Imagem: TingTing Huang
Eu sou uma mulher negra.
Negra, de pele clara.
Calma lá, não se exalte.
Negra.
Como eu sei?
Existo, às vezes, em um não-lugar, não posso me sentar no banco do branco e, às vezes, nem no banco do preto (isso quando o preto pode sentar).
Acesso lugares que ninguém acessa, não lugares.
Nunca sou branca, mas, às vezes, dizem que não sou preta.
Eu sou o quê?
Minha vivência é só minha.
Eu sei quem eu sou, porque a minha história é.
Existe.
Meus pais, minha família, as tentativas infinitas e doloridas de embranquecimento de peles e cabelos e narizes e genes e descendentes, o dito pelo não dito.
Como eu posso explicar e comprovar quem eu vejo no espelho, quem fala pela minha boca e dorme e acorda no meu colchão?
Invado lugares e piso em cacos e sento em bancos e sou continuamente relegada a um não lugar.
Que é um lugar.
Solitário e doído, à sua maneira.
Entre os bancos, puxo uma banqueta e sento.
Tem mais gente que se sente assim.
Tem que ter.
Tem que ter.
Espero.
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