Imagem: TingTing Huang
Adéquo minha expressão facial: a história é triste.
Deixo meus lábios caírem, ajusto a gravidade do olhar, relaxo os ombros.
- Você não é humana, sussurra a mulher que vive em meus ombros - todo mundo sabe.
"A B é tímida"
"Séria"
"Quieta"
"Quieta nada haha"
Ela não é humana, ela sussurra, rouca, febril, suor gelado escorrendo sobre minhas costas.
Chego em casa, tomo um remédio mágico e ela some, mas meu coração continua apertado e eu não consigo pensar ou reagir.
Esqueço como se sorri.
Minha boca fala e meu coração nega tudo, sussurra coisas incompreensíveis, muda de assunto e me leva a crer que ele não sabe de nada, mas aí eu não tenho em quem confiar porque a cabeça silencia, bloqueia, entra em parafuso, desliga o interruptor e eu não sei mais pensar que isso é passageiro e eu posso melhorar, que isso é só o ponto baixo de uma história longitudinal.
E eu fico em silêncio, cega, muda, preciso saber pra onde ir, então me ajoelho pra que ela suba nas minhas costas, arranco a mordaça e ela fala, jorra lama escura sobre os meus dias, morde o meu rosto e me diz que não sou humana, me conta segredos sobre mim e sobre meu futuro, como as moiras, mas seus segredos penetram minha pele e rasgam tudo, dilaceram carne e derramam sangue até não sobrar mais nada.
E só então ela desce das minhas costas, forte, jovem e me olha nos olhos.
E então ela não precisa dizer mais nada.
Em situações como essas, palavras se tornam desnecessárias.
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