Imagem: TingTing Huang
Preciso de pieguice.
Músicas de amor.
Filmes dos anos 90.
Eu sou pisciana, ora essa.
Mas também não quero que isso me defina.
Esqueço romance, me desapaixono, endureço a casca e trabalho o dia inteiro.
À noite, me exercito, medito.
Quando quero, beijo a boca de quem não amo, de quem não quero amar.
Não leio livros de amor.
Ou leio, e interpreto tudo da forma mais cínica possível.
Enxergo o relacionamento dos outros no maior aumento, com óleo de imersão e percebo que isso não é pra mim.
Eu acordo de manhã, planejo meu dia inteiro, passo a passo.
Chego em casa no fim de um dia cheio de vozes, de palavras difíceis,
olho as mensagens no celular e nenhuma delas me causa arrepios ou frio na barriga.
Eu leio meu livro e as cenas de amor são secas, então eu leio rápido, pra poder fazer outra coisa.
Assisto seriados e nenhum deles me comove.
Lavo meus cabelos, cuido da pele, faço exercícios, estudo, medito e durmo.
Assim, no piloto automático.
Mas existem esses pequenos momentos.
Depois de lavar o cabelo, enquanto passo pela cozinha, eu paro na frente da janela e me pergunto se isso é tudo.
Quando estou em um encontro, enquanto mexo o gelo no meu copo com um canudo, me pergunto se é assim que quero me senti pra sempre.
Pequenos momentos, pensamentos mínimos que espanto com as mãos.
Esse é um desses momentos:
Eu quero pieguice e não acho feio, não acho triste.
Não sou uma dessas garotas assim tão independentes do século XXI.
Quero cenas ao som de Sixpence None The Richter,
dançar com o mocinho no final do filme.
Eu não quero esse seu relacionamento moderno que envolve não nos envolvermos.
E nem quero começar um relacionamento e me apaixonar no decorrer dele.
Não quero ter que me acostumar.
Eu quero luzes e mais luzes de Coppolla, quero não parar de pensar em você, quero desenhar corações em folhas de papel avulsas, quero querer matar aulas pra te ver, quero a irresponsabilidade de se estar apaixonado.
Eu não quero um relacionamento adulto, quero promessas que você não pode cumprir.
Eu quero aquela cena final em que eu largo tudo pra correr atrás de você, quero te escrever poesias e detestar cada momento em que brigamos.
Eu quero olhar as estrelas. Eu quero sentir vontade de olhar as estrelas.
Eu quero uma única declaração de amor que valha por todas.
E rir do seu rosto, lembrar dele antes de dormir.
Quero uma música que seja nossa, uma só, pra guardar no bolso e levar por aí.
Eu não quero que você dê sentido a isso tudo, só quero que você faça parte disso tudo.
Quero Meg Ryan e Tom Hanks,
Ashley Judd e Hugh Jackman,
Molly Ringwald e Andrew McCarthy
Rachael Leigh Cook e Freddie Prinze Jr.
Drew Barrymore e Michael Vartan
Amanda Peterson e Patrick Dempsey
Julia Stiles e Heath Ledger
Julia Roberts e Harrison Ford - todas as vezes!
Meg Ryan e Hugh Jackman
Audrey Hepburn e Rex Harrison
Audrey Hepburn e Humphrey Bogart
Audrey e Fred Astaire
Debra Messing e Dermot Mulroney
Meg Ryan e Tim Robbins
Sandra Bullock e Hugh Grant
Sandra Bullock e Keanu Reeves
Sandra Bullock e Bill Pullman
Sandra Bullock e Aidan Quinn
Eu quero pieguice,
eu quero gostar de alguém que não tenha medo de dizer, de gritar - se preciso for -
porque eu não tenho mais medo de dizer - embora tenha medo de gostar.
Então não,
eu não quero seu relacionamento adulto.
Eu não quero suas migalhas,
eu não quero passar uma tarde legal,
eu não quero colocar relacionamento sério no Facebook
e não preciso de companhia para as sextas à noite,
não gosto tanto assim de dormir junto
e muito menos de acordar junto.
Não quero alguém pra escrever sobre, quero alguém pra não escrever sobre.
Quero sim, loucura, quero um vendaval, um furacão,
que é muito melhor do que essa forma de amor morta que você me oferece do teu lado da mesa.
Que é muito melhor do que aceitar alguém pra não viver mais só.
Eu já vivi sozinha estando junto e, deixa eu te dizer,
não é bom.
Você quer me ouvir falar, contar da vida,
mas eu não quero contar pra você.
E nem você quer saber
das minhas loucuras. Você só quer achar bonita essa excentricidade, e gostar de mim enquanto dá pra gostar de mim.
Mas não é isso o que eu quero.
Eu quero me perder. E me encontrar de novo.
Setembro tá chegando e eu tô com medo de me apaixonar por um idiota qualquer que vai me machucar.
Mas eu prefiro me apaixonar e me machucar
do que aceitar nunca mais sentir isso.
Essa estabilidade me deprime.
Esse romance cheio de etiquetas.
Sem necessidade de declarações, em que a gente sai e eu não me impressiono.
E te esqueço assim que fecho a porta atrás de mim.
Eu vou estudar, e ler, e escrever e planejar meus dias.
E esquecer a importância de toda essa pieguice.
Sair com você mais uma, duas, dez vezes até enjoarmos um do outro.
Mas aí, nesses momentos
vou parar na frente da janela,
olhar as estrelas
e pensar se a gente não merece mais do que isso,
se era mesmo pra ser assim.
Mais dia, menos dia
eu descubro a resposta.
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