Imagem: TingTing Huang
Tudo o que te atravessa importa.
Tudo o que eu ponho sob os holofotes, no centro da dor do mundo, importa.
Um céu cor de rosa enjoativo, cabana de madeira, binóculos.
Fujo de casa, pro meio do nada, cidade sem praia, em busca de feras e aventuras, bestas e rãs.
E te encontro, no meio do caminho pra não-sei-aonde.
Apertamos as mãos, pactos com cuspe, e até andamos de mãos dadas.
Pegamos girinos em potes e até lutamos contra inimigos (imaginários ou não), demos nomes às estrelas, capturamos insetos e conchas, pregamos peças e fizemos pactos de silêncio e de riso e de sei lá o quê.
Mas sei lá o que houve, puberdade, ou talvez sua medicação tenha feito efeito. Outro dia, dia desses, a gente fazia pactos cuspindo nas mãos, no outro dia você tinha nojo de saliva, no outro me dizia pra não ser como sempre fui.
Jogou de volta na água os girinos, passou a se interessar por borboletas e outras narrativas menos fantasiosas, e a se irritar com o som da minha voz infantil.
Eu ainda te contava os meus sonhos, mas você dormia antes que eu terminasse as histórias.
Um dia, eu acordei no meio da noite pra revezar quem ficaria de guarda no nosso forte de madeira.
Chamei o seu nome no escuro, mas você nunca veio.
Não chorei.
Não foi a primeira vez que aconteceu.
No dia seguinte, o céu ainda tinha aquele tom cor de rosa-enjoativo, os girinos estavam na água, o forte ainda precisava de vigia.
Havia muito o que fazer, pouco tempo para lamentar.
Em retrospecto, agora já adulta, penso que deveria ter lamentado.
Que, talvez, deva lamentar agora.
Mas hoje não.
Não tenho tempo.
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