Imagem: TingTing Huang
Eu me lembro.
Da primeira vez em que almoçamos juntos, do gosto da comida da sua mãe,
do fascínio que a simplicidade do ato de entrar no lugar onde você morava exerceu sobre mim.
Do seu moletom na primeira vez em que dormi no seu tapete.
Do cheiro do sabonete líquido de morango na sua pia.
Eu me lembro.
Do seu rosto, no centro da noite, parque da cidade,
quando eu te disse
que não podia te dar mais do que estava oferecendo.
Eu pensei que você me amasse,
e aquilo me deixou muito triste,
porque eu não te amava.
Eu me lembro.
Da primeira vez que quase disse que estava apaixonada por você,
acordei no final de Moonrise Kingdom,
e só queria dizer
e só queria que você dissesse,
mas eu não disse. E nem você.
Eu me lembro.
Do nosso primeiro encontro.
Saímos da rodoviária e você pegou na minha mão.
Eu tinha que voltar pra casa às 17:30, e você só queria ficar comigo, pelo tempo que desse.
Sua mão era gelada, e você não soltou a minha imediatamente quando chegamos ao outro lado da rua.
Você queria me mostrar o mundo, mas eu já tinha meu próprio mundo.
E não queria outro.
Mas eu queria você.
Queria escrever nossos nomes na janela que usamos pra olhar o pôr-do-sol,
e te dizer que bolachas passatempo me lembraram o gosto da sua boca por muitos meses depois do nosso beijo.
Eu me lembro.
Da nossa última manhã.
Você de camisa azul,
e eu ainda era só eu.
Fui te dizer pra ficar, pra se atrasar pelo menos uma vez na vida,
ficar comigo,
mas me esqueci das palavras,
me esqueci onde a voz ficava guardada,
e você foi embora,
pra não voltar mais.
Eu me lembro.
Do nosso primeiro beijo, Vancouver,
meu Deus, foi tão exatamente o que deveria ser
e todo aquele papo de mitologia, de estrelas,
meus olhos fechados,
sua voz - cujo tom mal me lembro, infelizmente - me contando sobre a Via Láctea,
e
eu não me lembro do beijo em si,
mas foi mágico. (:
(Por que é que a gente brigava tanto, mesmo?)
Eu me lembro do cheiro de chuva
e do gosto do seu beijo
do seu jeito de falar comigo quando acha que estou chateada.
Eu me lembro da sua boca suja de sorvete.
E do seu suéter listrado, com cheiro de sabonete.
Você dançou comigo.
Dançamos, ao som de alguma música romântica, no fim da festa,
você bêbado,
eu te explicando algo,
provavelmente explicando porque é que nunca ficaríamos juntos.
Eu me lembro dos seus olhos.
Num recorte vivo do seu rosto,
do qual nem sempre me lembro por inteiro.
Eu te escrevi milhões de vezes, quase que obsessivamente,
pra te saber de cor,
mas nunca consegui.
Eu me lembro
de te ver olhando pro nada,
depois da nossa primeira briga,
e repetidamente depois de todas as outras.
Eu me lembro disso o tempo todo.
Não consigo fugir,
virar pro lado e dormir,
eu preciso pensar,
preciso me lembrar de vocês, de tudo o que houve,
de tudo o que fiz de errado.
Eu me lembro.
E, por mais que eu deseje que seja diferente dessa vez,
já sinto muito por você.
Não quero mais fazer isso,
não quero mais ouvir sobre a Via Láctea,
sair pra tomar sorvete,
trocar mensagens antes de dormir,
não quero mais que me segurem a mão quando formos atravessar a rua,
ou assistir filmes.
Fazer discursos,
ou explicar como eu sou.
Eu quero apagar as luzes,
eu quero me deitar
e me lembrar.
32x16 Quando apago as luzes
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