazendo perguntas cuja resposta eu não sei.
- Qual é o gosto da sua boca?
- As pontas dos seus dedos são muito geladas?
- Qual é a textura da pele das suas costas?
- E a da pele das suas mãos?
- O cheiro dos seus cabelos,
do seu pescoço,
e mil outras partes do seu corpo, que permanecem secretas,
sagradas,
mesmo quando tento pensar nelas.
Eu não quero ter que pensar sobre isso.
Eu não quero saber o significado dessa coisa disforme, do elefante branco na sala quando a gente se senta sozinho,
ou da razão pela qual eu esqueço que o resto do mundo existe quando você aparece.
Eu me recuso. Não vou dar nome a essa sensação que você me causa.
Não sei o que é,
e nem quero saber.
Eu só quero ficar com ela,
acalentá-la nos dias ruins,
e pedir que ela faça silêncio quando estivermos juntos.
Mas, sabe o que é mais curioso?
Eu não ligo que você saiba que ela está lá.
Eu acho que você sabe que ela está lá. Nem mesmo me importa o que você faz para silenciá-la.
O que me assusta de verdade é pensar
que as outras pessoas também sabem.
Que elas sabem o nome disso,
desde muito antes de eu sequer saber que ela existia.
Eu não quero que o mundo saiba,
quero que ele acredite,
tanto quanto eu,
que isso não é nada,
tão desimportante e insignificante
que nem nome precisa ter.
Eu estava sentada no chão do correio, quase 3 horas de espera, quando você chegou, quieto, silencioso, excêntrico
e invadiu meus pensamentos.
Eu podia ter te mandado embora. Ter te dito que estou confusa, e vazia, e que tem gente demais nessa história
mas não disse, não mandei, não fiz nada.
Eu deixei.
Às vezes, eu queria analisar isso,
colocar sob o microscópio,
entender.
discutir.
Mas não quero falar sobre isso.
Eu gosto de você.
Outro dia, muito tempo atrás,
senti vontade de pegar na sua mão.
Assim, do nada,
estávamos sentados, lado a lado, coisa mais natural do mundo,
eu encostei meu braço no teu, como quem não quer nada
e, como se você fosse uma garota bonita no cinema, eu quis segurar a tua mão.
Estendi os dedos na direção dos teus, você distraído, pensativo, tenso - com Deus sabe o quê -,
só nós dois numa multidão de estranhos
e eu
queria estar ali com você.
Percebi isso e fiquei surpresa, chocada, estarrecida --
Eu queria estar ali com você.
Tinha que ser você ali.
Antes, parecia muito natural,
só precisávamos sair, nos conhecer,
nos beijar,
talvez até mais do que isso.
E fim, cada um pro seu lado, pra viver sua própria vida e seguir em frente como bem entendesse.
Mas aí você me fez querer estar ali.
Olhei pra esse ângulo que a tua mandíbula faz, uns fios de barba por fazer, seu cabelo escurecendo o mundo todo ao redor e te deixando com cara de quem acabou de acordar - fazendo com que eu me perguntasse se você não tinha mesmo acabado de acordar, só pra estar ali -, pros teus dedos, pulsos ossudos,
E eu percebi
Que já gostava demais de você pra minha própria segurança.
Pra minha sanidade.
E eu não queria mais gostar de ninguém, entende?
Eu não queria mais me machucar,
eu não queria mais machucar ninguém.
Sentei no teu carro, tarde da noite,
e não estávamos mais a sós.
Tinha essa coisa, esse coisa enorme e disforme,
que eu tentava ignorar a todo custo.
Sei que fui estranha,
que ri alto demais,
e fiz piadas em excesso:
eu queria abafar o som dos meus pensamentos, que gritavam
"Beije-o".
Sinto muito por sair correndo,
por não me despedir direito.
Mas eu precisava ficar sozinha,
pra entender melhor, pra pensar,
pra ficar longe
e pra sufocar o que quer que aquilo fosse.
E eu o fiz.
Tão bem, mas tão bem,
que até mesmo eu acreditei que não existia absolutamente nada.
Que esse desconforto quando você vai embora era normal,
que essa minha mania de pensar em você primeiro,
que o fato de que seu nome não para de sair da minha boca quando fico nervosa
e essa minha quase obsessão com "não acho tanta graça nele"
não tem nada de normais.
Eu ainda gosto do Pégaso (que deveria ter um nome melhor do que esse, a essa altura dos acontecimentos, for God's sake).
Eu te disse isso,
deixei subentendido
naquele segundo em que você se aproximou de mim e eu agi feito uma maluca,
no jeito como eu fico em silêncio
sempre que me lembro que eu não tenho certeza do que está acontecendo entre a gente.
Mas tem um pensamento recorrente me assaltando,
escondido bem fundo,
tão pequenininho que eu nem ousaria expressá-lo em voz alta.
Mas ele tá aqui
me cutucando quando eu tento não olhar pra sua boca enquanto conversamos,
ou quando meu estômago revira porque você está ocupado,
me fazendo perguntas cuja resposta eu não sei.
- Qual é o gosto da sua boca?
- As pontas dos seus dedos são muito geladas?
- Qual é a textura da pele das suas costas?
- E a da pele das suas mãos?
- O cheiro dos seus cabelos,
do seu pescoço,
e mil outras partes do seu corpo, que permanecem secretas,
sagradas,
mesmo quando tento pensar nelas.
Eu não quero ter que pensar sobre isso.
Eu não quero saber o significado dessa coisa disforme, do elefante branco na sala quando a gente se senta sozinho,
ou da razão pela qual eu esqueço que o resto do mundo existe quando você aparece.
Eu me recuso. Não vou dar nome a essa sensação que você me causa.
Não sei o que é,
e nem quero saber.
Eu só quero ficar com ela,
acalentá-la nos dias ruins,
e pedir que ela faça silêncio quando estivermos juntos.
Mas, sabe o que é mais curioso?
Eu não ligo que você saiba que ela está lá.
Eu acho que você sabe que ela está lá. Nem mesmo me importa o que você faz para silenciá-la.
O que me assusta de verdade é pensar
que as outras pessoas também sabem.
Que elas sabem o nome disso,
desde muito antes de eu sequer saber que ela existia.
Eu não quero que o mundo saiba,
quero que ele acredite,
tanto quanto eu,
que isso não é nada,
tão desimportante e insignificante
que nem nome precisa ter.
32x14 Coisas boas
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Ei, Lola.
É seu aniversário.
Não estamos nos falando, pra variar.
De uma maneira irremediável demais pra que eu simplesmente finja que nada aconteceu e escreva algum recado hiperemotivo na sua timeline.
De uma maneira irremediável demais até pra que eu pegue seu presente no guarda-roupa e te entregue.
Então, me enfiei na cozinha pra ouvir Ben Howard e pensar na vida. E deu vontade de escrever pra você algo que você nunca vai ler.
First things first:
Eu amo você.
Talvez você não saiba disso.
Porque eu nunca mais disse.
E porque provavelmente nunca mais direi, a não ser no meu leito de morte, ou sob os efeitos de muito álcool em uma festa de família num futuro altamente improvável.
Mas eu amo você,
da mesma maneira
e na mesma quantidade que te amei quando finalmente descobri que te amava, algo que me lembro de ter acontecido quando você ainda babava bastante e balbuciava algo que eu acreditava ser meu nome.
Eu te amo tanto, tanto, tanto
que posso até dizer que você é meu crush.
Que eu fico te amando em silêncio, tentando não demonstrar, sendo estúpida e irascível,
te ignorando,
e te confundindo - basicamente o que faço quando gosto muito de alguém.
Estamos ficando mais velhas,
mais distantes, talvez mais estúpidas, menos sinceras,
ficando cada vez mais na defensiva,
e isso é triste.
Eu não quero que a gente se afaste.
Não agora, não por causa disso.
Um dia, você vai perceber, vai olhar essa história com olhos novos, mais velhos,
e perceber que eu só quero o melhor pra você.
Quero que você seja forte, capaz de pensar por si mesma, cuidar de si mesma.
Quero evitar que você cometa os mesmos erros que eu.
Você é tão forte, tão diferente de mim.
E isso é incrível.
É lindo.
Você é linda. E fica mais linda, a cada ano que passa. Mais bonita e mais forte, mas mais dura,
mais difícil de se conhecer.
E isso me assusta.
Porque você é incrível. E eu quero que as pessoas saibam disso.
Eu quero que o mundo saiba disso.
E tenho medo de que você não deixe.
Quando eu tinha 17, vivi aventuras. Tinha acabado o colégio, vivido a mesma vida cheia de Brasília, tudo novo e incrível.
Eu quero que você viva aventuras também.
Mas sem precisar esconder.
Sem precisar arriscar coisas importantes por elas.
Um dia, eu espero que você entenda,
que eu não quero te prender,
eu quero que você seja quem quiser ser.
Mas também quero que você fique bem e, às vezes, isso envolve broncas e castigos aparentemente injustos.
Eu não gosto de ser assim, não quero ter que fazer isso, preferia ignorar as coisas e deixar passar.
Mas eu me importo demais pra fazer isso.
Eu me importo demais pra te deixar se machucar ou se prejudicar.
Eu amo você, sis.
Aconteça o que acontecer,
eu oro por você - mesmo não sabendo em que acreditar
e te desejo coisas boas o tempo todo,
que você volte sã e salva pra casa,
e que fique bem,
que seja feliz.
Com todo o amor que houver no mundo inteiro,
B.
Ei, Lola.
É seu aniversário.
Não estamos nos falando, pra variar.
De uma maneira irremediável demais pra que eu simplesmente finja que nada aconteceu e escreva algum recado hiperemotivo na sua timeline.
De uma maneira irremediável demais até pra que eu pegue seu presente no guarda-roupa e te entregue.
Então, me enfiei na cozinha pra ouvir Ben Howard e pensar na vida. E deu vontade de escrever pra você algo que você nunca vai ler.
First things first:
Eu amo você.
Talvez você não saiba disso.
Porque eu nunca mais disse.
E porque provavelmente nunca mais direi, a não ser no meu leito de morte, ou sob os efeitos de muito álcool em uma festa de família num futuro altamente improvável.
Mas eu amo você,
da mesma maneira
e na mesma quantidade que te amei quando finalmente descobri que te amava, algo que me lembro de ter acontecido quando você ainda babava bastante e balbuciava algo que eu acreditava ser meu nome.
Eu te amo tanto, tanto, tanto
que posso até dizer que você é meu crush.
Que eu fico te amando em silêncio, tentando não demonstrar, sendo estúpida e irascível,
te ignorando,
e te confundindo - basicamente o que faço quando gosto muito de alguém.
Estamos ficando mais velhas,
mais distantes, talvez mais estúpidas, menos sinceras,
ficando cada vez mais na defensiva,
e isso é triste.
Eu não quero que a gente se afaste.
Não agora, não por causa disso.
Um dia, você vai perceber, vai olhar essa história com olhos novos, mais velhos,
e perceber que eu só quero o melhor pra você.
Quero que você seja forte, capaz de pensar por si mesma, cuidar de si mesma.
Quero evitar que você cometa os mesmos erros que eu.
Você é tão forte, tão diferente de mim.
E isso é incrível.
É lindo.
Você é linda. E fica mais linda, a cada ano que passa. Mais bonita e mais forte, mas mais dura,
mais difícil de se conhecer.
E isso me assusta.
Porque você é incrível. E eu quero que as pessoas saibam disso.
Eu quero que o mundo saiba disso.
E tenho medo de que você não deixe.
Quando eu tinha 17, vivi aventuras. Tinha acabado o colégio, vivido a mesma vida cheia de Brasília, tudo novo e incrível.
Eu quero que você viva aventuras também.
Mas sem precisar esconder.
Sem precisar arriscar coisas importantes por elas.
Um dia, eu espero que você entenda,
que eu não quero te prender,
eu quero que você seja quem quiser ser.
Mas também quero que você fique bem e, às vezes, isso envolve broncas e castigos aparentemente injustos.
Eu não gosto de ser assim, não quero ter que fazer isso, preferia ignorar as coisas e deixar passar.
Mas eu me importo demais pra fazer isso.
Eu me importo demais pra te deixar se machucar ou se prejudicar.
Eu amo você, sis.
Aconteça o que acontecer,
eu oro por você - mesmo não sabendo em que acreditar
e te desejo coisas boas o tempo todo,
que você volte sã e salva pra casa,
e que fique bem,
que seja feliz.
Com todo o amor que houver no mundo inteiro,
B.
32x13 Daughters
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
- Seja uma boa menina,
disse a Fada Azul dos meus sonhos,
seja uma boa menina e você será uma menina de verdade.
E eu fui.
Eu juro que fui.
Eu nunca cortei os pulsos, refreando toda a vontade e jamais comprando as coisas certas. Eu não queria fazer sujeira demais. Alguém sempre precisa limpar.
Eu acordei cedo. E fui à escola.
Eu assisti às aulas.
E nunca precisaram chamar minha mãe. Porque ela não podia ir.
Eu nunca pedi nada grandioso ao meu pai. Porque ele não podia dar.
E eu nunca fiquei zangada por isso. Porque não era um direito meu.
Eu podia ter pego a chave. Eu podia ter tomado as pílulas, sem aviso prévio, sem atos grandiosos. Mas eu preferi esperar. Porque me disseram que algo melhor estava por vir. E eu escolhi acreditar nisso.
Eu nunca beijei uma garota. Porque eu não queria complicar as coisas, as pessoas não iriam gostar.
Eu estudei. Eu estudo. Não vejo objetivo algum, nenhum ponto. Mas faz as pessoas felizes. E fazê-las felizes me faz, bem, me deixa em paz.
Eu fui pra casa. Mesmo quando eu só queria ficar só e me encolher em uma bola de cobertas no chão da sala, envolvida pelo silêncio sepulcral dos fins de semana em Brasília. Porque ela precisa acreditar que eu ainda faço parte disso.
Eu disse as coisas certas às pessoas certas.
Eu fingi que gostei.
Eu disse a verdade, ou que era mais próximo disso.
Eu até me apaixonei e estraguei tudo, seguindo o padrão genético-cinematográfico esperado. Porque era adequado.
Eu nunca fiquei com garotos em carros até a idade adulta, como minha mãe mandou.
Nem tomei porres homéricos.
Eu fiz amigos. E eu não fui a melhor das amigas, mas não fui a pior. Porque as pessoas precisam de bons amigos. Porque as pessoas não podem me dar o que eu preciso.
Eu disse a ele que o amava. Eu acreditei nisso. Porque era necessário.
E eu vim aceitando, me sujeitando, e agindo feito uma heroína num romance de Jane Austen que finge ser Lisbeth Salander, sem saber quem eu sou.
Porque tenho medo do que eu sou.
Eu me sinto sufocar, afogar
por essa realidade
que nem parece de verdade.
E é tudo o que sinto.
E eu espero que seja suficiente,
porque eu não me sinto mais nada.
- Seja um boa menina, ela disse.
Eu tô tentando.
Fazer as coisas certas,
tomar as decisões certas.
Cuidar das pessoas certas.
Mas eu tô cansada.
De ser filha,
de ser amiga,
irmã.
mãe de mentira,
de estudar,
de tentar ser alguém na vida,
de tentar não deixar de ser quem eu sou,
de gostar,
e de não gostar mais.
Tô cansada das vozes na minha cabeça
e do silêncio das vozes que quero ouvir.
De fazer as coisas sem guia,
e de fazer as coisas que todo mundo me diz pra fazer.
Eu quero, Fada Azul, ser uma garota de verdade.
Mas eu juro que, em dias como esses,
sinto vontade de arrancar minha pele toda, pedaço por pedaço, arrancar tudo,
rasgar com os dentes e as unhas,
e mostrar pra todo mundo - talvez até pra mim
quem realmente sou.
- Seja uma boa menina,
disse a Fada Azul dos meus sonhos,
seja uma boa menina e você será uma menina de verdade.
E eu fui.
Eu juro que fui.
Eu nunca cortei os pulsos, refreando toda a vontade e jamais comprando as coisas certas. Eu não queria fazer sujeira demais. Alguém sempre precisa limpar.
Eu acordei cedo. E fui à escola.
Eu assisti às aulas.
E nunca precisaram chamar minha mãe. Porque ela não podia ir.
Eu nunca pedi nada grandioso ao meu pai. Porque ele não podia dar.
E eu nunca fiquei zangada por isso. Porque não era um direito meu.
Eu podia ter pego a chave. Eu podia ter tomado as pílulas, sem aviso prévio, sem atos grandiosos. Mas eu preferi esperar. Porque me disseram que algo melhor estava por vir. E eu escolhi acreditar nisso.
Eu nunca beijei uma garota. Porque eu não queria complicar as coisas, as pessoas não iriam gostar.
Eu estudei. Eu estudo. Não vejo objetivo algum, nenhum ponto. Mas faz as pessoas felizes. E fazê-las felizes me faz, bem, me deixa em paz.
Eu fui pra casa. Mesmo quando eu só queria ficar só e me encolher em uma bola de cobertas no chão da sala, envolvida pelo silêncio sepulcral dos fins de semana em Brasília. Porque ela precisa acreditar que eu ainda faço parte disso.
Eu disse as coisas certas às pessoas certas.
Eu fingi que gostei.
Eu disse a verdade, ou que era mais próximo disso.
Eu até me apaixonei e estraguei tudo, seguindo o padrão genético-cinematográfico esperado. Porque era adequado.
Eu nunca fiquei com garotos em carros até a idade adulta, como minha mãe mandou.
Nem tomei porres homéricos.
Eu fiz amigos. E eu não fui a melhor das amigas, mas não fui a pior. Porque as pessoas precisam de bons amigos. Porque as pessoas não podem me dar o que eu preciso.
Eu disse a ele que o amava. Eu acreditei nisso. Porque era necessário.
E eu vim aceitando, me sujeitando, e agindo feito uma heroína num romance de Jane Austen que finge ser Lisbeth Salander, sem saber quem eu sou.
Porque tenho medo do que eu sou.
Eu me sinto sufocar, afogar
por essa realidade
que nem parece de verdade.
E é tudo o que sinto.
E eu espero que seja suficiente,
porque eu não me sinto mais nada.
- Seja um boa menina, ela disse.
Eu tô tentando.
Fazer as coisas certas,
tomar as decisões certas.
Cuidar das pessoas certas.
Mas eu tô cansada.
De ser filha,
de ser amiga,
irmã.
mãe de mentira,
de estudar,
de tentar ser alguém na vida,
de tentar não deixar de ser quem eu sou,
de gostar,
e de não gostar mais.
Tô cansada das vozes na minha cabeça
e do silêncio das vozes que quero ouvir.
De fazer as coisas sem guia,
e de fazer as coisas que todo mundo me diz pra fazer.
Eu quero, Fada Azul, ser uma garota de verdade.
Mas eu juro que, em dias como esses,
sinto vontade de arrancar minha pele toda, pedaço por pedaço, arrancar tudo,
rasgar com os dentes e as unhas,
e mostrar pra todo mundo - talvez até pra mim
quem realmente sou.
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