33x02 Are you hurting the one you love


Imagem: TingTing Huang

Manhã fria, clara, acordo primeiro de um sono intranquilo de poucas horas de duração.
Olho tua porta, fechada, eternamente fechada. Ignoro.
Tomo banho, molho os cabelos de couve-flor, eu tenho um longo dia pela frente.
Tranco a porta, confiro a tranca: quero que você esteja segura quando eu voltar.
Dirijo pra uma manhã tediosa, furando o tempo, o céu e minha vontade de ficar debaixo das cobertas: preciso ser boa o bastante pra todas nós.
E me sento, estudo, durmo, acordo, falo.
Chego em casa, almoço pronto, escolho os pedaços menores e me sento pra comer sozinha, enquanto você se esconde de mim.
Dentro de casa, o teu silêncio grita, e eu aceito, muda, ensurdeço, sem tapar os ouvidos.
Fico lá, sentada, comendo, aceitando tua rejeição muda e sabendo que você só vai sair do quarto quando eu sair de casa.
Não me sinto mais em casa. Engulo a comida, saio cedo. Fico até tarde na faculdade.
às vezes, digo até logo. Às vezes, nem isso.
Mas sempre espero que, ao chegar, você fale comigo.

Chego e você não fala, me olha com raiva, me responde com monossílabos.
Tenho ânsias de te sacudir,
te mandar embora,
gritar,
quebrar coisas

tudo passageiro, coisa de segundo, levanto a voz e esse ódio nos teus olhos me desarma.
Não quero brigar, não vou brigar.
Tô cansada, muito cansada, meu corpo dói, e eu só quero sua voz.
Eu só quero te contar da vida, e comer do seu lado em silêncio.
E tô morrendo de medo de que isso nunca mais aconteça.
Mas eu realmente acredito que tô fazendo a coisa certa por você.
E eu não desisto de você, nunca.

Mas olha,
não desista de mim também.

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