47x02 Afraid to be the greatest

 

Imagem: TingTing Huang

Não consigo.
Duas palavras que pesam uma tonelada. 

Não consigo ser quem eu sou. 
Não sei ser quem eu sou. 

Começa insidioso, um sussurro, uma ideia pequena e infeliz. 

Cresce, morde meus sonhos, faz com que eu me esconda em você. 

Sensação terrível, que se alimenta das horas do dia e da minha imagem no espelho. 
Desconstroi e não me deixa juntar as peças. 

Pequena e infeliz, tudo me assusta. 
Finjo. 
Começo a fingir, pra ver se acredito. 

A cabeça explode com a pressão do grito e do choro contidos que eu não sei de onde vem, eu não sei nomear. 
Eu tenho medo de reconhecer. 

Sinto como se fosse o desenho de uma silhueta. Oca. Despropositada. 
Um desenho cinza de uma pessoa cinza. 

Já houve eras em que senti que tinha mil anos. 
Essa sensação é diferente.
Quase sinto como se nem tivesse nascido ainda. 

Crua e nua, flutuando em líquido, ou gás. 
Ou presa na solidez dos dias, que se apresenta como um calor seco, entra pelas narinas e circula, por dentro e por fora, como se eu fosse nada. 
Como se eu fosse tudo. 

Sinto até um certo conforto, por breves segundos. Depois, só pavor.
Nem medo, pavor. 
Como uma criança olhando debaixo da cama e descobrindo o bicho-papão, o Coríntio. 
Como se eu não estivesse segura nunca. 
Como se eu não pudesse dormir. 


Como se ele estivesse não apenas debaixo da cama, mas em todos os lugares. Debaixo da mesa, armários. 
Nos rostos. 
Como se todos os dias eu acordasse envolvida no abraço apertado do meu próprio pesadelo psíquico, uma criatura mágica, que só desaparece se eu lhe der nome. 

E que, 
se eu errar,

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