45x04 Unsteady

 

Imagem: TingTing Huang

Ele me pede pra andar na faixa branca que divide a pista, sem perder o equilíbrio. 

E eu consigo, eu sei que consigo. 

Nunca estive tão estável, eu nunca fui tão equilibrada. 

Tá tudo bem, agora eu sei quem eu sou, eu sei o que eu quero. 
Eu estou exatamente onde eu deveria estar. 

Ele me importuna, grita, sem fazer muito sentido, e cai na risada: quer ver se eu consigo andar em linha reta sem cair. 

Mas e se eu cair? 

Não tem problema, me tranquilizo.
É só uma linha no asfalto. 
Só uma linha. 

Se eu cair, talvez nem me machuque. 
Mas eu não vou cair. 
Por que cairia? 

Estou sóbria. Estou sã. 
Ele ri. 

E eu não reconheço essa risada.
E eu reconheço essa risada. 

- Anda, quero ver. Até o final da rua. 

Mas a rua é longa demais, a noite escura demais, minhas pernas tão curtas, meus cotovelos tão ossudos, ossos tão frágeis, tão frio aqui fora, e tão sem sentido estar aqui. 

- Por que estamos aqui? - pergunto a ele. 
Ele dá de ombros. 
- Você disse que conseguia, sem sombra de dúvida, andar na linha. Então, prove. 

- E se eu provar? O que eu ganho?

Ele não responde. Inclina a cabeça pro lado e me encara, pensativo. 

- O que você quer ganhar? O que você está tentando ganhar?


Eu não sei. 
Eu não faço a menor ideia, mesmo agora. 

Ainda assim, me coloco em posição. Um pé, depois o outro. 
Ando na linha, sou capaz de andar na linha, de chegar ao final. 

O que eu quero ganhar? 

Vou pensando no caminho. 
Eu te digo, quando chegar ao final. 

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