32x15 Don't give it a name

Imagem: TingTing Huang

Eu estava sentada no chão do correio, quase 3 horas de espera, quando você chegou, quieto, silencioso, excêntrico
e invadiu meus pensamentos.

Eu podia ter te mandado embora. Ter te dito que estou confusa, e vazia, e que tem gente demais nessa história
mas não disse, não mandei, não fiz nada.
Eu deixei.

Às vezes, eu queria analisar isso,
colocar sob o microscópio,
entender.
discutir.
Mas não quero falar sobre isso.

Eu gosto de você.
Outro dia, muito tempo atrás,
senti vontade de pegar na sua mão.
Assim, do nada,
estávamos sentados, lado a lado, coisa mais natural do mundo,
eu encostei meu braço no teu, como quem não quer nada
e, como se você fosse uma garota bonita no cinema, eu quis segurar a tua mão.
Estendi os dedos na direção dos teus, você distraído, pensativo, tenso - com Deus sabe o quê -,
só nós dois numa multidão de estranhos
e eu
queria estar ali com você.

Percebi isso e fiquei surpresa, chocada, estarrecida --
Eu queria estar ali com você.
Tinha que ser você ali.

Antes, parecia muito natural,
só precisávamos sair, nos conhecer,
nos beijar,
talvez até mais do que isso.
E fim, cada um pro seu lado, pra viver sua própria vida e seguir em frente como bem entendesse.

Mas aí você me fez querer estar ali.
Olhei pra esse ângulo que a tua mandíbula faz, uns fios de barba por fazer, seu cabelo escurecendo o mundo todo ao redor e te deixando com cara de quem acabou de acordar - fazendo com que eu me perguntasse se você não tinha mesmo acabado de acordar, só pra estar ali -, pros teus dedos, pulsos ossudos,
E eu percebi
Que já gostava demais de você pra minha própria segurança.
Pra minha sanidade.
E eu não queria mais gostar de ninguém, entende?
Eu não queria mais me machucar,
eu não queria mais machucar ninguém.

Sentei no teu carro, tarde da noite,
e não estávamos mais a sós.
Tinha essa coisa, esse coisa enorme e disforme,
que eu tentava ignorar a todo custo.

Sei que fui estranha,
que ri alto demais,
e fiz piadas em excesso:
eu queria abafar o som dos meus pensamentos, que gritavam
"Beije-o".

Sinto muito por sair correndo,
por não me despedir direito.
Mas eu precisava ficar sozinha,
pra entender melhor, pra pensar,
pra ficar longe
e pra sufocar o que quer que aquilo fosse.

E eu o fiz.
Tão bem, mas tão bem,
que até mesmo eu acreditei que não existia absolutamente nada.
Que esse desconforto quando você vai embora era normal,
que essa minha mania de pensar em você primeiro,
que o fato de que seu nome não para de sair da minha boca quando fico nervosa
e essa minha quase obsessão com "não acho tanta graça nele"
não tem nada de normais.

Eu ainda gosto do Pégaso (que deveria ter um nome melhor do que esse, a essa altura dos acontecimentos, for God's sake).
Eu te disse isso,
deixei subentendido
naquele segundo em que você se aproximou de mim e eu agi feito uma maluca,
no jeito como eu fico em silêncio
sempre que me lembro que eu não tenho certeza do que está acontecendo entre a gente.

Mas tem um pensamento recorrente me assaltando,
escondido bem fundo,
tão pequenininho que eu nem ousaria expressá-lo em voz alta.
Mas ele tá aqui
me cutucando quando eu tento não olhar pra sua boca enquanto conversamos,
ou quando meu estômago revira porque você está ocupado,
me fazendo perguntas cuja resposta eu não sei.
- Qual é o gosto da sua boca?
- As pontas dos seus dedos são muito geladas?
- Qual é a textura da pele das suas costas?
- E a da pele das suas mãos?
- O cheiro dos seus cabelos,
do seu pescoço,
e mil outras partes do seu corpo, que permanecem secretas,
sagradas,
mesmo quando tento pensar nelas.

Eu não quero ter que pensar sobre isso.
Eu não quero saber o significado dessa coisa disforme, do elefante branco na sala quando a gente se senta sozinho,
ou da razão pela qual eu esqueço que o resto do mundo existe quando você aparece.
Eu me recuso. Não vou dar nome a essa sensação que você me causa.
Não sei o que é,
e nem quero saber.
Eu só quero ficar com ela,
acalentá-la nos dias ruins,
e pedir que ela faça silêncio quando estivermos juntos.

Mas, sabe o que é mais curioso?
Eu não ligo que você saiba que ela está lá.
Eu acho que você sabe que ela está lá. Nem mesmo me importa o que você faz para silenciá-la.

O que me assusta de verdade é pensar
que as outras pessoas também sabem.
Que elas sabem o nome disso,
desde muito antes de eu sequer saber que ela existia.

Eu não quero que o mundo saiba,
quero que ele acredite,
tanto quanto eu,
que isso não é nada,
tão desimportante e insignificante

que nem nome precisa ter.

1 comentários:

Renata disse...

oi, eu vim daqui
http://doisblog.blogspot.com.br/

(mas to penando pra conseguir minha conta antiga no google)

então vim dizer que lembrei de vc, e tb espero de coração que você esteja bem, onde quer que esteja