Early Cuts: Vamos embora

 

Imagem: TingTing Huang


Caro Otto,

Vamos embora. Estarei te esperando, às 7h30 da manhã, sob a garoa fina.

O ônibus das 7h20 quase nunca se atrasa. E eu já estarei lá quando ele passar. 

Regata, saia
Façamos uma mala pequena, levemos pouco.
Escova de dentes, não me esqueço. Papel e canetas. E pijamas.
Posso deixar as mágoas pra trás? E as meias sujas, paixões antigas.
Quero levar uma goiaba pra comer no caminho. 

Vamos embora. Tenho comigo um tanto de dinheiro e uma blusa de frio antiga, furada. 

Otto, vamos embora. Palavras sinceras de quem já não se reconhece no que faz. Você dorme, eu dirijo.
Você dirige, eu durmo.
No intervalo dos desencontros, conversamos.
Você me conta sobre sua vida, uma mulher. Sinto ciúmes, mas sinto carinho, alívio. Tá tudo bem.
Sonho com a comida de beira de estrada, em algum ponto você para pra que eu vomite. 

Vamos embora, e já é noite na estrada, uma estrela única no céu pra fazer pedidos que nunca são atendidos até ser tarde demais.
Eu até já pedi por você.

"Você já pediu por mim?", eu pergunto, e você sorri, enquanto me leva pra casa, pra ele, o calor do homem que eu amo. 

Vamos embora. 

Vamos embora.

Vamos embora. 

Vamos embora. 

Meu corpo pede. Meu coração pede.


Tô esperando o quê? 

Talvez você, Otto, possa me responder. 


Vamos embora. 

Estarei esperando. 


Com amor, 

B.

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