Imagem: TingTing Huang
Sorrio, através da mesa.
"Eu te amo", penso.
Mas não digo, não digo nunca.
Comento sobre a comida, o tempo, um filme.
Você assina com sangue o contrato não verbal de jamais dizer que sim, e diz que está pensando em viajar.
Eu comento sobre uma nova coleção de agasalhos, conchas diminutas de praia, uma piada antiga, e me dá uma vontade imensa de pegar na tua mão.
Você quase me toca, por pouco, arrepia, mas disfarça, apontando para o cartão que deixei cair.
Tomo um gole da sua coca-cola e quase sinto o gosto do seu beijo. Engasgo.
Você ri da minha confusão, me dá um tapinha e seu coração dispara, feito cavalo de corrida.
Te abraço na saída e te solto um segundo antes, mesmo querendo ficar por horas escondida no seu peito.
Você me dá tchau e entra no carro, todas as músicas são nossas, a noite é nossa, o cheiro dos meus cabelos invade as suas narinas e você abre as janelas pra não sufocar.
Eu deito na cama e não durmo, eu tremo.
Em outro universo, outro travesseiro, você pega o celular 100 vezes pra me mandar mensagem, pra quebrar o contrato, pra dizer finalmente que
"Chegou bem??", brilha, na tela, a mensagem que eu, insone, enviei.
"Sim :)"
Nas entrelinhas, sim quer dizer tudo o que só pode ser dito no escuro?
Boa noite, eu digito, pra não dizer que preciso do seu corpo aqui, agora, pega sua roupa, sua mala, sua escova de dentes, sua ---
"Boa noite"
Encaramos o celular, esperando mais, mais o quê?
Só é preciso uma fagulha, um sinal, uma mensagem mística, uma mensagem por engano, me mostra que não tô ficando doido, me mostra que não vou me magoar, me mostra que não vou estragar tudo.
É só uma questão de propulsão
Talvez seja essa a hora, talvez seja hoje, talvez
Não era.
Dormimos, mais uma vez, deixando o contrato intacto.
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