Imagem: TingTing Huang
Ele estava
cansado. Tinha sido um dia difícil.
Bebeu água, comeu um pedaço de pão, quis morrer,
uma semente cinzenta brotando na terra fértil da mente, ínfima, absurda, erva-daninha no meio do jardim, ele se surpreendeu e
regou-a.
Só daquela vez, só pra ver.
Sentiu prazer.
E culpa.
Pisoteou a ideia, afastou-se, tomou um banho longo e quente, trocou de roupa, quis morrer.
Escreveu uma carta para a mãe.
Desculpe.
A verdade é que sentia muito.
Demais até.
Escovou os dentes e deitou-se. Fechou os olhos e imaginou, só por um milésimo de segundo ou talvez por umas 3 horas, como seria mais fácil se estivesse--
Se não estivesse.
Se não fosse.
Dormiu.
E acordou, infelizmente, quero dizer, acordou.
Sorriu, penteou os cabelos,
deu risada,
beijou a boca de uma mulher de cabelos cheirosos, seu pescoço, seus seios,
e quis morrer, mas só um pouco, talvez um pouco menos, era o que esperava.
voltou pra casa com o gosto dela na boca,
amou e foi amado,
bebeu suco de uva, industrializado, de caixinha,
sentiu vontade de comer pipoca,
sentiu saudade de quando comia pipoca à tarde, depois da escola,
e quis, desesperadamente, morrer.
Nesse dia, sentiu medo.
considerou contar a alguém, mas
era só uma ideia,
um pensamento intrusivo, lépido, frágil, que some depois de
que some quando
ia passar logo,
só um fase,
altos e baixos, coisa e tal,
cortou as unhas,
amarrou os cadarços,
procurou as chaves,
quis morrer,
e achou natural,
adequado,
certo,
como 2 e 2 são 4.
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