41x16 Down the drain

Imagem: Ting Ting Huang

Sonho que me afogo.

A água fria me abraça, eu afundo e não me debato: estou cansada.

Algo em mim, força vital, leoa, pantera de Rilke, se debate por detrás dos olhos, debaixo da pele, mas meu corpo, minha casa, meu cavalo, meu cão de caça, minha prisão me impede de me mover.

Meu corpo quer morrer.

Ele me diz que se cansou.
Da luta, do novo, da tristeza humana e da dor.
Mas eu não quero morrer.

Arranho as paredes da minha cela, eu não quero morrer.

Eu quero viver.
Quero acordar cedo e dançar a música do universo, deitar ao lado do homem que eu amo e dormir com o braço dele ao redor da minha cintura.

Eu quero viver pra superar dificuldades e ganhar.
Quero doces, salgados, chili, milho e massa.
Quero me apaixonar todos os dias por algo novo e secreto, como o gosto de azeite com batatas e pão com manteiga.

Quero ver crescimento e mudança, o natal e meu primeiro filho.

Mas meu corpo adormece e apaga de mim as memórias, desejos, sonhos e eu durmo,
afundo, lentamente,
enquanto meus últimos grãos de sanidade gritam
que eu acorde.

E eu acordo.

Eu acordo, e estou viva.

Mas a sensação não passou.
Afundo.
Eu quero viver,
mas meu corpo --

Como eu acordo
quando já estou acordada?

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