Imagem: TingTing Huang
Ele me pede pra andar na faixa branca que divide a pista, sem perder o equilíbrio.
E eu consigo, eu sei que consigo.
Nunca estive tão estável, eu nunca fui tão equilibrada.
Tá tudo bem, agora eu sei quem eu sou, eu sei o que eu quero.
Eu estou exatamente onde eu deveria estar.
Ele me importuna, grita, sem fazer muito sentido, e cai na risada: quer ver se eu consigo andar em linha reta sem cair.
Mas e se eu cair?
Não tem problema, me tranquilizo.
É só uma linha no asfalto.
Só uma linha.
Se eu cair, talvez nem me machuque.
Mas eu não vou cair.
Por que cairia?
Estou sóbria. Estou sã.
Ele ri.
E eu não reconheço essa risada.
E eu reconheço essa risada.
- Anda, quero ver. Até o final da rua.
Mas a rua é longa demais, a noite escura demais, minhas pernas tão curtas, meus cotovelos tão ossudos, ossos tão frágeis, tão frio aqui fora, e tão sem sentido estar aqui.
- Por que estamos aqui? - pergunto a ele.
Ele dá de ombros.
- Você disse que conseguia, sem sombra de dúvida, andar na linha. Então, prove.
- E se eu provar? O que eu ganho?
Ele não responde. Inclina a cabeça pro lado e me encara, pensativo.
- O que você quer ganhar? O que você está tentando ganhar?
Eu não sei.
Eu não faço a menor ideia, mesmo agora.
Ainda assim, me coloco em posição. Um pé, depois o outro.
Ando na linha, sou capaz de andar na linha, de chegar ao final.
O que eu quero ganhar?
Vou pensando no caminho.
Eu te digo, quando chegar ao final.