Imagem: TingTing Huang
Tecido fino e transparente. Diáfano.
Tecido dos sonhos.
O que os sonhos dizem? Que histórias contam por trás das histórias absurdas, as cores e a falta de som, homens que falam sem mover os lábios, espíritos, estranhos, defuntos.
Cores verde-escuras, nuvens, sua boca.
O barulho do despertador que me acorda de bexiga cheia.
Eu te amo?
O sonho queima as bordas da realidade, queima meus dedos que eu retiro por reflexo quando toco em você.
Você queima, forma bolhas de líquido viscoso que cheiram a algodão doce.
Elas estouram, sem doer. Infectam.
Faço febre.
Não durmo, sinto meu corpo queimar, em chamas, escaldadura, eletricidade de alta tensão, brigadeiro, thinner, asfalto quente, deixando sequelas, imprevisível.
Bebo água. Sinto medo por meu corpo e do líquido que foge dos espaços certos.
Dentro de mim, maremotos; por horas e horas até a maré acalmar, o sol se por.
Sonho com seu corpo. Liso, leve. Não é normal, não é humano, é feito do mesmo pó de que viemos, mas não somos o mesmo.
Você constrói destruindo, criando em mim uma armadura, carapaça, me rasga pra me endurecer, repuxa meus olhos, boca, cada articulação até que eu mal consiga me mover. Até que eu me curve.
Me rói pelas beiradas, sem aviso prévio.
Me marca sem previsão de alta, sem prognóstico.
E me cura com pós, espuma, pano, pomadas, beberagens, palavras mágicas, malhas.
Apenas pra me queimar de novo.
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